Rompimento de relações do México com Equador é novo capítulo da crise regional latinoamericana

O rompimento de relações, que foi uma crise bilateral inédita entre os dois países, configura um novo capítulo da crise regional do subcontinente América Latina. 

Rompimento de relações do México com Equador é novo capítulo da crise regional latinoamericana

O rompimento de relações, que foi uma crise bilateral inédita entre os dois países, configura um novo capítulo da crise regional do subcontinente América Latina. 
Print Friendly, PDF & Email

O México rompeu relações diplomáticas com o governo do Equador depois que policiais invadiram a embaixada mexicana em Quito, capital equatoriana, no dia 5 de abril, para prender o ex-vice-presidente do país, Jorge Glas. Glas havia sido condenado por corrupção e estava refugiado na embaixada mexicana desde dezembro. Uma semana antes da invasão, o México oficializou o asilo político ao político. O rompimento de relações, que foi uma crise bilateral inédita entre os dois países, configura um novo capítulo da crise regional do subcontinente América Latina. 

O governo equatoriano apresentou justificativas ridículas para a ação. Tentando  se defender, Daniel Noboa acusou o México de ter excedido suas prerrogativas diplomáticas ao conceder asilo a Jorge Glas. Já o presidente oportunista do México, André Manuel López Obrador, afirmou que “se trata de uma violação flagrante ao direito internacional e à soberania do México”. 

A resposta do México foi seguida por todos os outros governos latinoamericanos. Seguindo o México, a Nicarágua rompeu relações com o Equador e chamou a ação de “condenável”. O Brasil alertou sobre um “grave precedente”. Os governos da Argentina, de Cuba, da Venezuela e da Colômbia também condenaram a ação de Noboa. A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou hoje uma resolução que “condena veementemente” a operação da polícia do Equador. Com exceção do Equador, que votou contra, e do El Salvador, que se absteve, todos os outros países presentes votaram a favor do documento. 

Resposta unificada é maquiagem

Essa condenação unificada pelos diferentes governos latinoamericanos, apesar dos diferentes alinhamentos (desde o governo reacionário de Javier Milei, na Argentina, até o governo oportunista brasileiro), fez parecer para alguns que a situação do subcontinente não está tão instável. Buscando mascarar a crise política que se desenrola desde a América Central até o Sul, os monopólios de comunicação buscaram ressaltar a “unidade dos governos”. “A reação na América Latina à ordem dada pelo presidente do Equador, Daniel Noboa, ultrapassou linhas ideológicas”, ressaltou o Globo. 

Acontece que essa resposta unificada pontual não é o suficiente para reverter o cenário de grave crise regional. Desde Buenos Aires até Brasília, passando por Caracas e Bogotá, o continente latinoamericano está imerso em uma crise política de grandes proporções. Os próprios desenvolvimentos recentes no Equador foram derivados de uma crise interna que já ocorre há anos, e que foi marcada por ao menos duas grandes rebeliões populares, uma em 2019 e outra em 2022, ambas contra a carestia de vida e as políticas de austeridade dos diferentes governos. Atualmente, Daniel Noboa é alvo de grande insatisfação popular por motivos similares, como o fim do imposto IVA. A intervenção militar decretada no País para ampliar a repressão sobre o povo com disfarce de “guerra às drogas”, e que tem sido marcada por casos de violações de direitos, torturas e execuções sumárias, deteriorou ainda mais a imagem do governo. Em outros países, como a Argentina, México e o próprio Brasil, a crise também está presente. Milei, por exemplo, pode enfrentar um processo de impeachment movido pela oposição. André Manuel López Obrador, no México, pode se tornar alvo de uma grande onda de rebelião popular contra os megaprojetos pró-Estados Unidos promovidos pelo seu governo às custas das terras e territórios de camponeses e indígenas e riquezas naturais do país, como o Corredor Interoceanico do Istmo de Tehuantepec. Luiz Inácio, no Brasil, pode vir a ser colocado em xeque pelo Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) em um cenário de agudização da crise política no País ou de uma nova crise militar. Há ainda a crise em desenvolvimento entre a Venezuela e a Guiana em torno da região de Essequibo, trama que afeta diretamente os interesses do USA. 

Ianques militarizam região

Por essas razões, o imperialismo norte-americano (USA) tende a acompanhar a situação da América Latina de forma cada vez mais direta, ampliando as políticas intervencionistas e a militarização preventiva. Os ianques têm o subcontinente como seu quintal de dominação e exploração, e veem com grande preocupação que a região esteja se escancarando como um barril de pólvora. Nos últimos dias, o Comando Sul do USA anunciou novos exercícios militares e bases na região. O posto militar é uma base naval, e será construída em Ushuaia, extremo Sul da Argentina, uma região um tanto estratégica que fornece um acesso facilitado à Antártida; já os exercícios serão feitos nas faixas litorâneas do Brasil, Chile e Peru, com a presença do destroier USS Porter e do porta-aviões USS George Washington. São todos movimentos preventivos, que tendem a reforçar a hegemonia ianque no subcontinente e atuar preventivamente a novas crises políticas e ondas de rebeliões, como a que se desenrola atualmente no Haiti, e onde o USA deve intervir por meio de uma força-tarefa comandada pelo Quênia. 

O que importa ver é que não são eventos isolados, nem pontuais. São na verdade sintomas de uma crise política regional que é, por sua vez, reflexo da crise de todo o sistema imperialista mundial. As classes dominantes nativas dos países latinoamericanos não conseguem se entender sobre a melhor forma de manter a velha ordem de dominação e exploração. As massas populares desses países, acossadas pela crise econômica, se levantam em ondas sucessivas de revoltas. O imperialismo ianque, amedrontado pelos possíveis reflexos desse fenômeno em sua dominação no subcontinente, avança com a intervenção e a militarização a fim de garantir seus interesses e a manutenção da velha ordem. As medidas preventivas indicam que a situação explosiva tende a perdurar, e que as próximas décadas serão de novas tormentas. Isso não é ruim: é, acima de tudo, um cenário propício para o questionamento e o confronto da velha ordem por parte das massas populares organizadas e mobilizadas.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: