Índios desconhecidos provocam surpresa

O grupo de indígenas foi visto pela primeira vez na floresta há pouco tempo, dezembro passado, e em seguida por dois trabalhadores que estavam construindo um curral perto do rio São Miguel. Os índios, todos homens adultos e portando “arcos e flechas bem grandes” estavam nus e tinham adornos na cintura.

Índios desconhecidos provocam surpresa

O grupo de indígenas foi visto pela primeira vez na floresta há pouco tempo, dezembro passado, e em seguida por dois trabalhadores que estavam construindo um curral perto do rio São Miguel. Os índios, todos homens adultos e portando “arcos e flechas bem grandes” estavam nus e tinham adornos na cintura.
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O aparecimento de 8 índios, de uma tribo desconhecida, em uma mata ao sul da Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, um dos territórios amazônicos mais desmatados durante o  governo ultrarreacionário de Jair Bolsonaro e generais, causa surpresa e preocupação na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ativistas.

O grupo de indígenas surgiu na floresta há pouco tempo, dezembro passado, e foi visto por 2 trabalhadores que estavam construindo um curral perto do rio São Miguel. Os índios, todos homens adultos e portando “arcos e flechas bem grandes” estavam nus e tinham adornos na cintura.

Segundo o site Agência Pública, eles ficaram parados em pé, apenas observando, a cerca de 200 metros. O contato visual durou cerca de 15 minutos, quando então os índios, talvez assustados pela vinda de uma motocicleta, retornaram à mata. Desde então, não houve mais notícias sobre eles.

Vida em sobressalto e fuga

Avisada por moradores, uma equipe da Funai, liderada por Fabrício Amorim da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, foi ao local e “confirmou vestígios, rastros e restos de comida” na área florestada.

Há registro sobre a existência dos chamados “índios isolados” naquela região e por isso a entidade se preocupa. Funcionários dizem que a postura de

evitar enfrentamentos com pessoas brancas fez com que tais isolados não sofressem tanta perseguição e violência como em outros casos. Mesmo assim, “eles vivem em sobressalto, alertas para a presença de invasores em suas terras; é uma situação de fuga constante”.

Flechada no indigenista

A Funai ainda não sabe se o grupo avistado faz parte dos “Isolados do Cautário”, dos quais um integrante, em 2020, disparou uma flecha que atingiu o peito e matou um importante indigenista,  o servidor da Funai Rieli Franciscato, quando ele observava alguns deles à distância.

Rieli tentava evitar um atrito entre os isolados e a população não-indígena na zona rural de Seringueiras. O local da sua morte fica a cerca de 70 km do ponto em que o grupo foi visto em dezembro.

O mistério: quem são eles?

O grupo da região do (Rio) Cautário circula pelo centro e sul da TI e conforme texto de Clara Roman, do Instituto Socioambiental/ISA, é o maior dos três agrupamentos de isolados da área. Deles, muito pouco se sabe. “A gente não sabe que língua esses indígenas falam, a que grupo linguístico pertencem. Quanto mais a gente conhece sobre eles, mais se distancia dos outros povos que vivem no entorno e do que tem descrito na literatura”, explicou uma vez Rieli Franciscato, em entrevista.

O indigenista sempre encontrava vestígios deles no alto da Serra de Uopianes. Do cume, de 600 metros de altitude, os isolados podiam avistar S.Francisco do Guaporé, a cidade mais próxima, e observar a civilização não-indígena vizinha.

“Eles sabem de tudo que está a volta. Então se não estabeleceram contato, é porque não tem vontade e a gente tem que respeitar a vontade deles”, afirmava ele.

O Sistema de Proteção aos Índios Isolados e de Recente Contato (SPIIRC), do governo federal, compreende ações organizadas por 11 unidades descentralizadas.

Os registros atuais dos povos indígenas isolados estão distribuídos em 86 territórios: 54 Terras Indígenas e 24 Unidades de Conservação (15 federais e nove estaduais). Há, ainda, 8 áreas sem nenhum mecanismo de proteção. Há 114 povos isolados hoje (mas apenas 28 confirmados).

Vitória sobre os massacres

Os povos indígenas brasileiros (incluindo as dezenas de tribos isoladas), podem ser considerados hoje grandes vitoriosos em sua luta por “existir e persistir”. Isso lembrando-se da guerra contra eles desatada pela ditadura militar-civil fascista iniciada em 1964 e repetida por Bolsonaro e generais.

Ao longo de décadas, os Uru-Eu-Wau-Wau e seus vizinhos foram alvos de massacres vindos dos brancos. Mas foi a partir de 1970, com o Programa de Integração Nacional (PIN) e depois com o Polonoroeste, nos 1980, que os golpistas militares criaram uma política de ocupação da área. Até 1985, cerca de 40 mil famílias receberam lotes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Rondônia.

Tinham como base a abertura de lotes para agropecuária no meio da floresta,levando trabalhadores pobres do sul e centro do país. Foi uma tentativa de fazer uma “reforma agrária” sem tocar nos interesses e nas terras dos ricos proprietários. O problema é que a Amazônia não estava vazia, mas ocupada pelos povos originários – além de outros trabalhadores da floresta, como seringueiros e extrativistas. Já atingidos por séculos de invasões, vários povos indígenas foram dizimados por essas frentes migratórias. Porém muitos sobreviveram e hoje comemoram sua resistência.

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