Caos no transporte público na Bahia prenunciam novas greves

Em meio à precarização e má qualidade nos transportes, povo da Bahia sofre as consequências da privatização do direito ao transporte.

Caos no transporte público na Bahia prenunciam novas greves

Em meio à precarização e má qualidade nos transportes, povo da Bahia sofre as consequências da privatização do direito ao transporte.
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Nas últimas semanas, em Salvador e Região Metropolitana, o povo e os trabalhadores em geral têm elevado o grau de descontentamento com as péssimas condições do serviço de transporte público. Crescem e se espalham as denúncias de superlotação, dos constantes atrasos, da falta de ônibus, de higienização e de estrutura.

Conforme já denunciado no AND, a tarifa do transporte público municipal, mais cara de todo o Nordeste, foi reajustada em Novembro de 2023 pelo prefeito Bruno Reis (União) para o valor de R$ 5,20 sob a promessa de “renovação da frota”, ocasião em que os estudantes impuseram resistência à demagogia e exigiram o Passe Livre

Em maior grau, o transporte metropolitano também se encontra em gravíssima crise. No dia 27 de março, a Agência estadual de regulação de serviços públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) comunicou o aumento de 8,11% da tarifa dos ônibus metropolitanos e, sem prévio aviso aos passageiros, a tarifa foi aumentada. A “surpresa” do Estado à população gerou indignação e desde então cresceram as denúncias de sucateamento dos veículos, constantes assaltos e da péssima qualidade do serviço em geral. Soma-se a essa revolta, a categoria dos trabalhadores rodoviárias que, com constantes cortes de linhas, tem enfrentado demissões em massa e perda de inúmeros direitos.

Reprodução/Redes sociais

Em protesto, passageiros fecham saída da estação Mussurunga

Foto: Reprodução/TV Bahia

No dia 8 de março, a revolta dos passageiros eclodiu em mobilização espontânea contra os constantes descasos da empresa AVANÇO. Na época, os trabalhadores exigiram melhores condições de serviço e realizaram diversas denúncias como os constantes atrasos e a consequente superlotação da linha Camaçari-Terminal Mussurunga, uma das principais do transporte metropolitano. 

Em entrevista ao TV BAHIA, uma trabalhadora denunciou os impactos negativos dos atrasos para os trabalhadores. 

“Ligamos diariamente para Agerba, registramos protocolos de reclamação, nós somos organizados enquanto passageiros. Todos os dias alguém liga, reclama e ninguém faz nada. Há uma conivência do poder público em nos ignorar. Eu sou chamada atenção por chegar atrasada no trabalho, assim como outras pessoas, e estamos a mercê dessa empresa Avanço”, disse a trabalhadora.

Com greve, rodoviários metropolitanos mostram o caminho e conquistam direitos.

No dia 17/05 os rodoviários metropolitanos deflagraram greve por tempo indeterminado nas linhas da empresa AVANÇO dos municípios de Santo Amaro, Madre de Deus, Simões Filho, Camaçari, Candeias e São Francisco do Conde. Os trabalhadores exigiram o cumprimento da Convenção Coletiva do Trabalho e a regularização do pagamento do Salário, Ticket Alimentação e da Cesta Básica.

A greve encerrada dia 24/05, que paralisou 11 linhas e afetou 6 cidades da região metropolitana de Salvador, conquistou para os trabalhadores e o povo 12 novos ônibus, 8 novos ônibus climatizados a serem colocados imediatamente na linha Estação Mussurunga X Camaçari e novos ônibus também para a linha de Santo Amaro e Candeias, além de garantir a recomposição salarial gradativamente e o imediato reajuste do ticket, salário e cesta básica. 

Por unanimidade, rodoviários de Salvador aprovam estado de greve

Foto: Reprodução/Correio

Na última quarta (22), em resposta aos mais de 40 dias de negociações e à irrisória proposta dos empresários de reajuste salarial de 1,24%, por UNANIMIDADE, os trabalhadores Rodoviários de Salvador deflagraram “estado de greve”. Os Trabalhadores exigem o reajuste salarial de 4% acima da inflação, 10% para o ticket alimentação, a criação de um aplicativo para controlar horas extras e organização de escalas de serviço. Os rodoviários também denunciaram descumprimentos da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) por parte da OT Trans e constantes assédios morais praticados pela concessionária que adoecem os trabalhadores. 

“Qualquer problema, incidente na rua, mesmo sem culpa, o motorista é penalizado e recebe advertência ou suspensão, como queda da lente de um carro pequeno que encostou no ônibus e o motorista não tem culpa”, denunciou o presidente do Sindicato dos Rodoviários da Bahia Hélio Ferreira.

Os trabalhadores denunciam que muitas vezes as cargas horárias não são completamente contabilizadas ou compensadas e que, em conjunto com excessivas cargas horárias, têm causado um grande adoecimento dos profissionais.

Contra toda essa crise no transporte público, os rodoviários de Salvador já realizam mobilizações desde o início do ano. Somente em Abril, foram duas as vezes em que os trabalhadores se mobilizaram em assembleia e, em protesto, saíram das garagens em atraso. No dia 29 de abril, em combativo protesto, após a assembleia, os trabalhadores realizaram bloqueios na região do Vale dos Barris e na entrada da Estação Lapa e interromperam o funcionamento do BRT, que só voltou a funcionar por volta das 13h. 

 Temendo novas mobilizações dos rodoviários e em tom de clara ameaça ao direito à manifestação política, a prefeitura de Salvador entrou com ação civil pública e conseguiu liminar na Justiça do Trabalho para impedir o bloqueio de garagens e estações com aplicação de multa diária de 20 mil à 200 mil diante descumprimento, sob o pretexto de que as paralisações causam “transtorno à população”. A decisão parece desconsiderar, no entanto, os transtornos que causam, também à população, a superlotação e precarização do serviço de transporte público. 

O correspondente local do AND entrou em contato e entrevistou os rodoviários. Na ocasião, os trabalhadores realizaram importantes denúncias das condições de trabalho. Ao AND, os rodoviários relataram constantes assédios, falta de segurança no exercício da profissão, a baixa valorização salarial, a precariedade da estrutura dos ônibus e a falta de serventia do BRT para solucionar os graves problemas da mobilidade urbana de Salvador. Também já foi denunciado pelo AND, a “ausência de projetos de mobilidade, de consulta e participação da população e estudos que observaram a viabilidade e o impacto técnico, econômico e ambiental” do BRT em Salvador.

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