LCP denuncia despejo de 250 famílias por pistoleiros na Bahia à mando de latifúndio e governador

Dezenas de tropas e viaturas da Polícia Militar (PM), enviadas pelo governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT), juntamente a um bando de pistoleiros da empresa Calsete desepjaram 250 famílias camponesas que haviam ocupado o latifúndio improdutivo Lagoa dos Portácios, em Carinhanha, sul da Bahia, no dia 31 de março

LCP denuncia despejo de 250 famílias por pistoleiros na Bahia à mando de latifúndio e governador

Dezenas de tropas e viaturas da Polícia Militar (PM), enviadas pelo governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT), juntamente a um bando de pistoleiros da empresa Calsete desepjaram 250 famílias camponesas que haviam ocupado o latifúndio improdutivo Lagoa dos Portácios, em Carinhanha, sul da Bahia, no dia 31 de março
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No dia 31 de março, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), enviou dezenas de tropas e viaturas para uma operação de despejo contra 250 famílias trabalhadoras que ocupavam o latifúndio improdutivo Lagoa dos Portácios desde 25 de janeiro deste ano, abandonado há mais de 25 anos. A ação criminosa foi denunciada pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Norte de Minas e Sul da Bahia, em panfleto assinado pelas famílias camponesas do Acampamento do Morro do Jatobá.

A LCP denuncia que a operação foi feita por ordem do judiciário numa ação ilegal e criminosa, cumprida pela Polícia Militar (PM) que atuou com bando de pistoleiros da Calsete. Os pistoleiros do latifúndio da empresa Calsete ainda destruíram o tanque de água que as massas construíram com enorme esforço para dar de beber aos animais.

INCRA promete e não cumpre

As terras do latifúndio foram prometidas pela superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre os anos de 2008/2009, para a “reforma agrária”. O representante da autarquia, em Bom Jesus da Lapa, participou de uma audiência pública na cidade de Carinhanha na época e assumiu compromisso de que iria desapropriar essas terras da Lagoa dos Portácios e outras três, inclusive enviando técnicos até a área para verificar o abandono.

Segundo a LCP, a fazenda abandonada poderia estar produzindo toneladas de alimentos: são 6,8 mil hectares que comportam mais de 300 famílias, ou seja, mais de 1,5 mil pessoas que serão beneficiadas diretamente e toda a população de Carinhanha que poderia contar com mais produção de alimentos a baixo custo. 

A LCP exige a desapropriação das terras da Fazenda Lagoa dos Portácios para que se cumpra “uma justiça atrasada há mais de 25 anos com as comunidades que vivem num cativeiro, cercada pelo latifúndio atrasado que só misérias traz para nossa região”. Destacando que Carinhanha e região padecem com a fome e a crise econômica que atinge “milhares de famílias trabalhadoras que não têm emprego, nem sequer para receber o mísero salário mínimo; não possuem nenhuma fonte de renda, a não ser as bolsas do governo que nada mais são que um remendo e não garantem condições dignas de vida.”. 

Bandos de pistoleiros promovem violência e mentiras contra os camponeses

A LCP afirma que a única solução para a grave crise econômica é tomar as terras do latifúndio e entregá-las aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, aos trabalhadores desempregados, aos pais e mães de família, para que possam produzir alimentos nas terras abandonadas pelo latifúndio.

Denuncia, ainda, a empresa Calsete, proprietária do latifúndio, “que nenhuma riqueza traz para nosso município e agora encheu a cidade de pistoleiros, escondidos atrás da criminosa empresa de segurança para ameaçar nossas comunidades e nosso povo com suas armas de grosso calibre.”.  

A LCP denuncia que, enquanto a empresa declara isso para assegurar seu lucro máximo, pega empréstimos com o velho Estado e vende madeira ilegal retirada do cerrado, enviadas para a cidade de Sete Lagoas (MG).  A organização destaca, ainda, que existem diversos processos e multas ambientais contra essa empresa por crimes contra a incolumidade pública, corrupção e poluição da água, além de diversos processos trabalhistas.

LCP convoca todos a apoiar famílias camponesas e denunciar o latifúndio

A LCP convoca a todos os camponeses, pequenos e médios produtores, aos pescadores e suas organizações e aos comerciantes que não vendam nada para a Calsete, assim como aos sindicatos, professores e estudantes, jornalistas, e verdadeiros democratas, que todos repudiem o vil despejo e que apoiem as famílias camponesas em sua justa luta.

A organização declara: “Aqueles que estão nos atacando e fazendo coro com a parasita Calsete, difamando e ameaçando nossas honradas lideranças, estão plantando ventos e colherão tempestades, pois quando a justa fúria popular se desatar, ninguém poderá deter!”.

A LCP conclui apontando que toda a concentração da propriedade das terras no Brasil é fruto de roubo e grilagem pelos latifundiários, que “expulsaram na base do chumbo e enganação os indígenas, quilombolas e camponeses de suas legítimas terras”. Demarcando que “As tomadas de terras vão continuar, porque nós precisamos produzir para sobreviver e viver com dignidade com nossas famílias e construir uma verdadeira democracia e não queremos viver de esmolas!”. Finalizando a nota com as palavras de ordem: Terra para quem nela trabalha! e Viva a Revolução Agrária!.

O oportunismo na Bahia

A ação de despejo ilegal, realizada com o crivo do governador oportunista Jerônimo Rodrigues, comprova mais uma vez o caráter anti-povo da gestão oportunista do PT na Bahia, que se arrasta por mais de 16 anos sem encostar nos altos indíces de concentração fundiária do estado e só aumentando a repressão contra o povo em luta, contando inclusive com a PM que mais mata no Brasil. 

O artigo “O fracasso do oportunismo na Bahia”, publicado pelo AND em 2022, afirma que, enquanto todos esses anos mostraram a piora das condições de vida das massas no estado, a fortuna do latifúndio, com constantes investimentos, empréstimos, perdão de dívidas e expansão de terras, chegou a multiplicar até 18 vezes. 

Leia também: O fracasso do oportunismo na Bahia

O povo baiano e brasileiro já encontrou, através de séculos de luta contra o latifúndio, a solução de seus problemas. Durante o mês de março, quase 10 mil camponeses se levantaram na Bahia em tomadas de terras do latifúndio, enfrentando a repressão da PM e bandos paramilitares de pistoleiros e latifundiários. 

Com a omissão do governo do estado diante do massacre que se prepara contra os camponeses que ousam lutar por um pedaço de terra, as contradições no campo da Bahia têm se agudizado, os camponeses, povos indígenas e quilombolas têm se lançado à luta decidida por um pedaço de terra.

Para ter acesso ao panfleto da LCP na íntegra, clique aqui.

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