Em sintonia com Bolsonaro, Elon Musk afirma que Moraes interveio nas eleições de 2022

Musk e a família Bolsonaro tem diferentes interesses próprios que podem ser extraídos da situação em andamento.

Em sintonia com Bolsonaro, Elon Musk afirma que Moraes interveio nas eleições de 2022

Musk e a família Bolsonaro tem diferentes interesses próprios que podem ser extraídos da situação em andamento.
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Dando continuidade às agitações de extrema-direita no Brasil, Elon Musk afirmou no dia 9 de abril que Alexandre de Moraes interviu no processo eleitoral de 2022 para favorecer Luiz Inácio. Indicativa de uma articulação da extrema-direita a nível internacional, a afirmação foi em sintonia com a fala de Flavio Bolsonaro um dia antes durante uma entrevista no programa Roda Viva, na qual o senador acusou o TSE de ter interferido em favor de Luiz Inácio no pleito eleitoral. Assim, a polêmica envolvendo Musk-Moraes segue a dar combustível e favorecer a extrema-direita nativa. 

Não há dúvidas de que há uma articulação internacional da extrema-direita. Isso não significa que os bolsonaristas e os magnatas da “alt-right” (como é conhecida a extrema-direita ianque) tenham escritórios secretos onde articulam os planos de atuação. Mas eles têm táticas, alvos e propósitos em comum. Citando as palavras exatas de Musk, o que o magnata reacionário disse foi que Moraes tem Luiz Inácio na “coleira” e que “Alexandre [de Moraes] tirou Lula da prisão e colocou o dedo na balança para eleger Lula”. Concluiu que “a próxima eleição será fundamental”, sinalizando um apoio à candidatura de extrema-direita na próxima edição do pleito eleitoral. Quanto a Flavio Bolsonaro, afirmou que “o que o TSE fez antes, durante e depois das eleições, ficou muito claro para todo mundo que ele pesou muito mais a favor de um lado do que de outro”. São ou não são palavras em sintonia? 

É claro também, nessa articulação, como Musk e a família Bolsonaro tem diferentes interesses próprios que podem ser extraídos da situação em andamento. Musk, além de querer garantir o funcionamento da sua rede social para manter os lucros exorbitantes, faz o que faz para gerar cizânias na política nacional, e usa como principal base política a extrema-direita, capitalizando em cima das pautas centrais desse setor. Assim, ganha espaço para os seus negócios, e ganhará ainda mais se conseguir intervir na vida política nacional de forma a favorecer os setores políticos mais alinhados consigo. Durante o governo Bolsonaro, por exemplo, Musk e o então presidente ultrarreacionário e vendilhão da pátria fecharam um acordo para levar os negócios de Elon Musk à Amazônia. Hoje, o magnata domina o mercado da internet em 90% da região. Os bolsonaristas, por sua vez, sedentos que estão por um fato político para romper o cerco jurídico a Jair Bolsonaro, usam de Musk para tentar convencer que ainda tem cartas na manga a serem lançadas. No dia 7/4, logo no início da trama, Bolsonaro se apressou para afirmar, durante uma live, que a “democracia brasileira” havia ganhado “defensores de peso”. O que quis dizer foi que ele e seus galinhas verdes poderiam contar com mais um aliado no campo da extrema-direita internacional.

E, até agora, a disputa tem sim angariado posições para Bolsonaro. No dia de hoje, jornalões dos monopólios de comunicação trataram da polêmica apontando contra Elon Musk, mas também levantando alertas ao STF. O Editorial do Globo apontou que houve “falta de transparência” do STF na suspensão de contas do X, o que torna “impossível avaliar se as exigências da lei foram respeitadas e empresta certa credibilidade às acusações de arbítrio contra o Supremo, especialmente da extrema-direita”. O colunista do mesmo jornal monopolista, Merval Pereira, apontou que a atuação do X é um “absurdo”, mas também afirmou que “certamente houve excessos por parte do Supremo desde que o inquérito sobre abusos nas redes sociais passou a ser o desaguadouro de outros tantos inquéritos, e Moraes prevento como relator de todos”.

Ou seja, o que os articulistas do monopólio apontam é: é preciso agir contra Musk, mas é preciso ter cautela para tal e agir de forma clara. Se o STF avançar contra Musk de qualquer jeito, corre o risco de ver ainda mais descredibilizada sua imagem frente à opinião pública.

O que nos leva à discussão do combate de fato à extrema-direita, e não os pretensos embates feitos pela corte. Elon Musk não deve ser negligenciado. Deve ser desmoralizado, combatido, mas não tratado como insignificante. Apesar de não ser tão poderoso quanto um Rockefeller, esse pulha metido a mochileiro das galáxias tem articulações sólidas com a extrema-direita internacional. Em 2020, durante o golpe na Bolívia, Musk apoiou as movimentações da golpistas e declarou que “nós daremos [o Estados Unidos] golpes em quem nós quisermos”. Sua empresa, a Tesla, já foi acusada de lucrar com base na exploração do trabalho infantil na África. A própria fortuna do magnata é derivada da exploração de jazidas minerais de esmeralda no continente africano. Se bem que Musk não tem mais acesso a essa mina, ele já ofereceu recompensas em criptomoedas para quem o ajudasse a achá-la de volta. Aqui no Brasil, Musk tem ligações pessoais com a extrema-direita bolsonarista e tem provado que sabe exatamente como mobilizá-la por meio da capitalização política. 

Por isso mesmo que foi insuficiente a forma como o mandatário brasileiro, Luiz Inácio, tratou a questão. “Tem até bilionário tentando fazer foguete, tentando fazer viagem para ver se encontra espaço lá fora, não tem. Ele vai ter que aprender a viver aqui, ele vai ter que usar muito do dinheiro que ele tem para ajudar a preservar isso aqui”, disse o presidente, que evitou até mesmo citar Musk pelo nome.

A extrema-direita não pode ser varrida para baixo do tapete, ou tratada pela via do apaziguamento. Se essa força política segue relevante e atuante no País, é justamente pelo fracasso da via do apaziguamento. Para expurgar os galinhas verdes, seus patrocinadores, seu chefete e possíveis sucessores da vida política nacional, é preciso um enfrentamento sério, o que demanda necessariamente a mobilização das forças populares para o combate consequente e a defesa das liberdades democráticas e direitos fundamentais. 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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