O dia 23 de maio marca dois meses do covarde assassinato do operário e professor de capoeira Rudimar Rolim Machado pela Brigada Militar/BM (como é chamada a Polícia Militar no Rio Grande do Sul) em Erechim (RS), na região do Alto Uruguai. O operário deixou duas filhas e a esposa.
Logo após o assassinato de Rudimar, o AND entrevistou Dilmar Machado, irmão da vítima e que também foi agredido pelos policiais no dia 23/03. Em nova entrevista ao AND, Dilmar denuncia que o processo pela morte do irmão está sendo maquiado e propositalmente protelado pelas polícias militar e civil. Dilmar denuncia também a continuação das ameaças e tentativas de intimidação por parte dos PMs contra a família, que desde o assassinato de Rudimar tem lutado incessantemente por justiça.
A Nova Democracia (AND): — Dilmar, como se encontra o processo do assassinato de Rudimar na Justiça?
Dilmar Machado (DM): — O processo anda em marcha lenta e está sendo maquiado pela Brigada Militar (BM) e pela própria Polícia Civil (PC), que está investigando. No dia 15/05, nós entramos com um pedido de prisão em cima do Fernando Boschetti [PM que disparou contra Rudimar no momento da agressão], com 22 páginas, e oito linhas foram negadas pelo delegado de Erechim. Estão maquiando a história como ”legítima defesa”. O Boschetti continua mentindo em seus depoimentos, não tem lógica o que ele fala. Estão tentando manchar a imagem do Rudimar, uma pessoa íntegra, que nunca fez mal pra ninguém, nunca teve passagem pela delegacia. O sentimento da nossa família é de impunidade. É uma injustiça muito grande que estão fazendo contra meu irmão.
AND: — Passados dois meses, a família recebeu alguma assistência do Estado?
DM: — No momento, tenho que dizer que está complicado. Não tivemos assistência nenhuma do Estado, isso continua normal, inclusive não saiu nem a pensão alimentícia pras crianças dele. A gente continua de pés e mãos atadas.
AND: – Qual tem sido a atuação da delegacia de Erechim?
DM: — O delegado de Erechim, mesmo tendo os vídeos do caso e tendo provas, está alegando legítima defesa, e dizendo que não é da competência deles investigar lesões corporais. Então é competência de quem? A delegacia civil de Erechim, o delegado titular do caso, não está se importando muito com o caso e está paparicando a BM e o Boschetti.
AND: — Desde o assassinato de Rudimar, a imprensa, a PC e a BM tentaram acobertar o fato. Por que você acredita que há esse esforço em abafar o caso e criminalizar Rudimar?
DM: — Eu acredito que eles são unidos, um bloco fechado. A PC também jamais vai querer ficar contra a BM.
AND: — Em qual estágio está o processo de Rudimar?
DM: — Agora a gente entrou com a petição para recorrer em cima do delegado, para que ele veja melhor a forma que está tratando o caso. Também pra ele dar explicação porque está favorecendo Boschetti, que naquele dia assassinou covardemente meu irmão.
AND: — Qual é a perspectiva da família nessa luta?
DM: — A gente vê que vai ser demorado, sofrido, que vai ser complicado pra nós. Vai ser aquilo que falei ao AND na entrevista anterior, é polícia investigando polícia. Existe lei acima da polícia. O que estamos procurando é que deixem de denegrir a imagem do meu irmão. A gente vai até as últimas consequências. A expectativa nossa é de demora, porque já é isso que está se passando, mas não vamos desistir. Isso pode demorar três, cinco, dez anos e a gente vai continuar procurando por justiça.
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AND: — Como está a família de Rudimar passados os dois meses do assassinato?
DM: — Olha, dizem que o tempo alivia a dor. Mentira! Cada dia que passa, cada dia que nos levantamos, e estamos tomando remédios pra dormir, nós choramos. Nós morávamos todos juntos numa chácara, unidos, convivíamos direto. Meu pai não para de chorar, está entrando em depressão, porque cada coisa que ele fazia o Rudimar estava presente. Desde o dia 23 nunca mais conseguimos levar nossa vida real.
AND: — Na primeira entrevista que realizamos, o Sr. denunciou rondas de policiais à paisana na porta de sua casa. Isto segue acontecendo?
DM: — Sim. Inclusive nós temos registro dentro da Delegacia Civil. A viatura do choque de Passo Fundo esteve na casa do Fernando Boschetti, no dia 18/04. Saíram de lá e desceram até aqui dentro da chácara, uma chácara privada, que eles não tem que entrar, porque é de propriedade da família do morto. Vieram até a porta da minha casa, deram ré, olhei pra eles perguntando pelo que se dava a visita deles, e os quatro brigadianos apenas deram risada, balançando a cabeça em tom de ameaça. Mas nós vamos seguir até o final. Já tiraram a vida do meu irmão, mas manchar o nome dele eles não vão conseguir.
É sempre o medo da própria ameaça da polícia, dos próprios brigadianos à paisana, que continuam querendo nos inibir, achando que a gente vai parar e ter medo. O que não tem na nossa cartilha é medo! A gente não vai parar, porque o que eles tiraram de nós foi uma coisa muito grande.
AND: — O Sr. gostaria de dizer mais alguma coisa para o Brasil e a comunidade de Erechim?
DM: — Eu queria pedir a todo cidadão que nos apoie, que compartilhe as reportagens, que leiam tudo, porque hoje foi com a nossa família e amanhã pode ser com a tua. Eles não assassinaram só meu irmão naquele dia, eles mataram todos nós juntos, porque estamos morrendo um pouco por dia. Estamos com um sentimento muito grande de impunidade, a história foi maquiada do começo ao fim, pelo que estou vendo, eles continuam protegendo uns aos outros, tanto na BM quanto na PC. Peço que todos peçam justiça pelo meu irmão. Queremos que a verdade venha à tona, que doa a quem tem que doer.