México: Dois ativistas assassinados pela pistolagem

México: Dois ativistas assassinados pela pistolagem

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Ativistas democráticos mortos em Oaxaca. Fonte: Sol Rojista

Dois ativistas políticos foram assassinados por pistoleiros no estado de Oaxaca, México, na última semana do mês de outubro. Os ativistas eram Jesús Manuel García Martínez, integrante da organização Corrente do Povo – Sol Vermelho (CP-SV) e Filogonio Martínez Merino, ex-agente municipal e integrante do Conselho de Povos Unidos pela Defesa do Rio Verde. As duas vítimas eram tenazes defensores da luta pela terra e denunciadores dos megaprojetos imperialistas na região, como o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec (Ciit) e as hidrelétricas do Rio Verde e de Paso de la Reina. 

Jesús Martínez foi assassinado por um bando de pistoleiros que disparou para dentro de sua casa, em Santa Cruz de Tagolaba, às 22h do dia 27 de outubro. Os assassinos reacionários ainda alvejaram Érick Sánchez, dirigente regional da CP-SV, que sobreviveu ao ataque, mas se encontra hospitalizado. Como integrante da CP-SV, Jesús Martínez era um destacado ativista, defensor da Revolução Agrária como parte da Revolução de Nova Democracia no México e, como tal, contrário aos megaprojetos imperialistas na região, sobretudo o Ciit. 

Segundo a CP-SV, o bando se tratava de um grupo armado a mando do latifúndio, como parte da “estratégia de contrainsurgência do velho Estado para impor políticas e governos antipovo, bem como megaprojetos imperialistas de despejo e morte”. Os ativistas atribuem a mesma motivação ao assassinato de Filogonio Merino. 

Filogonio Martínez Merino, estava sob proteção do “Mecanismo de Proteção para Pessoas Defensoras dos Direitos Humanos e Jornalistas”, foi encontrado morto no dia 26/10, na zona de Pedra Branca. O ativista estava indo da cidade de La Humedad para Paso de la Reina, ambas no estado de Oaxaca. Ainda não foi declarada a causa da morte de Merino, mas a principal suspeita é que o ativista tenha sido assassinado por conta de sua atuação contrária às construções de hidrelétricas em Paso de la Reina e no Rio Verde. 

Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec é alvo das denúncias da CP-SV

O Ciit é um dos megaprojetos de “desenvolvimento” do presidente oportunista do México André Manuel López Obrador. O principal objetivo do corredor é conectar, através de ferrovias de alta velocidade e rodovias no istmo de Tehuantepec, os portos dos oceanos Atlântico (porto Coatzacoalcos) e Pacífico (Salina Cruz). Essa construção, na qual tomam parte empresas privadas de capital ianque e o velho Estado mexicano, diminuiria o tempo e o custo do transporte de cargas na América Central, aumentando o lucro das empresas imperialistas que escoam mercadorias na região. Segundo Ana Esther Ceceña, economista, a imensa maioria das vias utilizadas nas ferrovias do Tren Transístmico, do Ciit, só permitirão trens produzidos nos Estados Unidos e no Canadá.  

Além disso, a região de Tehuantepec, sede de 79 municípios camponeses e 11 comunidades indígenas, é rica em recursos hídricos, minerais e combustíveis fósseis. A construção do Ciit busca, além de ser um canal de escoamento de mercadorias, abrir caminho para um polo industrial de extração de recursos naturais da região. Indústrias estas, evidentemente, imperialistas. 

O interesse imperialista é escancarado também quando se leva em conta o financiamento de até 2,25 bilhões de dólares ao Ciit feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a “realocação de empresas no Istmo de Tehuantepec”. Em entrevista ao BNAmericas, o representante do BID no México destaca um dos motivos do financiamento: “pela localização geográfica e adesão ao T-MEC [tratado comercial feito entre Mèxico, USA e Canadá], que proporcionam acesso privilegiado ao mercado nortemaricano”. 

Militarização de Oaxaca para garantir megaprojetos

Há anos, a CP-SV organiza as massas populares de Oaxaca e região e, unida a outros movimentos populares, conduz uma luta dura contra a construção do Ciit e a dominação do latifúndio. Durante esses anos, Jesús Martínez não foi o primeiro ativista da CP-SV, ou de outros movimentos populares, a tombar na luta em defesa dos direitos do povo no México. Somente em 2021, 54 ativistas foram assassinados no México, 10 deles em Oaxaca, segundo o monopolio de imprensa El País. O número representa um aumento de 24 mortes se comparado ao ano anterior. 

Os crimes cometidos pelos pistoleiros das empresas privadas e do latifúndio ocorrem em conluio direto com o velho Estado mexicano. “Em alguns desses casos de resistência, não é incomum encontrar relatos de prisões arbitrárias por parte do Estado, múltiplas formas de assédio e ameaças […] assassinatos e chacinas contra líderes comunitários opositores às obras”, afirma Victor Cabral, mestre em geografia pela Puc-Rio, em seu trabalho sobre o Ciit. “Tanto o Estado como seus agentes e as corporações, afastam primeiro as pessoas para que seu trabalho sujo não seja feito com grande resistência […] sai mais fácil para o Estado e as empresas gerarem medo nas pessoas e matar algumas do que tentar negociar e expor publicamente seus interesses com a terra”, completa ele. Ou seja, o velho Estado busca, por meio do terrorismo de Estado, intimidação e assassinatos, eliminar as lideranças mais avançadas e aterrorizar as massar para impedir o avanço da luta contra o latifúndio e megaprojetos do imperialismo.

No início de outubro, Oaxaca foi o primeiro estado do México a aprovar a ampliação do tempo que o exército reacionário exercerá as funções de força de segurança nas ruas. De acordo com a medida, os militares estarão responsáveis por tal função até o ano de 2028.

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