Yanomami: Forças Armadas não entregaram 85% das cestas

Yanomami: Forças Armadas não entregaram 85% das cestas

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Desde o dia 2 de fevereiro, as Forças Armadas reacionárias deixaram de entregar 85% das cestas básicas. As forças foram designadas para dar apoio logístico em caráter de emergência à situação calamitosa dos Yanomamis em Roraima. Funai fez pedido para envio de 4.904 cestas para 243 comunidades, mas os militares só entregaram 761 cestas. A denúncia é do The Intercept Brasil.

As cestas já estão em galpões da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, órgão do Ministério da Agricultura, em Boa Vista, sendo a única função dos militares utilizar do vasto aparato logístico disponível para fazê-las chegar às comunidades.

Questionado pela reportagem do Intercept, o ministério da Defesa afirmou que estão “mobilizando, atualmente, 15 aeronaves e cerca de 500 militares no atendimento emergencial aos indígenas e no enfrentamento ao garimpo ilegal, em Roraima”, e que “não haviam mais cestas a serem transportadas”. No entanto, segundo a reportagem, “fontes ouvidas desmentem essa informação”. “Nossa apuração também contradiz a resposta do Ministério da Defesa, com fotos que mostram as cestas empilhadas no galpão da Conab, ainda aguardando para serem distribuídas. Essas cestas são armazenadas e transportadas pela Conab até as Forças Armadas”, afirma a reportagem do Intercept.

Qual é a dificuldade das Forças Armadas?

As contradições na versão do ministério da Defesa e das Forças Armadas confluem com as suspeitas de conivência, dos militares, com o avanço do garimpo ilegal na Amazônia, em especial, nas terras Yanomami.

Em 2019, o general da reserva Hamilton Mourão, à época vice-presidente da república, recebeu o fundador da União Nacional dos Garimpeiros (UNG) e atual presidente da Fundação Instituto de Meio Ambiente e Migração da Amazônia (Finama) José Altino Machado. Conhecido como “rei do garimpo”, Machado é responsável pelas três maiores invasões de garimpeiros nas regiões de Xitei e Surucucu na TI Yanomami nos anos 1970, 1980 e 1990. O encontro, que serviu para desimpedir os entraves jurídicos que restam para impulsionar o agronegócio, especialmente a grande mineração, na região da Amazônia Legal, foi caracterizado por José Altino como “muito proveitoso”: “Eu fiz uma proposta, que ele [Mourão] achou interessante. Apresentei a ideia de criar responsabilidades mútuas no Brasil. Nós ficamos com a responsabilidade de tomar conta do trabalho que nós temos na Amazônia, enquanto o governo assume a responsabilidade de administrar. Não tem cabimento um pedido de licença ambiental ficar pendente por mais três anos no governo. Essa questão da morosidade não pode acontecer. Ele entendeu tudo e se colocou à disposição para nos ajudar”, disse. 

Em setembro de 2019, José Altino participou de uma audiência na Câmara ao lado de Alexandre Vidigal, do Ministério de Minas e Energia (MME), Eduardo Leão, da Agência Nacional de Mineração (ANM) e Dirceu Santos Sobrinho, da Associação Nacional do Ouro (Anoro). No mesmo mês, Dirceu e Altino se reuniram também com o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o general Augusto Heleno e Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Em junho de 2020, Mourão, José Altino, Dirceu Sobrinho e Euclydes Pettersen (PSC-MG) se reuniram novamente em Brasília, e depois, em 2021, mais um encontro foi registrado, desta vez somente entre Mourão, José Altino e Dirceu.

Enquanto isso, a situação dos Yanomami, como denunciou o AND, é calamitosa. Segundo o procurador do Ministério Público Federal (MPF) de Roraima, Alisson Marugal, a subnutrição de crianças Yanomamis e a fome nas aldeias é uma “situação histórica”: “A crise era crônica, e pouco havia sido feito para enfrentá-la. O que vimos nos últimos anos é o falecimento das crianças por causas conectadas com a subnutrição, geralmente doenças associadas, como malária, diarreia, verminose, doenças oportunistas que se instalam em um corpo debilitado”.

O procurador também afirma que, onde há presença do garimpo, os indígenas deixam de produzir suas próprias roças: “Toda fonte alimentar passa a ser o garimpo, e o garimpo destrói os recursos ambientais, não existe mais o rio para pesca. Os serviços de saúde começam a se deteriorar. Doenças simples começam a se agravar”.

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