Os pontos em comum dos planos de Elon Musk, Bolsonaro, militares e latifundiários para a exploração da Amazônia

Militares reacionários, Elon Musk, latifundiários da agropecuária, grande garimpo e mineração e extrema-direita se beneficiam da exploração quase conjunta da Amazônia.

Os pontos em comum dos planos de Elon Musk, Bolsonaro, militares e latifundiários para a exploração da Amazônia

Militares reacionários, Elon Musk, latifundiários da agropecuária, grande garimpo e mineração e extrema-direita se beneficiam da exploração quase conjunta da Amazônia.
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Uma reportagem do portal Repórter Brasil revelou que uma antena da Starlink, empresa do magnata de extrema-direita Elon Musk foi encontrada em um sítio de trabalho servil onde 50 trabalhadores foram registrados em condição servil. Os trabalhadores eram camponeses pobres que foram aliciados pelo latifúndio para trabalhar em uma área de desmatamento no Sul do Amazonas. Esse é o segundo maior resgate do ano. O único maior que este foi o que encontrou 54 pessoas em um garimpo em Maués, também no Amazonas. 

Ao que tudo indica, a antena encontrada na fiscalização recente era usada pelos latifundiários que tomaram controle da área para estabelecer comunicações de operações do cotidiano e, muito possivelmente, tentar driblar as fiscalizações. 

Segundo as denúncias de um trabalhador, eles estavam há mais de um mês em barracos de lona e sem acesso à água ṕotável, obrigados a beber de um igarapé próximo, com gosto de folha podre. Os trabalhadores também não tinham nenhum equipamento de proteção, apesar dos altos riscos da função. 

Por outro lado, a exploração dos camponeses aliciados para o trabalho foi máxima, com o desmate de 3,7 mil hectares entre 2022 até maio de 2024. 

Há um aspecto importante sobre os fatos levantados pela reportagem: como ela revela o imbricamento dos interesses políticos e econômicos do latifúndio, de magnatas imperialistas, da extrema-direita e das Forças Armadas reacionárias do Brasil. 

Antenas de Musk para o grande garimpo

Atualmente, Elon Musk monopoliza o mercado de internet na Amazônia. O magnata domina a internet por satélite em 90% das cidades da Amazônia legal, região formada por 772 municípios dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

Os primeiros contratos foram feitos em novembro de 2021, quando Elon Musk se encontrou com o então ministro das Comunicações do governo de Jair Bolsonaro, Fábio Faria. O aval para a Starlink atuar no Brasil foi dado dois meses depois pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

De início, Musk afirmou que o contrato priorizaria a conexão nas escolas, com a meta de levar internet para 19 mil delas, mas isso não foi cumprido. Segundo dados do governo do Amazonas de junho de 2023, mais de um ano depois do início das operações da Starlink, somente três escolas públicas do estado tinham recebido as antenas da Starlink

E enquanto as escolas continuavam sem conexão, os latifundiários e magnatas do garimpo mergulharam de cabeça na oportunidade de ouro. No período de um ano entre abril de 2023 e março de 2024, o Ibama apreendeu ao menos 90 equipamentos de internet via satélite em áreas de atuação do grande garimpo ilegal. A maioria deles não foi registrado com a marca, mas segundo dados do Uol, ao menos 32 eram da Starlink, e foram recolhidos em 20 áreas de mineração ilegal em quatro estados diferentes. Segundo estimativas do Ibama dadas pelo mesmo portal, quase todos os garimpos da região usam a internet da Starlink

Antena da Starlink em campo de garimpo. Foto: Ibama/Uol/Reprodução

A afirmação é corroborada por vídeos de influenciadores do garimpo em redes como TikTok. As filmagens mostram as antenas da Starlink e vangloriam-se do sinal. As antenas são usadas pelos magnatas que coordenam o grande garimpo às custas da exploração dos camponeses pobres para dirigir as entregas e necessidades das operações cotidianas e driblar as fiscalizações.

Daí, monta-se a rede: Jair Bolsonaro, ex-presidente ultrarreacionário cuja família tinha vínculos estreitos com o latifúndio, particularmente da Amazônia legal (vide as visitas de Flávio Bolsonaro aos latifundiários da região na época que seu pai era presidente), assinou contrato com Elon Musk para levar internet à região. Os mais beneficiados foram, justamente, os latifundiários locais, que operam não só o garimpo, mas também o desmate de determinadas áreas para transformação em pasto. 

Projeto de sub-Nação

Todo esse cenário macabro é finalizado com a atuação do Exército, que se beneficia da relação tanto pela atuação individual de determinados militares como enquanto corporação e instituição militar, pelos seus planos de “levar o capitalismo” para a região por meio do impulsionamento do latifúndio agropecuário e minerador. O que beneficia o capital imperialista. 

Em primeiro lugar, a força militar conta com figuras de peso que têm vínculos explícitos com o garimpo. O destaque vai para o general reservista e ex-ministro de Bolsonaro, Augusto Heleno, que, como revelado pela Folha de São Paulo esse ano, autorizou a exploração de ouro em uma área de 9,8 mil hectares vizinha à TI Yanomami. Outros militares, como o atualmente reservista Hamilton Mourão, também possuem vínculos com os chefões do garimpo. Há também figuras como o tenente-coronel Alves Pinto, ou o general Carlos Alberto Mansur, ambos envolvidos em esquemas relacionados ao grande garimpo. 

Em segundo lugar, o Exército tem como ponto de seu “Projeto de Nação” o “desenvolvimento” (na verdade, aprofundamento do capitalismo burocrático) na Amazônia. O documento “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”, elaborado por militares do Instituto General Villas Boas, Sagres e Federalistas, prevê, dentre alguns pontos, o fim de restrições em áreas que são de interesse do latifúndio e da grande mineração (e é claro, do garimpo), ambos os maiores beneficiários das operações fornecidas por Musk. 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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