Camponeses do Acampamento Mãe Bernadete, na Bahia, denunciam e derrotam pistolagem

Camponeses derrotaram uma investida do latifúndio contra o Acampamento no dia 25/4 e conseguiram, com uma campanha de solidariedade, pagar a fiança de três apoiadores presos de forma injusta.

Camponeses do Acampamento Mãe Bernadete, na Bahia, denunciam e derrotam pistolagem

Camponeses derrotaram uma investida do latifúndio contra o Acampamento no dia 25/4 e conseguiram, com uma campanha de solidariedade, pagar a fiança de três apoiadores presos de forma injusta.
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Os camponeses apoiados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) no Acampamento Mãe Bernadete, em Carinhanha, Sul da Bahia, estão derrotando de forma elevada os ataques e ameaças da pistolagem contra o acampamento. As investidas, promovidas por um lado pelos pistoleiros e por outro pelas forças policiais que já prenderam três camponeses nos últimos dias, estão ocorrendo de forma constante desde o dia 16 de abril.

Segundo os camponeses, as investidas, que envolvem a destruição de plantações e casas e o roubo de pertences, são ordenadas pela mineradora Calsete, gerenciada por Lineu Fernando Carvalho, e executadas pelos agentes da empresa terceirizada Faroeste Segurança Patrimonial Ltda.

Na noite do dia 25 de abril, pistoleiros que tentaram invadir o acampamento acabaram fugindo das terras depois de serem repelidos pelos camponeses na base de gritos e foguetes disparados contra os invasores enviados pelo latifúndio.

Os camponeses destacam que, na manhã do mesmo dia, o gerente da Calsete gravou um vídeo no qual afirmou que incêndios haviam acabado com o acampamento, mas a informação foi desmentida pelos camponeses: “Estavam [Lineu e seus agentes] enganados. O Acampamento Mãe Bernadete vive e resiste”, responderam em uma nota, que pode ser lida na íntegra ao final da reportagem.

No dia seguinte, a Polícia Militar foi até o acampamento para conduzir prisões, em uma operação que os camponeses denunciam o conluio dos policiais com o gerente da mineradora. “Lineu acusou os camponeses de terem atirado contra seu carro. Não bastasse se colocar como vítima, Lineu preparou uma armação para prender apoiadores do Acampamento. No dia 26, pela manhã, uma viatura da polícia militar adentrou a área do acampamento e prendeu duas companheiras e um companheiro após atividade em que fotografaram e recolheram as denúncias dos camponeses, sob acusações falsas e provas plantadas e que estariam armados”, denuncia uma nota do Acampamento.

A nova tentativa de intimidação também falhou: as famílias se organizaram e foram até a porta da delegacia para exigir a liberdade dos apoiadores presos, ao mesmo tempo em que coordenaram uma campanha de arrecadação de dinheiro para pagar a fiança. A solidariedade foi elevada, e a quantia de dinheiro necessária foi atingida ainda naquela noite. As duas apoiadores presas foram libertadas, mas o outro apoiador foi mantido em detenção sob alegações de trâmites administrativos.

[Atualização, 29/4, às 14h30: o apoiador foi solto na manhã do dia 27/4].

Na nota produzida para condenar os crimes, os camponeses responsabilizam a empresa Calsete, o gerente Lineu, a terceirizada Faroeste Segurança Patrimonial Ltda e todo o quadro associativo da empresa, formado por Ana Paula Bernady e Gouveia, Heráclito Gouveia, Davi Dacttes Galvão e Davi Silva Simões, pelos ataques.

Eles apontam ainda para a conivência das instituições do Estado com os crimes do latifúndio: “os dois últimos [Davi Dacttes e Davi Silva] são policiais militares do Estado da Bahia, o que comprova mais uma vez a convivência do velho Estado quanto à formação e organização de bandos paramilitares criados para perseguir o povo no campo e nas favelas das grandes cidades”, denuncia a nota, que conclui que “a extrema-direita latifundiária tenta em vão deter a luta pela terra em todo o país aplicando violência e contando com a reacionarização do Estado e apaziguamento dos oportunistas. No entanto, nada poderá deter a justa luta pela terra. “.

Para ampliar as denúncias, os camponeses estão convocando todos os apoiadores a acompanharem as notícias da luta pela página no Instagram do Acampamento e que façam doações para ajudar na campanha de finanças dos camponeses. Os envios podem ser feitos pela chave pix 31987219705.

Barracos e plantações destruídos

Antes da batalha do dia 25/4 e das prisões arbitrárias, os pistoleiros haviam deixado um rastro de destruição nas terras por meio de incêndios criminosos contra casas e plantações. Os crimes foram feitos na tentativa de intimidar os camponeses, mas falharam no objetivo.

“Olha a situação que ficou, queimou tudo, barraco, colchão, coberta, queimou tudo”, denuncia uma camponesa em um vídeo publicado no dia 22/4 na página do Instagram do acampamento. “Olha aqui, porque [os pistoleiros] tem raiva, tem raiva porque nós estamos querendo trabalhar, ninguém tá aqui de brincadeira, por isso que eles estão com raiva”, completa ela, enquanto mira o celular para uma plantação do seu próprio lote erguido nas terras retomadas.

Em um outro vídeo, publicado no dia 27/4 na mesma página, os camponeses mostram uma nova etapa da destruição dos pistoleiros. Dessa vez, um lote de plantação, uma bicicleta e faixas do acampamento foram incendiadas e ferramentas de trabalho foram roubadas pelos paramilitares contratados pelo latifúndio. As evidências do crime foram encontradas pelo camponês dono do lote quando foi iniciar o seu dia de trabalho.

Os pistoleiros só conseguiram realizar o ataque porque as famílias estavam ausentes, trabalhando em outro local e posteriormente finalizando o dia de trabalho com vendas na Festa da Pega do Boi no Mato, uma celebração tradicional que reúne milhares de pessoas em uma comunidade vizinha e que é uma grande oportunidade de renda aos camponeses.

Os camponeses não mostram sinais de intimidação: “Agora você fala que é mentira, Lineu! Prova! Vaza da nossa terra, vagabundo!”, denuncia uma camponesa. Ao fundo, em coro, outros camponeses gritam Viva o Acampamento Mãe Bernadete!, Viva!, Nem que a coisa engrossa! Essa terra é nossa!.

Oito meses de enfrentamento

Mostrar faixa de enfrentamento dos camponeses à Calsete
Camponeses tem enfrentado investidas da pistolagem e forças policiais há 8 meses. Foto: Instagram/Acampamento Mãe Bernadete

O Acampamento Mãe Bernadete completou oito meses um dia depois que os ataques mais recentes começaram. Não foram poucos os enfrentamentos que as famílias apoiadas pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) tiveram que dar contra a pistolagem e as forças policiais para defender seu acampamento, erguido nas terras abandonadas há mais de 20 anos pela mineradora Calsete.

Um deles foi contra uma megaoperação de despejo promovida pela Polícia Militar (PM) de Guanambi e Carinhanha no dia 27 de outubro. De acordo com os camponeses, pistoleiros pagos pela mineradora Calsete estavam junto com os policiais no dia da operação, que reuniu 13 viaturas da PM. Ao todo, o combate durou quatro horas, e os camponeses se retiraram de forma organizada do acampamento depois de terem desmoralizado as tropas da PM. Dois dias depois, os camponeses retornaram ao latifúndio e retomaram as terras, para reerguer seus lotes derrubados pelos tratores da repressão.

Mesmo assim, os camponeses se recusam a abandonar as terras e deixam claro que vão continuar a desenvolver a luta e o trabalho na região. Esse ano, o acampamento galgou um novo patamar ao realizar o Corte Popular, dividindo o latifúndio retomado em lotes separados para 62 famílias, que agora já trabalham na construção dos barracões e plantio do roçado.


Leia na íntegra a nota do Acampamento Mãe Bernadete:

BA: Acampamento Mãe Bernadete Vive e Resiste!

O Acampamento Mãe Bernadete, em Carinhanha na Bahia, completou oito meses no dia 17 de abril, celebrando o Corte Popular para 62 familias de camponeses que prontamente ocuparam seus lotes construindo novos barracões e estabelecendo a produção. Durante todo esse período, apos terem enfrentado uma mega operação de despejo realizada pela Polícia Militar do Estado da Bahia junto com pistoleiros contratados pela Calsete Indústria e Comércios Ltda, com sede em Sete Lagoas, Minas Gerais, as famílias vem resistindo e vencendo as mentiras, calúnias, perseguições e cercos do latifúndio, ganhando cada dia mais o apoio da opinião pública na cidade, no estado e em todo o país.

Lineu Fernando Carvalho, gerente da Calsete, demonstrando seu desespero, covardemente passou a nova investida contra o Acampamento, particularmente nos últimos trinta dias, tendo contratado uma empresa de pistolagem terceirizada chamada Faroeste Segurança Patrimonial Ltda, com sede a 505km de Carinhanha,em Luis Eduardo Magalhães/BA. Seu quadro associativo é composto por Ana Paula Bernardy e Gouveia, Heráclito Gouveia, Davi Dacttes Galvão e Davi Silva Simões. Os dois últimos são policiais militares do Estado da Bahia, o que comprova mais uma vez a convivência do velho Estado quanto à formação e organização de bandos paramilitares criados para perseguir o povo no campo e nas favelas das grandes cidades.

Nos episódios mais recentes, Lineu e sua tropa de covardes sorrateiramente incendiaram vários barracos, aproveitando se do momento em que as famílias estavam trabalhando em outro local e depois na Festa da Pega do Boi no Mato (festa tradicional que reúne milhares de pessoas na comunidade vizinha e que é oportunidade de renda para os camponeses)

No dia 25, Lineu gravou um vídeo onde anunciou que com novos incêndios haviam posto fim ao Acampamento Mãe Bernadete, porém, estavam enganados. O ACAMPAMENTO MÃE BERNADETE VIVE E RESISTE! Nesta mesma noite, ao atacarem o acampamento, deram com os burros n’água, pois encontraram as famílias unidas e organizadas que colocaram a tropa de vagabundos para correr. Frente a frente com a superioridade numérica e moral dos camponeses, debaixo de foguetório e gritos de Morte ao Latifúndio! os pistoleiros e Lineu fugiram atordoados. 

No dia seguinte, demonstrando mais uma vez seu desespero, Lineu acusou os camponeses de terem atirado contra seu carro. Não bastasse tentar se colocar como vítima, Lineu preparou uma armação para prender apoiadores do Acampamento. No dia 26, pela manhã, uma viatura da polícia militar adentrou a área de acampamento e prendeu duas companheiras e um companheiro após atividade em que fotografaram e recolheram as denúncias dos camponeses, sob acusações falsas e provas plantadas de que estariam armados. As companheiras e o companheiro foram levados para a delegacia da cidade sob ameaça de serem transferidos imediatamente para Guanambi. As famílias rapidamente se mobilizaram e foram para a porta da delegacia exigir a soltura de seus apoiadores. O latifúndio pressionou, mas no final da noite, após uma campanha de arrecadação, as fianças foram pagas, contando com participação das famílias e empréstimo de apoiadores. As duas companheiras foram postas em liberdade, mantendo o companheiro detido alegando questões administrativas, mesmo após o pagamento da fiança 

A extrema-direita latifundiária tenta em vão deter a luta pela terra em todo o país aplicando violência e contando com a reacionarização do Estado e apaziguamento dos oportunistas. No entanto, nada poderá deter a justa luta pela terra. 

A Fazenda Lagoa dos Portacios é dos camponeses!
Viva o Acampamento Mãe Bernadete! 
Viva o Corte Popular! 
Abaixo a criminalização da luta pela terra!

Convocamos a todos os democratas, apoiadores da luta pela terra a se juntar ao Comitê de Apoio ao Acampamento Mãe Bernadete, apoiando politicamente com denúncias e divulgação dessa justa luta, acompanhando as notícias pelo Jornal A Nova Democracia e pelo Instagram @acampamento.mae.bernadete.

Particularmente os trabalhadores e operários da Calsete em Sete Lagoas, que rechacem essa grande injustiça e a criminalização da luta pela terra. Convocamos também aos amigos e apoiadores que puderem a contribuir para a campanha de finanças. Que façam Pix para a advogada Doutora Kátia Moraes: 31987219705.

Comitê de Apoio ao Acampamento Mãe Bernadete. 

Carinhanha, 27 de abril de 2024.

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