CNJ expõe infrações da Lava Jato de Sérgio Moro

Toda a sujeira envolvendo a Operação Lava Jato que encampou no país a dianteira do “combate a corrupção” está hoje aos olhos de todos. Mas, afinal de contas, como é que a Operação chegou a ter tanto prestígio? E como os juízes puderam ter tanto poder?

CNJ expõe infrações da Lava Jato de Sérgio Moro

Toda a sujeira envolvendo a Operação Lava Jato que encampou no país a dianteira do “combate a corrupção” está hoje aos olhos de todos. Mas, afinal de contas, como é que a Operação chegou a ter tanto prestígio? E como os juízes puderam ter tanto poder?
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A Corregedoria Nacional da Justiça (CNJ) decidiu por afastar a sucessora de Sérgio Moro na 13ª Vara de Justiça de Curitiba, Gabriela Hardt, e outros três magistrados do Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4) por burlar processos, violar o código de ética, prevaricar e descumprir decisões do Supremo Tribunal Federal. A investigação da CNJ identificou irregularidades no trabalho desenvolvido pela Lava Jato especificamente no mecanismo de controle e prestação de contas.

Luís Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, afirmou que os quatro seguiram o caminho iniciado por Moro em termos de práticas ilegais. Ele explicou que a estratégia por trás das ações dos quatro magistrados se baseava em atropelar o caminho natural dos processos, fixar multas e punições que ultrapassavam a casa dos bilhões de reais – tudo no objetivo de engordar o caixa de uma fundação privada recém criada que reunia todos os juízes empenhados no “combate à corrupção”.

Segundo a CNJ, Gabriela Hardt teria sido a responsável por criar uma fundação com recurso das multas pagas por empresas condenadas pela Lava Jato. Além disso, Luis Felipe Salomão afirmou que “o combate à corrupção transformou-se em cash back”. Não são claras quais são as pretensões de Gabriela Hardt e dos três magistrados, mas a partir de uma olhada para o lugar central na política nacional para onde o qual Sérgio Moro foi catapultado, é possível saber o que é que os quatro pupilos de Moro buscavam.

O corregedor nacional destaca que Moro iniciou um caminho justamente a partir do caso da “Vaza Jato”. Através da publicação das mensagens trocadas entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol (ex-procurador de Curitiba), condenações de políticos e empresários foram anuladas pelo STF. Nesse sentido, a Lava Jato se enfraqueceu, com o retorno à cena dos elencados como alvos políticos (como Luiz Inácio, mas não só) e de gerentes de empresas privadas que há décadas fazem negócios com o Estado brasileiro (Odebrecht, Camargo Correa, etc.).

Ainda que não esteja morto politicamente, Sérgio Moro é quem acaba por sair enfraquecido de mais esse escândalo envolvendo a Lava Jato. Toda a sujeira envolvendo a Operação que encampou no país a dianteira do “combate a corrupção” está hoje aos olhos de todos. Mas, afinal de contas, como é que a Operação chegou a ter tanto prestígio? E como os juízes puderam ter tanto poder?

Desatada um ano após as Jornadas de Junho de 2013, a Lava Jato foi uma tentativa de conduzir a insatisfação popular (que, naquela altura, era geral) para figuras políticas específicas. A assepsia nas instituições da República brasileira era, aí, uma clara tentativa de resgatar a imagem do velho Estado brasileiro da lama lançada pelo protesto popular. Tirando o combustível disponível ao levantamento popular em curso, as classes dominantes antecipavam-se a uma insurgência revolucionária.

Fato inegável, e muitas vezes esquecido, é que a Operação Lava Jato contou com o auxílio direto do FBI. Contando com outros 11 agentes, Leslie Backschies coordenou a ação da PF “contra a corrupção”. Esta força conjunta foi responsável por enviar Sérgio Moro e outros magistrados brasileiros para cursos de formação política no Estados Unidos. Uma ação deste tipo, coordenada diretamente pelo imperialismo ianque, só poderia ser possível com o consentimento dos comandantes militares brasileiros.

Eduardo Villas-Bôas, então Comandante do Exército, foi o maior entusiasta da Lava Jato. Em entrevista ao jornal Valor Econômico em abril de 2018, ele afirmou que o país está em meio à um processo de “perda de identidade”: “Até então [décadas de 70, 80], o país tinha identidade forte, sentido de projeto, ideologia de desenvolvimento. Perdeu isso. Hoje, somos um país que está à deriva”.

O general não refreava seu apoio mesmo nos cenários mais extremos: “E aí você me pergunta: o que pode acontecer se a Lava Jato atingir a todos indiscriminadamente? Que seja. Esse é o preço que tem que se pagar. Esperamos que tenha um efeito educativo”.

A Operação Lava Jato foi a primeira etapa do projeto golpista do Alto Comando. Dando aval a uma força-tarefa policial para prender figurões desmoralizados por corrupção, pretendia conduzir os rumos políticos do País, sem mostra-se (militares) à frente. Com a Lava Jato fracassada, o que fica são as provas da intervenção militar na política nacional através de uma ofensiva contrarrevolucionária geral e preventiva, ao qual os progressistas e democratas não podem deixar de condenar.

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