AND organiza coletânea de poemas sobre a Palestina

Compilamos abaixo os poemas recebidos pela equipe de redação de AND sobre a questão palestina. Encorajamos nossos leitores a enviarem seus escritos.

AND organiza coletânea de poemas sobre a Palestina

Compilamos abaixo os poemas recebidos pela equipe de redação de AND sobre a questão palestina. Encorajamos nossos leitores a enviarem seus escritos.
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Compilamos abaixo os poemas escritos por nossos leitores e recebidos pela equipe de Redação de AND sobre a questão palestina.


Resiste, meu povo! Resiste!

Traduzido do inglês por Rodrigo Poeta

Na minha Jerusalém, vesti minhas feridas
E respirei minhas tristezas para Deus,
Que carregou a alma na minha palma da mão
Para uma Palestina Árabe.

Eu não vou sucumbir à “solução pacífica”
Desde que o veneno se espalhou,
Matando flores da minha casa.

Nunca abaixei minhas bandeiras,
Até que eu os expulse da minha terra.
Eu gostaria que eles se ajoelhassem por um tempo.

Resiste meu povo! Resiste!

Resiste ao roubo do colono.
Destruir a constituição é vergonha,
Que impõe a degradação e humilhação
E nos impede de restaurar a justiça.

Resiste meu povo! Resiste!
Siga a caravana dos mártires!
Eles queimaram crianças sem culpa,
Quanto a Hadil, eles a denunciaram em público.
Matou-a em plena luz do dia.
Quanto a Maomé, eles arrancaram os olhos,
Crucificaram ele, na dor de desenhada

Em um corpo.

Eles derramaram ódio em Ali!
Começaram os incêndios,

Esperanças queimadas no berço.
Resista ao ataque do colonialista.
Não ligue para seus agentes entre nós,
Que nos acorrentam com a ilusão pacífica.
Não tenha medo do Merkava!
A verdade em seu coração é mais forte,
Enquanto você resistir em uma terra!

Isso tem vivido incansavelmente através de invasões.
Então Ali chamou de seu túmulo:

Resiste, meu povo rebelde.
Escreve-me como prosa no agarwood;
Meus restos têm você como resposta.

Resiste meu povo! Resiste!

Uma Poeta Atrás das Grades

Traduzido por Pedro Camargo

Na prisão, conheci pessoas
Muitas demais para contar:
Assassinos e criminosos,
Ladrões e mentirosos,
Os honestos e aqueles que não o creem,
Os perdidos e confusos,
Os miseráveis e os famintos.
Então, os doentes da minha terra,
Nascidos da dor,
Se negaram a cooperar com a injustiça
Até se tornarem crianças com inocência violada.
A compulsão do mundo os paralisou.
Eles cresceram.
Não, suas tristezas cresceram,
Fortalecendo-se com repressão,
Como rosas em solo salino.

Eles abraçaram o amor sem medo,
E foram condenados por declarar,
“Nós amamos a terra infinitamente”,
Esquecidos de seus feitos…
Então seus amores os libertaram.
Entenda, a prisão é para quem ama.
Eu interroguei minha alma
Em momentos de dúvida e distração
“Quanto a seu crime?”
Seu significado me escapa, agora.
Eu falei daquilo e
Revelei meus pensamentos;
Escrevi sobre a injustiça atual,
Desejos em tinta,
Um poema escrevi…
A acusação desgastou meu corpo,
Dos meus dedos até a ponta de minha cabeça,
Porque sou uma poeta presa,
Uma poeta na terra da arte.
Sou acusada de palavras,
Minha caneta o instrumento.
A tinta – sangue do coração – é testemunha

E lê as acusações.
Ouça, meu destino, minha vida,
Ao que o Juiz disse:
Um poema está no banco dos réus,
Meu poema se transforma em crime.
Na terra da liberdade,
O destino do artista é a prisão


Meninos de Gaza

Escrito por Maxuel Chaves

As sobrancelhas negras e felpudas

As elipses profundas que formam esses olhos

Que enfrentam guerras desde Canaã

Inauguraram uma nova fase da nossa época

Os meninos de Gaza

Escreveram um manifesto debaixo dos escombros

Um chamado a todos os guetos cercados da Terra

Para que não deem nunca mais a outra face


Animais humanos

encurralados.

Pais de família

desesperados.

Mães e avós

desconsoladas.

Filhos dos filhos

dos exilados.

Herdeiros de tantas guerras

por escombros soterrados.

Animais humanos

os condenados da terra.

Flagelados pelos mísseis,

degredados pela guerra.

Não aceitam a derrota,

não entregam suas terras.

Suas mulheres e crianças

são os alvos ideais:

tanto morrem

mas não se esvaem,

se reproduzem demais.

Suas peles tem a tez

muito escura para ter vez

nessa terra do oriente

que se pretende ocidente.

E ocidente não é lugar

para humanos animais,

onde a civilidade reina

sob a belicosa paz.

Humanos não animais

não aceitam a barbárie.

Se a incivilidade

Impera em um país

(ainda mais se há petróleo)

cabe à civilização

invadir e ocupar,

massacrar e destruir,

aprisionar e fuzilar,

bombardear e demolir,

espancar, apedrejar

humilhar, crucificar,

torturar para garantir

a imperiosa PAX.

Humanos não animais

em sua cruzada sagrada,

de combate ao terror

não matam pelo varejo

nem compadecem da dor.

Não sucumbem ao desejo

de ver como seus iguais

àqueles terroristas,

os humanos animais.

Os humanos de verdade

matam por motivo nobre:

democracia e civilidade,

guerreiam contra a pobreza

destruindo com ela o pobre.

Com seus coturnos veganos

arrombam portas de casas,

profanam as mesquitas

dessacram os seus decanos.

Aprisionam crianças

torturam adolescentes.

Às mulheres, mães de família,

vêm trazer a liberdade

abolir a lei da Sharia

semear diversidade.

Diversidade de bombas

que matam com igualdade.

Atentados à bomba

são atos de animais.

Os humanos de fato

não praticam terrorismo

(tal palavra controversa

carregada de cinismo).

Os animais humanos

se abate no atacado,

em massa, industrialmente,

como se chacina o gado.

Verdadeiros seres humanos

matam com modernidade,

com o aperto de um botão.

Com bombardeio cirúrgico

ou arrasa quarteirão.

Campas de refugiados,

cercos expiatórios,

jejuns obrigatórios

para pagar o pecado

da audácia de existir

o crime imperdoável

de nascer atrevidamente

nesta terra prometida

por YHWH ao ocidente.

O homem virtuoso

ao contrário do barbário,

do outro, do diferente,

mata criteriosamente

com método rigoroso.

Os humanos animais,

os trata enquanto tais:

os mata sem piedade

com impessoalidade

em escalas industriais.

Os condena ao degredo

trancados dentro de um gueto,

atrás do arame farpado,

em campos amontoados

trajando pijamas listrados

numa câmara de gás.


Gaza

Escrito por Marconne Oliveira

I

O inimigo é pólvora e mísseis Jericho,
O inimigo é caça F-15, é caça F-16, é Barak, é fósforo branco,
O inimigo é porta-aviões ianque USS Eisenhower e bombardeios sem fim,
O inimigo é Domo de Ferro e é dentes e garras de aço.

No solo sangrento, nos escombros que se pretendem tumbas, no odor de morte,
Nas lágrimas nuas, no ódio cru, no fim da inocência,
Nas gerações apagadas, na dessacralização, no arquejo de um pequeno corpo órfão,
Gaza vê o inimigo e sente seus dentes e garras de aço.

O céu flamejante e os estertores das máquinas de destruição
Convencem o inimigo de seu poder e grandeza.
O inimigo cultua a morte e convence-se que assim se manterá vivo.
Gaza vê o inimigo, sente seus dentes e garras de aço, mas não está convencida.

O inimigo é massacre, mais de sete décadas de massacre,
É invasão, gueto, terra arrasada, terror.
Gaza é uma prisão a céu aberto,
Gaza é a luminosa trincheira de combate do mundo.

II

Oh, Gaza, a dor que o inimigo lhe inflige não é solitária!
Choram, odeiam e estremecem contigo todos os povos do mundo.
E tantos lhe sabem, Gaza, em sua verdade:
Que não és tumba, mas berço de uma heroica Resistência.

Oh, Gaza, teus órfãos são filhos de todo teu povo e de todos os povos do mundo!
Teus heróis e teus mártires são heróis e mártires de todos os oprimidos!
Teu inimigo, sob a falsa bandeira que lhe oprime, esconde outra e tu o sabes.
Teu inimigo é dentes de aço em toda parte e em toda parte será combatido!

Oh, Gaza, se teu corpo arqueja, teu espírito jamais se abalará ou o nosso!
Tua Resistência tem aroma de vida que anima a fé mais concreta e universal na vitória,
Teu épico é um canto entoado pelas bocas multitudinárias, é fogo simbólico e real,
E sagrada és tu, Gaza, pela grandiosa história de luta manifesta em seus combatentes!

Oh, Gaza, a inocência perdida será cobrada da covardia dos que hoje se vangloriam!
Gaza, tu és um povo, uma só família.
Sobre os teus escombros será erigido um monumento a tua coragem e intrepidez
Por tuas gerações presentes e futuras e pelas massas aguerridas sem fim!

III

Gaza, desde a terrível Nakba, tu és acossada pelos mesmos dentes e garras de aço,
Desde 1967, intentam fechar-se completamente sobre ti.
Contra engenhosas tecnologias tu combate incansável.
Teus armados combatentes são extensões de tudo que em ti ama, odeia, vive.

Gaza, sinto-te, como melhor poeta disse antes, uma criatura humana,
E tu és, verdadeiramente, e aí está tua força e o caráter de tua luta.
Tua glória não será uma inerte pintura de museu ou uma fictícia proclamação,
Tua glória não será paga em libras ou dólares, mas com sangue de tuas profundas veias.

Gaza, valente Gaza, tu já sabes e pagas o preço,
Sabes que o arco retesado do tempo não permanecerá nas mãos dos que te açoitam.
Urge o momento de tomá-lo e com ele a tua história,
Que não será uma história de engenhocas, mas de guerreiros.

Gaza, os dentes e garras de aço que bem conheces, tu demonstras hoje,
Pertencem a um apodrecido e virulento tigre amedrontado.
Tua vitória será a vitória de todos que contra ele combatem!
Tua vitória demonstrará que ele é, de fato, um tigre de papel!


Poema em Gaza

Escrito por Ana Nascimento

Eu nasci sob escombros 

Dormi ao som de bombardeios

Explorei os subterrâneos 

E cativei os meus desejos

Há em meu peito ferido

Uma parte de Gaza

Que arde e flameja sorrindo

Ao mesmo tempo que sara

Ouvi tiros ao acordar

Ouvi gritos antes de dormir

Eu vi o sol ao deitar

Esqueci da lua quando me vi

Há cem olhos em Gaza 

Que me observam sem eu os ver

Há mil bocas em Gaza

Que hoje não tem o que comer

Senti o peso do concreto

Senti a poeira em meus pulmões

Em minha casa o céu é o teto

Agarrei o ar com as minhas mãos

Dormi ao som dos bombardeios

Dormi ao som dos gritos abafados

Vi a noite se transformar em dia

Com bolas de fogo incendiando o mar

A chuva branca queimou a pele

Não vejo estrelas por aqui

O céu se tornou meu horizonte

Sob o cárcere aberto eu resisti

Não há mais olhos em Gaza

Não há mais bocas famintas para alimentar

Não há sonhos incontestáveis 

Não há mais ar para respirar

Embora eu tente eu não consigo

Não consigo desacreditar 

Eu acredito no que vejo

E o que vejo não dá para ignorar

Enquanto dormia milhares morriam

Enquanto dançava milhares choravam

Enquanto sorria milhares sentiam

A dor do ódio e da raiva de Gaza

Há um Brasil em Gaza

Que não me deixa esquecer

O sonho de uma menina

Que não pode viver para o ter

Há um Brasil em Gaza 

Sob os escombros de Rafah 

Sob o cerco da morte 

Do terror e da sorte

Há um Brasil em Gaza 

Que não é escrito com Z

Que conhece a guerra  

E desde de criança 

É ensinado a combater 

Caso queira viver

Há um Brasil em Gaza 

Que conhece a dor e a miséria 

A sede e a fome 

E uma vida sem tréguas

Há um Brasil em Gaza 

Que perdeu a vida antes de nascer 

Que viveu para ver seus filhos morrer 

Que morreu sem ter aonde se esconder 

Há um Brasil em Gaza 

Que grita de dor na escuridão 

Que sonha com bombardeios 

Mas não tem medo do trovão 

Mas há um Brasil em Gaza 

Daqueles que no útero resistem 

Daqueles que perto da morte insistem 

E teimosos que são não desistem 

Que não tem medo 

Não tem medo de morrer

Se a vida é a única coisa que lhes resta  

O caminho da vida é lutar para sobreviver 

Há um Brasil em Gaza 

Que enfrenta a fome e a dor 

Que encontra na guerra o calor 

E só sente frio quando a vida se esvai 

Há um Brasil em Gaza 

De olhos semicerrados 

Com a Shemagh no rosto

E com o fuzil sob túneis e buracos

Há dois Brasis 

E há milhares de Gazas 

Há uma Gaza no Brasil 

Na vida de cada favelado 

Que tem no sangue marcado 

Que o teu destino não é ser mais um executado 

Há uma Gaza no Brasil 

Que ensina desde cedo a não aceitar 

Que injustiça se cobra em vida 

E não vamos morrer sem o troco dar 

Israel 

Imperialismo

Senhores da guerra 

Conhecerão o inferno e viverão nele seus últimos dias 

Sentirão na pele a fúria de gerações que serão vingadas

Sentirão o ódio encarnado em cada criança oprimida

Gaza enterrará seus últimos filhos 

A Jihad é luta e também vingança 

E em cada Gaza no mundo brotarão os combatentes mais aguerridos

Em cada menina palestina virá a fúria que te arrancarão as entranhas 

Não é para ser bonito 

Não é para ter métrica 

Os poemas escritos por Gaza 

São odes à guerra sagrada pela liberdade eterna

Não é para ser um gemido 

Tampouco somente um grito 

Que de Gaza a luta e a resistência 

Arranque os grilhões de cada oprimido


POEMA SOBRE IMAGEM DE GAZA: FÓSFORO BRANCO

Escrito por Daniel Moreno

Do céu limpo, emerge em fumaça:
o dragão de alquimia e calvário,
estendendo mãos de cnidário
pra queimar toda a pele du’a raça!
Peço ao vento que o arraste e o desfaça!
Peço à chuva por seu veredito
contra o réu de pó branco maldito
que um dilúvio do céu lavará!
Nem um século de Hasbará
fará o mundo esquecer desse grito…


POEMA SOBRE IMAGEM DE GAZA: HASTEADO NO TANQUE

Escrito por Daniel Moreno

Veja o homem, hasteado no tanque!
Ou melhor, veja o homem e sua arte:
faz o tanque, o tanque faz sua parte,
e o mesm’homem o refaz em palanque!
Ergue à nuvem, pra que não se arranque,
ergue acima do estorvo e o detrito,
a bandeira de um povo proscrito
que germina do rio ao mar!
Nem um século de Hasbará
fará o mundo esquecer desse grito…

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