MA: Indígenas guajajara de 12 e 15 anos são baleados na cabeça

Dois indígenas da etnia guajajara da Terra Indígena (TI) Arariboia, Benedito Gregório Soares Guajajara, de 15 anos, e Juninho Guajajara, de 12 anos, foram baleados na cabeça na madrugada do dia 9 de janeiro.

MA: Indígenas guajajara de 12 e 15 anos são baleados na cabeça

Dois indígenas da etnia guajajara da Terra Indígena (TI) Arariboia, Benedito Gregório Soares Guajajara, de 15 anos, e Juninho Guajajara, de 12 anos, foram baleados na cabeça na madrugada do dia 9 de janeiro.
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Dois indígenas da etnia guajajara da Terra Indígena (TI) Arariboia, Benedito Gregório Soares Guajajara, de 15 anos, e Juninho Guajajara, de 12 anos, foram baleados na cabeça na madrugada do dia 9 de janeiro. O atentado ocorreu na Aldeia Maranuí, localizada entre as cidades de Arame e Grajaú, no interior do Maranhão. Segundo os indígenas da região, os jovens saíam de uma festa, na Aldeia Tiririca, quando foram baleados por homens que estavam em um carro preto não identificado. Os jovens foram levados em estado grave para o Hospital Regional de Grajaú, cidade a 580 km de São Luís.

REGIÃO É PALCO DE CRIMES DO LATIFÚNDIO

A região da floresta amazônica maranhense é palco de um intenso conflito agrário envolvendo grileiros, mineradoras, grandes madeireiros e máfias de garimpeiros (todos financiados e organizados por grandes latifundiários) e os povos Guajajara, Awá-Guajá e Kaapor. A fim de proteger suas terras dos invasores, os indígenas conformaram em 2007 um grupo de autodefesa intitulado “Guardiões da Floresta”. Desde então, suas lideranças mais combativas têm sido assassinadas em diferentes ofensivas do latifúndio.

No dia 12 de agosto de 2018, o cacique da aldeia Cocalinho I, Jorge Guajajara, foi encontrado morto perto do rio Zutiwaia que corta a TI Arariboia, no município de Arame, no Maranhão. Segundo os guajajara, o indígena de 56 anos foi assassinado pela sua posição de destaque na luta pela autodemarcação da TI Arariboia pelo grupo Guardiões da Floresta.

Pouco mais de um ano depois, no dia 2 de novembro de 2019, indígenas Guardiões da Floresta foram emboscados por madeirerios na selva maranhense, resultando no assassinato do guardião da floresta Paulo Paulino Guajajara, morto com um tiro no rosto. O indígena estava acompanhado de Laércio Guajajara, liderança da região, que conseguiu fugir do ataque, embora também tenha sido alvejado. Laercio tomou tiros no braço e nas costas, e outros de raspão. Poucos dias depois, a área foi palco de um incêndio criminoso. 

Um mês depois, no dia 7 de dezembro, dois caciques guajajara, Firmino Praxete Guajajara, de 45 anos, da aldeia Silvino (TI Cana Brava) e o cacique Raimundo Belnício, 38 anos, da aldeia Descendência Severino (TI Lagoa Comprida), foram assassinados com tiros de revólver enquanto percorriam em motocicletas um trecho da rodovia BR-266, próximo à aldeia El Betel, na TI Cana Brava, no município Jenipapo dos Vieiras (MA).

Em 2022, a área foi palco de pelo menos três assassinatos de indígenas guajajara. No dia 3 de setembro, Janildo Oliveira Guajajara foi morto a tiros, em um ataque que também feriu um adolescente de 14 anos nas redondezas da TI Arariboia. No mesmo dia, Jael Carlos Miranda Guajajara morreu após ser propositalmente atropelado por homens do mesmo bando em Arame. Os assassinatos foram noticiados pelo AND.

Pouco mais de uma semana depois, no dia 11 de setembro, Antônio Cafeteiro, da aldeia Lagoa Vermelha, na TI Arariboia, foi assassinado com seis tiros no município de Arame (MA), próximo ao limite da TI Arariboia.

INDÍGENAS RESISTEM: A HISTÓRIA DOS GUARDIÕES DA FLORESTA 

O grupo de autodefesa Guardiões da Floresta foi criado em outubro de 2007, na aldeia Lagoa Comprida. Naquela época, um caminhão usado para exploração de madeira ilegal nas matas da região foi apreendido pelos indígenas. 

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o veículo pertencia ao madeireiro Geraldo Cândido da Costa Filho, de vulgo “Geraldinho”. Em vã tentativa de subornar os indígenas, foi oferecido R$ 15 mil para que os indígenas devolvessem o caminhão. Diante da recusa, um grupo de madeireiros fortemente armados com armas de grosso calibre atacou a aldeia. Durante o conflito, o cacique Tomé Guajajara trocou tiros com os invasores. Ao final, morreram o madeireiro Josevan da Costa Gomes e o próprio cacique, além de dois indígenas gravemente feridos. Geraldinho e os irmãos Joane e Elias Rodrigues da Costa foram denunciados pelo MPF pelo homicídio de Tomé Guajajara, mas, mostrando-se mais uma vez ser instrumento dos latifundiários e grandes burgueses, o velho Estado brasileiro não aplicou a sentença.

Em 2021, diante do aumento das invasões e violência contra os povos indígenas, o grupo realizou através de uma carta intitulada “Se a nossa terra, a nossa floresta sumir, o que vai ser do meu povo?” diversas denúncias sobre o velho Estado, invasões de madeireiros, ameaças de morte e assassinatos. Na carta, os guardiões afirmam que as ações empreendidas pelo grupo têm combatido a ação de madeireiros ilegais e outros invasores. “Nós identificamos os invasores, destruímos seus acampamentos e os expulsamos da nossa terra”, afirmam no texto.

O grupo também ressalta a ligação entre o latifúndio e o velho Estado com a grande propaganda do chamado “agronegócio” em detrimento do direito à terra. “ O governo só fala em agro: agro é isso, agro é aquilo, agro é desenvolvimento, agro é tudo para eles. Para nós não. Para o governo, a riqueza é soja, é cana, é boi. O branco pensa assim, mas nós não. Dinheiro para nós não compra a vida de ninguém”, afirma.

Os indígenas concluem a carta afirmando: “Nós vamos continuar lutando mesmo sem apoio do governo. Nós vamos lutar até o fim. Até o fim. Enquanto existir uma criancinha que nós podemos defender, nós estaremos lá.”.

Foto de destaque: Jovens indígenas foram baleados na cabeça por carro não identificado. Foto: Reprodução

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