Um indígena da etnia Guajajara, Jone Canaré Guajajara, e um camponês foram baleados na noite do dia 23 de fevereiro. O atentado ocorreu na aldeia Toarizinho, na Terra Indígena (TI) Arariboia, em Arame (MA). O indígena era filho do cacique Tomazinho Guajajara.
Até o momento, sabe-se que as vítimas foram levadas, em estado grave, para um hospital próximo ao território e estão sob cuidados médicos. As informações são do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Maranhão.
O caso é o sexto ataque contra os indígenas da região desde o início de 2023. A floresta amazônica maranhense é palco de um intenso conflito agrário envolvendo grileiros, mineradoras, grandes madeireiros e máfias de garimpeiros (todos financiados e organizados por grandes latifundiários) e camponeses e os povos Guajajara, Awá-Guajá e Kaapor.
Ao Cimi – Regional Maranhão, uma indígena denunciou o aumento de violência dentro e ao redor do território: “O que está acontecendo nessa região é um genocídio. Está muito violento, muito perigoso para todos nós, principalmente em Arame”.
Região registrou seis ataques contra indígenas desde o início do ano
Em 2023, de 9 de janeiro a 23/02, seis ataques ocorreram nas redondezas da TI Arariboia.
No madrugada do dia 09/01, dois jovens Guajajara da TI Arariboia, Benedito Gregório Soares Guajajara, de 18 anos, e Juninho Guajajara, de 16 anos, foram baleados na cabeça por homens que estavam em um carro preto não identificado quando voltavam de uma festa. O atentado ocorreu na Aldeia Maranuí, localizada entre as cidades de Arame e Grajaú, no interior do Maranhão. Os jovens foram levados em estado grave para o Hospital Regional de Grajaú, cidade a 580 km de São Luís. Segundo a entidade, os dois indígenas estão se recuperando em casa.
No dia 24/01 José Inácio Guajajara, de 46 anos, foi encontrado morto com marcas de violência pelo corpo às margens da BR-226, próximo à TI Cana Brava, no município de Grajaú. No entanto, de acordo com o Instituto de Medicina Legal (IML), o indígena morreu em “decorrência de causas naturais”.
Trẽs dias depois, no dia 28/01, Valdemar Marciano Guajajara, de 45 anos, foi encontrado morto na cidade de Amarante do Maranhão, que fica a cerca de 637 quilômetros da capital São Luís e faz divisa com a TI Arariboia. A regional do Maranhão do Cimi disse que o indígena da aldeia Nova Viana foi encontrado com marcas “que indicam que ele tenha sido brutalmente assassinado”.
Já no dia 31/01, o trabalhador Raimundo Ribeiro da Silva, de 57 anos, foi assassinado a tiros na aldeia Abraão, localizada na TI Arariboia. Raimundo era casado com uma indígena Guajajara e cumpria a função de motorista do Polo da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), no município de Arame.
Além desses casos, os Guardiões da Floresta (grupo conformado pelos povos Guajajara, Awá-Guajá e Kaapor em 2007 para proteger as terras indígenas) da TI Arariboia encontraram, no dia 05/01 deste ano, a sepultura de um indígena na mata, na região da aldeia Jenipapo, no município de Bom Jesus das Selvas. Tratava-se de um indígena Awá em isolamento voluntário. Não foi possível constatar a causa da morte nem há quanto tempo ela ocorreu.
Entre 2003 e 2021, a plataforma Caci, que mapeia os casos sistematizados pelo relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi, registra 50 assassinatos de indígenas do povo Guajajara no Maranhão; destes, 21 eram indígenas da TI Arariboia.