Lunfardo: Um idioma secreto do proletariado (parte 1)

Lunfardo pode tratar-se de uma variação dialetológica de imigrantes, proletários, trabalhadores, principalmente italianos, que se fixaram entre as classes pobres da capital B. Aires e sua periferia.

Lunfardo: Um idioma secreto do proletariado (parte 1)

Lunfardo pode tratar-se de uma variação dialetológica de imigrantes, proletários, trabalhadores, principalmente italianos, que se fixaram entre as classes pobres da capital B. Aires e sua periferia.
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O novo presidente/gerente argentino, o fanfarrão Javier Milei, tem inúmeros apelidos porém poderia ser também chamado de “Colo”, isto é “Loco” ao inverso, numa língua original criada na Argentina nos fins dos anos 1800 e inícios dos 1900: o lunfardo.

“Louco” é o mais antigo apelido de Milei, que o carrega desde surtos escandalosos histéricos na meninice escolar (embora hoje sua “loucura” não engane ninguém e seja apenas fumaça para uma “doença” que acomete todo o latifúndio e a burguesia urbana e rural do país vizinho: o capitalismo).

Mas voltemos ao lunfardo.

Escondido dos patrões e da polícia

A história oficial/burguesa argentina deturpa a origem do lunfardo, limitando-a a uma gíria de bandidos, prostitutas e prisioneiros,usada nas cadeias e delegacias para que não fosse entendida por carcereiros e policiais.

No entanto há estudiosos, como o historiador Oscar Conde, que informam estar-se frente a mais que uma maneirice expressiva  de “criminosos”, como de fato ocorreu em parte. Diz tratar-se de uma variação dialetológica de imigrantes, proletários, trabalhadores, principalmente italianos, que se fixaram entre as classes pobres da capital B. Aires e sua periferia.

Um modo rebelde e astuto de se expressar, uma maneira a mais de defender-se e de resistir às classes opressoras. Uma fala que, portanto, não se restringe ao simples inverter de sílabas.

O que começou como algo a ser escondido, porém logo popularizou-se e expandiu-se, sendo usado com frequência, já nos anos 1900, em letras de tangos, como El Ciruja de Ernesto de la Cruz e Francisco Marino, ou Mano a Mano, de Carlos Gardel.

Migrantes trabalham e ingleses sugam

Até 1850/1870 o proletariado rural argentino sustentou, em suas costas, o rápido crescimento na exportação de matérias-primas derivadas do gado bovino, colocando-a entre as grandes economias do mundo. A partir da década de 1850/60 começou a desenvolver-se um mercado de trabalho urbano, notadamente em B.Aires e periferia.

O processo coincidiu e foi alimentado por mão-de-obra oriunda de forte migração europeia, com muitos italianos. Enquanto isso o imperialismo britânico sugava a nação, mandando para cá, ao país sul-americano, 40% de seus empréstimos destinados ao âmbito estrangeiro.    

Os ironizados banqueiros ladrões

Embora o primeiro livro tratando do insólito idioma tenha sido Lunfardía, em 1953 (de José Gobello) neste 2024 completam-se 50 anos do livro Panorama del Lunfardo (Ediciones Cabargón),redigido por Mario Teruggi, cientista e literato. O geólogo, já falecido, foi o primeiro a estudar os paleossolos (terrenos muito antigos) de seu país, sendo importante figura colaboradora do  Museu de La Plata (Universidade Nacional de La Plata), ao lado de B.Aires.

A palavra lunfardo seria uma deformação etimológica do vocábulo lombardo (região da Lombardia, Itália). Houve aí uma ironia proletária politizada: “A palavra lunfardo é derivada do romanesco lombardo, (presente no falar romano), que queria dizer ‘ladrão’. Isto tem a ver com uma longa tradição europeia, de que como os lombardos foram os primeiros sujeitos que se converteram em banqueiros (e, portanto, em agiotas/prestamistas), aos olhos do resto da sociedade eram considerados estafadores, ladrões”, contou Oscar Conde em uma entrevista de 2018, bem humorado.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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