PR: 5 meses depois, ocupação urbana da FNL em Paiçandu persiste abrigando milhares de pessoas

PR: 5 meses depois, ocupação urbana da FNL em Paiçandu persiste abrigando milhares de pessoas

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No dia 20 de maio, o Comitê de Apoio ao AND – Maringá, foi novamente até a ocupação Dom Hélder Câmara, em Paiçandu, no Paraná (PR), para acompanhar a situação atual do local e conversar com os moradores e lideranças. A ocupação ocorreu há cinco meses. A situação dos prédios, quando da chegada das famílias, era de total abandono. Os edifícios estavam tomados por mato e entulhos, enquanto as redondezas estavam completamente inadequadas para a sobrevivência. A situação foi rapidamente transformada pelos milhares de moradores que integraram a ocupação.

Na época do início da mobilização, 800 trabalhadores da região haviam sido demitidos do dia para a noite devido ao encerramento das atividades do frigorífico Big Boi. No desemprego, muitos trabalhadores perderam também sua moradia.Mesmo diante da situação extrema em que se encontravam inúmeras famílias na cidade, o governo local não tomou atitude alguma para ajudar estas pessoas e o prédio continuou em abandono. A prefeitura se recusou a estabelecer qualquer contato com a FNL e com os moradores ocupantes. 

Famílias abrigadas

A ocupação abriga atualmente 235 famílias, totalizando 1.280 pessoas vivendo atualmente no local, sendo 50 destas de imigrantes, principalmente haitianos e venezuelanos. Allém dos ocupantes, outras 500 famílias aguardam na lista de espera. Todos os apartamentos estão ocupados, exceto por 5 deles, que sempre são mantidos desocupados para abrigar pessoas em situações de emergência.

Um fator que chama a atenção é a baixa rotatividade de moradores. Apenas cerca de 10% do total de pessoas abrigadas deixou o local desde que se iniciou a ocupação, no dia 5 de janeiro. Dentre os que saíram, a principal razão é que conseguiram ou trocaram de emprego. Entre os moradores, são muitos os que relatam ameaças nos locais onde trabalham para que abandonem a ocupação. 

Outro fator que impressiona é a segurança. O local, que costumava ser tido como perigoso pela população ao redor, hoje não tem praticamente registro de criminalidade na região. Muitos dos moradores entrevistados disseram que se sentem muito seguros no local e que a criminalidade alta que antes havia na região, hoje parece ter desaparecido desde que a ocupação se iniciou.

Organização e conquistas 

A organização interna da ocupação consiste na seguinte forma: cada bloco (ou torre), de um total de 6, possui 3 coordenadores, responsáveis por organizar e acompanhar a situação dentro das torres. Todos os domingos ocorrem assembleias gerais, onde todos os moradores são convidados a participar (e efetivamente participam) para discutirem todas as questões referentes à ocupação, com espaço para que cada morador possa se manifestar publicamente caso queira, e para que a direção do local possa repassar oficialmente novas informações e deliberações.

A segurança no local é feita por uma equipe de segurança, composta pelas próprias massas por sistema voluntário, que fazem patrulhamento noturno. Como complemento da segurança, as massas construíram um muro no entorno do prédio. Também existe uma equipe disciplinar delegada para lidar com conflitos internos quando necessário. O trabalho desta é pouco, visto que são raras as necessidades de intervenção, segundo informações de um representante da FNL no local. 

Segundo os dirigentes da ocupação, a cozinha comunitária que havia sido criada para alimentar os moradores foi descontinuada, já que a maioria agora já possui condições próprias de conseguir e preparar seu próprio alimento. Ainda assim, existem cerca de 17 famílias em situação ainda muito sensível e precária, e que recebem auxílio por meio de doações de cestas básicas, preparadas com alimentos doados pelos trabalhadores que moram nos arredores.

Para além da questão da segurança e alimentação, as massas promoveram uma melhora imensurável no prédio e arredores. Todos os corredores dos blocos foram limpos, não havendo mais entulhos de construção na área. Um provedor de internet foi instalado na ocupação, dando a oportunidade para que os moradores possuíssem seu próprio comprovante de residência. Ouvimos relatos de inúmeras pessoas que se emocionaram ao receber sua primeira conta de internet com seu nome escrito. 

Com a conquista dos comprovantes de residência, foi possível que muitas mães solteiras, que estavam com dificuldade em conseguir trabalhar por não terem onde deixar suas crianças, pudessem matricular seus filhos e filhas em creches. Apesar disso, houveram denúncias de que algumas creches não quiseram aceitar as crianças mesmo após a apresentação do comprovante de residência, situação que foi resolvida após a mobilização das massas acompanhadas de assessoria jurídica. 

Foi nos informado que a FNL está firmando parcerias com diversos cursos da Universidade Estadual de Maringá (UEM), para construir e gerir projetos na comunidade. Desde uma rede de atendimento psicológico para atender os moradores até o projeto de uma espécie de creche popular, já em andamento, nomeado de “brinquedoteca”, que serviria para cuidar das crianças da ocupação, especialmente aquelas de mães solteiras que não conseguem vagas em creches em período integral para poderem trabalhar.

Outro projeto que está ainda em fase inicial, e também deve contar com ajuda de estudantes e professores da UEM, é o de uma horta comunitária. A ideia é construir uma horta no local, onde os moradores, especialmente os aposentados, que ficam isolados de atividades sociais e produtivas durante do dia (já que todos os espaços de socialização na cidade tendem a ser acessíveis só a quem possui dinheiro para frequentá-los) possam trabalhar plantando alimentos. O objetivo, segundo um representante da FNL no local, é de que esses alimentos sejam oferecidos de graça para toda a população local.

A relação com a prefeitura

Segundo a FNL, a relação com a prefeitura continua praticamente inexistente. As denúncias afirmam que a prefeitura não ignora somente a ocupação, mas toda aquela área da cidade, afetando tanto os moradores do prédio ocupado quanto as outras massas da região. Moradores da ocupação que foram entrevistados pelo Comitê de Apoio afirmam que até o recolhimento de lixo na região foi dificultado pela prefeitura, o que gerou montanhas de lixo acumulado na localidade. Os trabalhadores da coleta de lixo afirmaram que os caminhões não podiam ir até o local sem autorização prévia, que nem sempre era concedida pela prefeitura. A coleta do lixo só passou a ser efetivamente realizada depois dos moradores e integrantes da ocupação ameaçarem despejar o lixo na frente da prefeitura caso a mesma não tomasse alguma providência. Mais uma prova de que as conquistas para o povo trabalhador só vêm através da luta combativa.

Fica clara a intenção da prefeitura de Paiçandu, que numa atitude covarde, ignora o movimento do povo organizado e se recusa a se comunicar com os integrantes da ocupação, além de promover a piora na condição de vida local na tentativa de, ao impor uma situação de vida degradante aos moradores, desmobilizar a própria ocupação. Os moradores afirmam que também enfrentam problemas com o fornecimento de luz, negado pela Companhia Paranaense de Energia (Copel). A água, por outro lado, passou a ser fornecida após diversas cobranças das massas mobilizadas. 

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