‘Invasão Zero’ volta a atacar camponeses em ação desesperada contra a luta pela terra

Segundo os camponeses, 27 carros, tratores agrícolas e drones foram usados no cerco contra as mais de 200 famílias que estavam no acampamento. 

‘Invasão Zero’ volta a atacar camponeses em ação desesperada contra a luta pela terra

Segundo os camponeses, 27 carros, tratores agrícolas e drones foram usados no cerco contra as mais de 200 famílias que estavam no acampamento. 
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Latifundiários do Espírito Santo tentaram ameaçar camponeses acampados em uma ocupação do MST no município de São Mateus, no Espírito Santo, no dia 17 de abril. Segundo os camponeses, 27 carros, tratores agrícolas e drones foram usados no cerco contra as mais de 200 famílias que estavam no acampamento. 

Não houve relatos de violência física, mas as ameaças foram constantes. Os relatos afirmam que os latifundiários atravessaram mais de uma vez o terreno da ocupação com os tratores e as picapes. A Polícia Militar (PM) também foi mobilizada, mas ficou do lado dos latifundiários. 

Ainda segundo os camponeses, o deputado federal Evair de Melo (PP-ES), coordenador da Frente Parlamentar (FP) Invasão Zero no estado, foi um dos responsáveis por liderar a ação. A FP Invasão Zero surgiu como parte de uma articulação entre parlamentares latifundistas e o grupo paramilitar pró-latifúndio atuante em todo o País, e que em janeiro assassinou a líder indígena Nega Pataxó durante um ataque a uma Terra Indígena. 

Latifundiários convocaram ação anti-camponesa. Foto: Reprodução

Em entrevista ao Brasil de Fato, Invasão Zero negou ter participado da recente ação. Por outro lado, todo o modus operandi do grupo que participou do cerco ao acampamento de São Mateus tem similaridade com o empregado pelo Invasão Zero na Bahia. Primeiro, uma convocatória foi disparada pelo Whatsapp, na tentativa de mobilizar os latifundiários contra o acampamento. Depois, os latifundiários se reuniram e, intermediados pela PM, promoveram a ação. No ataque de janeiro na BA, o grupo paramilitar também atuou de forma que ficou posicionado entre a PM e os indígenas. 

Latifundiários em desespero

As ameaças veladas foram na verdade uma tentativa desesperada, e que repete uma tática fracassada, de tentar desmobilizar a luta pela terra pela intimidação. O acampamento no Espírito Santo foi somente um dos novos erguidos essa semana. Entre os dias 15/4 e 17/4, 28 ocupações foram realizadas em 10 estados por cerca de 20 mil famílias mobilizadas pelo MST, em cifras que já superam os números atingidos pelo movimento nos anos de 2019, 2020 e 2021. 

Esse aumento não é exclusividade do MST: na verdade, a luta pela terra está em crescente há anos no País, e voltou a tomar uma centralidade inquestionável na vida política nacional desde as grandes mobilizações camponesas em Rondônia promovidas pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em 2020 e 2021. Os acampamentos feitos naqueles anos e as batalhas em defesa das terras no Norte e Sul do Estado atraíram atenção de grande parte das forças políticas do País, tanto progressistas quanto reacionárias. O então presidente ultrarreacionário, Jair Bolsonaro, chegou a criminalizar a organização em uma de suas lives presidenciais. 

Criminalização e ataques sem efeito

Ocorre que, cada vez mais, os latifundiários têm refinado e aprimorado os métodos de repressão à luta camponesa na tentativa de deter essa crescente irrefreável. O próprio Invasão Zero, verdadeiro grupo paramilitar com estrutura nacional e conexões claras e abertas com o velho Estado, é expressão disso. 

O próprio Ministério Público Federal (MPF) já afirmou que as ações do “Invasão Zero” são parte de um fenômeno nacional: “assiste-se hoje no Brasil a organizações paramilitares que têm contado com parcela do aparato estatal para perseguir movimentos sociais, trabalhadores rurais, povos indígenas e comunidades quilombolas. O caso de Nega Pataxó, assassinada em janeiro na Bahia, é o mais emblemático”, disse o órgão. O MPF também já afirmou que o Invasão Zero atua de forma análoga a outros grupos da extrema-direita bolsonarista que promoveram o 8/1. 

Camponeses respondem na mesma medida

Até agora, o aumento da repressão latifundiária não atingiu seus objetivos de deter a luta pela terra. Pelo contrário, o ano de 2024 foi iniciado com um novos avanços importantes da luta pela terra, já registrados também nos anos anteriores. 

Em estados como PE e MA, camponeses chegaram a realizar júris populares para condenar os crimes do latifúndio, enquanto em outros como a BA os camponeses acampamentos no Acampamento Mãe Bernadete realizaram o Corte Popular das terras, dividindo o latifúndio tomado em pequenos lotes para os novos posseiros. 

Tudo isso ocorre concomitantemente à preparação dos camponeses para enfrentar de forma cada vez mais proporcional os bandos pistoleiros. No ano passado, a LCP chegou a convocar os camponeses a armarem-se para defenderem-se dos ataques dos latifundiários. O chamado foi reforçado esse ano, em uma nota que condenou o assassinato da liderança indígena Nega Pataxó. 

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