Nós não vamos desaparecer

A solicitação palestina data de 2011, mas somente foi posta à votação do Conselho de Segurança agora, treze anos depois, e obteve doze votos a favor, dos quinze possíveis, com abstenção do Reino Unido e da Suíça, além do tradicional veto ianque.

Nós não vamos desaparecer

A solicitação palestina data de 2011, mas somente foi posta à votação do Conselho de Segurança agora, treze anos depois, e obteve doze votos a favor, dos quinze possíveis, com abstenção do Reino Unido e da Suíça, além do tradicional veto ianque.
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Em 1961, a economia da África do Sul estava à beira do colapso. Investimentos diminuíam consideravelmente em meio ao tumulto e revolta causados pelo regime de apartheid, onde uma minoria branca governava e massacrava uma maioria negra. Uma economia que dependia fortemente de investimento estrangeiro se via isolada. Então veio ao resgate os Estados Unidos da América. Companhias ianques aumentaram seus investimentos no país em 23 milhões de dólares, uma balança comercial favorável à África do Sul aumentou em 50 milhões de dólares e mais de 150 milhões de dólares em empréstimos foram feitos ao país africano. Ao corrigir para 2024 o valor total de ganhos que a África do Sul obteve graças aos USA, em meio ao seu regime de apartheid na sua mais plena forma, em 1 ano a África do Sul teve um aumento de capital de quase 2 bilhões e meio de dólares. Graças a este investimento pesado dos USA, de companhias ianques e instituições controladas pelo imperialismo ianque, a África do Sul viria a experimentar um grande “boom” econômico nos dez a quinze anos seguintes.

Não que o mundo inteiro, incluindo os USA, não soubessem do que acontecia na África do Sul. Que os negros sul-africanos eram mantidos nos chamados bantustões, províncias especificadas pelo regime do apartheid para que os negros vivessem separadamente da população branca. Que desde 1949 era proibido por lei o casamento entre brancos e negros no país. Que o regime do apartheid promovia “testes de cor” que envolviam, por exemplo, enfiar um lápis nos cabelos do sujeito do teste e pedir para que este balançasse a cabeça: se o lápis não caísse, o sujeito era declarado negro; se caísse, era declarado “pessoa de cor” (coloured). O apartheid era evidente ao mundo inteiro e não tinha vergonha alguma de esconder-se. E os USA correu para o resgate deste regime criminoso. Caso haja semelhanças entre o que ocorria no regime de apartheid sul-africano com a penúria do povo palestino, não é coincidência.
Sendo assim, não é de se surpreender que os USA corram ao resgate, novamente, repetidamente e incessantemente do regime de apartheid sionista. Utilizando seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, nesta quinta-feira (18) os “diplomatas” ianques negaram uma resolução proposta pela Argélia para o reconhecimento e integração da Palestina como Estado Membro das Nações Unidas. A solicitação palestina data de 2011, mas somente foi posta à votação do Conselho de Segurança agora, treze anos depois, e obteve doze votos a favor, dos quinze possíveis, com abstenção do Reino Unido e da Suíça, além do tradicional veto ianque. E desde a época em que foi feita a solicitação palestina, a política ianque era clara: recusar a solicitação. É a quinta resolução vetada pelos USA no Conselho de Segurança. Soma-se a isso a recusa ianque em reconhecer e em condenar o ataque terrorista sionista à embaixada iraniana em Damasco, dia primeiro deste mês de abril.

A política ianque é clara e manifesta, do apartheid sul-africano à Palestina, de 1947 a 2024: vidas brancas, europeias, importam mais. Israel tem “o direito de se defender” assassinando quase 15 mil crianças palestinas; o Irã não tem o direito de se defender atacando bases aéreas de onde saíram os jatos que assassinaram o General Ali Zahedi. Israel tem o direito ao seu Estado em terra roubada desde 1948, tendo os USA sido o primeiro a reconhecê-lo apenas onze minutos após sua declaração; o povo palestino tem somente o direito de assistir à sua terra ancestral ser cada vez mais rapinada. Para o regime ianque, facilitador do genocídio, “um Estado Palestino deve ser baseado em acordos bilaterais entre palestinos e israelenses”. Em outras palavras, a gazela deve negociar o almoço com o tigre. O povo sofrendo um genocídio, apartheid, limpeza étnica e deslocamento forçado deve negociar seu direito de autodeterminação com aqueles que promovem seu genocídio, seu apartheid, sua limpeza étnica e seu deslocamento forçado.

Mas o Estado Palestino já é um fato, ainda que não confirmado graças a mais este favor ianque ao regime nazisionista. É um fato através de sua história de luta e resistência, de seu povo resiliente e invencível, de seus símbolos e mártires, do reconhecimento internacional de mais de 140 países entre os 193 membros da ONU e dos doze votos a favor da oficialização no Conselho de Segurança. Nem mesmo a França, o mais antigo aliado dos USA, votou contra. O imperialismo ianque avança para o seu isolamento completo e promete morrer abraçado ao regime sionista do apartheid. Com essa recusa em reconhecer o Estado Palestino, os USA finalmente – caso não tenha sido evidente até hoje – se removem de sua pretensa e ilusória posição mediadora, promotora da paz e da ordem. Os USA se colocam abertamente, enfim sem meios termos, como inimigos da paz e promotores da desordem. E até mesmo o povo estadunidense começa a ver, cada vez mais, a face verdadeira de seu país, com estudantes gritando “Morte à América” na Universidade de Columbia, manifestantes fechando a ponte Golden Gate em São Francisco e uma previsão de boicote recorde às eleições presidenciais em novembro deste ano.

E a ONU se prova, mais uma vez, somente uma ferramenta de controle imperialista. Afinal, como é possível uma organização que se põe como A Organização das nações do mundo não reconhecer a existência, de fato, de um Estado com bandeira, hino nacional, tradições, Declaração de Independência e o reconhecimento de um quarto das nações que compõem esta organização? Somente uma organização falsa e falida teria esta capacidade. Uma organização que permitiu a partilha colonial da Palestina Histórica e que permite há 76 anos que o poder colonial cometa seus crimes impunemente. Uma organização sem poder, sem capacidade de frear um genocídio televisionado e sem a possibilidade de trazer avanços aos povos do mundo. O poder de veto dos membros permanentes é a falência da ilusão da diplomacia internacional.

“O povo palestino não irá desaparecer”, diz Riyad Mansour ao Conselho de Segurança da ONU, após o criminoso, cúmplice, facilitador e genocida veto ianque. Não importa os padrões duplos empregados pelo imperialismo ianque. Não importa o completo desprezo ianque pela autodeterminação de um povo que já passou e passa por atrocidades intermináveis. Não importa a brutalidade sionista com o povo de Gaza – “Gaza de orgulho, Gaza de glória” -, ou de seus colonos ilegais ne Cisjordânia. O povo palestino não irá desaparecer. “Nós amamos a vida. Amamos viver com liberdade e dignidade em nossa pátria nacional. Nós não vamos desaparecer. Ou vocês lidam conosco com justiça e nos deem nossos direitos, ou nos deem nossos direitos.”

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