Contra a crise, 1,4 mil famílias camponesas enfrentam pistoleiros e tomam latifúndios em todo país

Contra a crise, 1,4 mil famílias camponesas enfrentam pistoleiros e tomam latifúndios em todo país

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Milhares de camponeses ocuparam dezenas de latifúndios por todo o Brasil durante o “Carnaval vermelho”, onda de ocupações dirigida pelo movimento Frente Nacional de Luta – Campo e Cidade (FNL) contra a crise que assola o povo brasileiro. Até o momento, as ocupações estão concentradas em Alagoas, São Paulo (na região do Pontal do Paranapanema), no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Segundo a FNL, a previsão é de que os camponeses ocupem mais latifúndios no decorrer de fevereiro.

Segundo o movimento, as terras ocupadas pertencem oficialmente à União e deveriam ser destinadas para a “reforma agrária”. Entretanto, essas terras se encontram nas mãos de poucos latifundiários e, em boa parte dos casos, sem qualquer documentação. 

Ocupações mobilizaram pelo menos 1,4 mil famílias em 20 dias

A FNL afirma que no início de fevereiro diversas ocupações foram realizadas na região da Alta Paulista, em São Paulo. De acordo com o movimento, 164 famílias ocuparam fazendas em Nova Independência (Fazenda Santa Terezinha), Monte Castelo (Fazenda Paz) e Rancharia (Fazenda Marambaia).  

No dia 9 de fevereiro, no estado de Alagoas, 68 famílias ocuparam uma área no bairro Zélia Rocha, localizado no município de Arapiraca. Já em Maragogi, 83 famílias camponesas ocuparam a Fazenda Girassol. No dia 13/02, dezenas de famílias ocuparam outra área em Arapiraca.

No dia 17/02, uma área de 13 hectares abandonada há mais de dez anos pela Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar), em Ponta Grossa, no Paraná, foi ocupada por mais de 70 famílias. A área, atualmente, era utilizada para a descarga de lixo, era alvo de queimadas e do desenvolvimento de pragas, tendo uma parte sua invadida por uma fazenda vizinha. A ocupação foi nomeada Dandara dos Palmares.

No dia 18/02, cerca de 410 famílias camponesas ocuparam três latifúndios no oeste de São Paulo, região do Pontal de Paranapanema. Na ocasião, foram ocupadas áreas em Marabá Paulista (Fazenda Floresta e Fazenda São João), Rosana (Fazenda São Lourenço), Presidente Venceslau (Fazenda São Francisco) e Sandovalina (Fazenda São Domingos, área da empresa latifundiária norueguesa UMOE Bioenergy, onde ocorreu um ataque aos camponeses em 2022). 

Ainda em São Paulo, no dia 19/02, cerca 540 famílias ocuparam latifúndios em Mirante do Paranapanema, Presidente Epitácio e Teodoro Sampaio. Também no dia 19/02, em Japorã, no Mato Grosso do Sul, famílias camponesas ocuparam a Fazenda Fernanda, terra que era propriedade de um traficante já falecido e que por conta disso, teve sua matrícula cancelada pela justiça e aguarda decisão judicial.

Já no dia 20/02, 40 famílias ocuparam uma área no distrito de Jacipora, no município Dracena (SP). A ocupação foi nomeada José Gonçalves da Silva.

No Paraná, camponeses enfrentam criminalização da luta pela terra

No sábado de carnaval (18/02), em Ponta Grossa (PR), a Polícia Militar (PM) retirou as dezenas de famílias que ocupavam a área abandonada pela Prolar. As forças repressivas do velho Estado latifundiário-burocrático reprimiram os camponeses com bombas de gás lacrimogêneo e ameaças de morte. Ao final da operação, 13 integrantes da FNL, entre eles a liderança camponesa Leandro Dias, advogado coordenador da FNL em Ponta Grossa, foram levados à 13ª Divisão Policial de Ponta Grossa. 

Choque da PM reprime camponeses, Ponta Grossa/PR. Foto: FNL

O coordenador denunciou a ação da PM ao jornal local A Rede: “O Choque esteve na ocupação, abordaram um trabalhador, que inclusive mostrou seu crachá de trabalho, afirmando que era trabalhador, e mesmo assim os policiais disseram que não interessava, e que iriam queimar este morador vivo dentro do seu barraco”.

De acordo com a FNL, em nota, “após a ocupação, a prefeitura de Ponta Grossa alega que vendeu o terreno para uma construtora e a PM teria atendido o pedido da proprietária privada, mesmo sem decisão judicial para reintegração de posse.”.

Em SP, latifúndio envia pistoleiros para aterrorizar camponeses

Duas ocupações da FNL, na região do Pontal de Paranapanema (SP), foram atacadas a tiros no dia 18/02 por bandos paramilitares do latifúndio. 

Em Rosana, na Fazenda São Lourenço, pistoleiros dispararam contra as famílias camponesas, avançaram com máquinas sobre os carros dos camponeses acampados e fizeram barricadas na frente dos acampamentos que já existiam na região. De acordo com o movimento, havia também um forte aparato policial, com presença de helicópteros e viaturas. Já em Presidente Venceslau, no acampamento Marielle Franco, homens fortemente armados invadiram a ocupação e expulsaram as famílias camponesas do local. 

Carro de camponês é danificado por pistoleiros. Foto: FNL

Contra a crise, famílias tomam latifúndios por todo o Brasil

O artigo intitulado “Sob chamado da FNL, camponeses ocupam latifúndios por todo país”, publicado por AND em fevereiro de 2022, quando do “Carnaval vermelho” daquele ano, afirma: “A grande mobilização que resultou na tomada de latifúndios por todo país, vem de encontro com o anseio das massas de trabalhadores que, diante da colossal crise que lhe é imposta, é levada a compreender e buscar solucionar seus problemas, conquistando um pedaço de terra. Com isso,  toma forma e se desenvolve a contradição que empurra os camponeses sem terra versus latifúndio, como parte da contradição fundamental de nossa sociedade, massas versus semifeudalidade (contradição nunca resolvida, mas sim fomentada pelo velho Estado).”.

O artigo finaliza: “É sob este cenário que cada vez mais famílias se mobilizam para conseguir um pedaço de terra, enfrentando a tentativa de criminalização dos movimentos populares e os ataques de bandos militares e paramilitares a mando do latifúndio.”.

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