‘Resistência Palestina dá esperança de vitória aos outros povos do mundo’, diz representante palestino do BDS em conferência de imprensa no Rio

No dia de hoje, o movimento Boicote, Dseinvestimento e Sanções participou de um evento que denunciou o genocídio palestino e a inoperância dos organismos internacionais frente à situação em Gaza. O AND esteve presente no evento.

‘Resistência Palestina dá esperança de vitória aos outros povos do mundo’, diz representante palestino do BDS em conferência de imprensa no Rio

No dia de hoje, o movimento Boicote, Dseinvestimento e Sanções participou de um evento que denunciou o genocídio palestino e a inoperância dos organismos internacionais frente à situação em Gaza. O AND esteve presente no evento.
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A importância da Resistência Palestina, os números do genocídio sionista em Gaza e na Cisjordânia, a inoperância dos organismos internacionais e de governos como o brasileiro em sancionar Israel e o que os povos do mundo podem fazer para impulsionar a liberdade do povo palestino foram alguns dos temas discutidos na conferência de imprensa que Jamal Juma, representante palestino do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), participou no Rio de Janeiro durante a manhã do dia 13 de junho. O jornal A Nova Democracia esteve presente e acompanhou o debate.

O evento ocorreu no Centro do Rio de Janeiro, em uma pequena sala de um prédio da esquina da Avenida Treze de Maio, onde cerca de vinte pessoas se reuniram para conversar com Juma, um palestino nascido em Jerusalém que dedicou toda sua vida à defesa dos direitos do povo palestino. Dentre os presentes estavam ativistas da organização Juventude Sanaúd, jornalistas populares e independentes e ativistas. Ao lado de Juma, estavam Secretária Internacional do Comitê Nacional Palestino do Movimento BDS, Maren Mantovani, e a comunicadora comunitária do Complexo da Maré, Gizele Martins, que iniciou o evento com um comentário sobre as similaridades entre a repressão sofrida pelo povo palestino e o povo brasileiro. “As mesmas armas israelenses que matam o povo palestino em Gaza matam o povo brasileiro nas favelas”, disse ela.

Jamal Juma iniciou a fala com um histórico da relação entre a Resistência Nacional Palestina e outros movimentos anti-imperialistas. “Nas décadas de 1960 e 1970, os palestinos declaravam solidariedade com os movimentos de libertação de todo o mundo. Treinavam com outros movimentos”, disse ele, antes de passar ao quadro atual de solidariedade internacional com a causa palestina.

Questionado por AND sobre o peso que essa solidariedade tomou após o 7 de outubro, Juma pontuou que há otimismo na luta do povo palestino. “A luta do povo palestino, em 9 meses de cerco, sem recursos, incentiva lutas populares e de libertação nacional ao redor de todo o mundo. Dá esperança aos povos do mundo de que podemos vencer”, pontuou. Em sua fala, ele também explicou como hoje a causa palestina ocupa o primeiro lugar na lista da causa anticolonial. “O genocídio está televisionado. O sangue que corre em Gaza chega no Estados Unidos, na Europa, na Ásia, na África”.

O ativista também chamou atenção às vítimas do genocídio israelense. “São 16 universidades destruídas. Não há mais universidades em Gaza. Muitas escolas supostamente protegidas por organismos internacionais foram atingidas. São 100 mil feridos sem hospital, 37 mil assassinados, dentre os quais estão 15 mil crianças. Eles atingem deliberadamente jornalistas. Doutores. Enfermeiras. Professores universitários”, listou.

São números graves que atravessam as fronteiras de Gaza até a Cisjordânia, explica Juma. Lá, colonos sionistas protegidos pelo Exército israelense executam um processo de limpeza étnica em mais de 40 comunidades. Juma relatou como plantações de oliveiras e fazendas de ovelhas foram incendiadas pelos colonos. Os animais, roubados ou mortos. “Cerca de 600 palestinos foram mortos em 6 meses na Cisjordânia. Além das mortes, eles solidificam o apartheid na região. Todas cidades tem portões, pontos de controle” Mas para ele, é necessário ir além da contabilização dos números do genocídio israelense. “Quem permite o genocídio?”.

Juma informou que, desde o início da guerra, o Estados Unidos (EUA) já enviou 170 navios de armas e aviões para o Estado sionista. Lado a lado desse arsenal, há os fuzileiros navais em Gaza e as bases militares do imperialismo norte-americano que operam no Oriente Médio Ampliado. Na Organização das Nações Unidas (ONU), o EUA fornece proteção deliberada a Israel. O mesmo caminho é seguido pelo Reino Unido e pela França. E por parte de muitos governos no mundo, mesmo daqueles que se dizem progressistas, não há uma ação tão dura quanto deveria. Quando questionado sobre essa inoperância, Juma foi categórico: “Nós, como povo, não acreditamos que a mudança virá de algum governo. Acreditamos que ela virá do povo”, disse, e exemplificou como determinados avanços no mundo, como na França, foram conquistados após manifestações e exigências das massas populares.

Ao tratar do Brasil, a conferência concluiu que ainda há muito o que avançar. Mantovani pontuou que classificar as ações de Israel como genocídio é importante, mas que “as palavras não bastam, é necessário uma ação concreta”. Ela pontua como o Brasil ainda cultiva várias relações com Israel. Os acordos militares feitos pelo governo Bolsonaro com a entidade sionista não foram rompidos e, sob Luiz Inácio, dois novos acordos foram feitos para compras de drones e obuseiros.

Indústria militar brasileira passa por “israelização”, explicou Mantovani. Foto: Banco de Dados/AND

Mantovani explica ainda como empresas brasileiras já foram compradas por conglomerados sionistas no passado, como no caso da incorporação da AEL Sistemas pelo Elbit Systems, e esse é um processo que também não foi interrompido. Para ela, algo similar poderia ter ocorrido com a Avibras, e pode voltar a ocorrer com outras empresas. “É a israelização da indústria militar brasileira, algo que não é bom nem para o povo palestino e nem para o povo brasileiro”, diz.

Especificamente no Rio de Janeiro, local da conferência, o caso da Petrobras é emblemático: a empresa fornece centenas de milhares de toneladas de petróleo para o Estado de Israel, um número que não faria diferença na economia brasileira se interrompido, mas é fundamental para a manutenção da máquina de guerra sionista.

São vínculos que, para os presentes, fazem ainda mais necessário a campanha pelo rompimento de todas as relações do Brasil com Israel, e a solidariedade ativa entre os povos brasileiro e palestino. “Nossos inimigos são os mesmos. São os cartéis que roubam as matérias-primas. É o imperialismo”, explica Juma.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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