França: Greve Geral mobiliza mais de 3,5 milhões

França: Greve Geral mobiliza mais de 3,5 milhões

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Em luta contra a reforma da previdência, mais de 3,5 milhões de franceses tomaram as ruas em uma nova Greve Geral, no dia 23 de março, segundo a central sindical CGT. Diversas categorias, desde petroleiros a controladores de vôo, de garis a estudantes, realizam greves, bloqueios e protestam combativamente por todo o país. Postos de gasolina já fecham por falta combustível, voos são cancelados, escolas são ocupadas e monopólios bancários impulsionadores da reforma têm a energia bloqueada pelos trabalhadores. 

As mobilizações são uma continuação dos protestos que se iniciaram em janeiro deste ano e que se intensificaram após 16/03, quando Macron usou uma manobra política para forçar a aprovação da medida impopular. 

A reforma é combatida pelos trabalhadores desde sua proposição, há dois anos atrás, e aumenta em dois anos a idade mínima para se aposentar, elevando-a de 62 para 64 anos, e em um ano o tempo mínimo de contribuição, de 42 para 43 anos.

Segundo uma pesquisa da Odoxa para o Le Figaro , cerca de 67% dos franceses defendem que as mobilizações devem continuar, em um número ainda maior que na pesquisa anterior. Para 70%, a “violência e os excessos” são de responsabilidade do governo, e 83% acreditam que as manifestações ficarão ainda maiores e mais combativas nos próximos dias.

Nova greve geral mobiliza um milhão de pessoas

No dia 23/03, uma nova greve geral mobilizou cerca de 1 milhão de pessoas em manifestações, e outras milhares em greves. Cerca de 15% dos servidores públicos estavam em greve, assim como 50% dos professores. Os operários ferroviários também fazem parte da greve e os garis, por sua vez, continuam sua greve iniciada em 06/03. Ainda participam da greve os eletricistas e os petroleiros, que mantém ocupadas a maioria das empresas de energia e refinarias de petróleo na França.

Já as companhias aéreas irão cancelar cerca de 30% de seus vôos, devido a uma greve dos controladores de tráfego aéreo. Os grevistas bloquearam o acesso ao Terminal 1 em Roissy-Charles de Gaulle bloqueado.

Em todo o país, houveram bloqueios e ocupações de pelo menos 148 escolas.

Em Marselha, cerca de 280 mil pessoas se manifestaram contra a reforma, na maior manifestação desde o início dos protestos em janeiro deste ano. Na cidade de Lorient, uma delegacia de polícia e uma subprefeitura foram atacados pelas massas em fúria. Doze policiais ficaram feridos e sete pessoas foram presas.

Delegacia de polícia é incendiada por manifestantes em Lorient. Foto: Sylvain Esnault

Em Rennes, a manifestação, às 14h da tarde, já havia tomado viés combativo, respondendo às bombas de gás lacrimogêneo com fogos de artifício e latas de lixo em chamas. Estavam na manifestação cerca de 35 mil. Em Nantes, o povo rebelado incendiou dezenas de barricadas e incendiou e confiscou o tribunal administrativo local. Participaram das manifestações cerca de 80 mil pessoas. 

Em Paris, no metrô da Gare de Lyon, cerca de 800 trabalhadores, entre professores e profissionais da saúde, bloquearam os trilhos dos trens após uma assembleia. A prefeitura do 5° distrito da cidade, cuja prefeita, Florence Berthout, é a favor da reforma, também teve sua energia cortada pelos eletricistas de Paris. Até a metade do dia, 14 pessoas haviam sido presas na capital.

Neste dia, a Torre Eiffel, o Palácio de Versalhes e outras atrações turísticas tiveram de ser fechadas diante das mobilizações.

Dois meses de manifestações e bloqueios na capital e no interior

As manifestações contra a reforma da previdência têm mobilizado milhares de massas na França. No dia 19 de janeiro, cerca de 1,12 milhões participaram das manifestações. Em 31/01, foram cerca de 1,27 milhões. No dia 16 de fevereiro, foram cerca de 1,3 milhão. Já no dia 07/03, cerca de 3,5 milhões participaram das manifestações por toda a França. 

No final do mês de março, em Paris, Marselha, Lyon, Toulouse, Nantes e Rennes, houveram grandes enfrentamentos com a repressão policial, que prendeu mais de 300 manifestantes, em sua maioria operários e estudantes. Os manifestantes responderam às prisões, espancamentos e ataques com bomba de gás da polícia com  coquetéis molotov e fogos de artifício. Em Besancon, centenas queimaram cartões de eleitor como uma rejeição à democracia burguesa. Agências de trabalho temporário furadoras de greves foram atacadas pelas massas.

Em Paris, no dia 21/03, cerca de 3,5 mil manifestantes se manifestaram apenas na Praça da República, entre estudantes, operários e aposentados, para rechaçar a reforma da previdência. 

Léna, uma estudante de 23 anos, em entrevista ao monopólio de imprensa Le Monde, afirmou que se juntou à manifestação em defesa dos direitos de seus pais: “Eles não duram até os 64 anos, não é possível”, disse. Ela conta, também, que recolheu lixo durante três meses em sua cidade natal em um trabalho de verão, e destaca: “Mas como o governo pode imaginar que aqueles que acordam todos os dias às 5 da manhã poderão trabalhar por tanto tempo? É atroz esse trabalho.”. Ela afirmou, ainda, que continuaria participando das manifestações.

Para garantir seu direito à manifestação, o povo respondeu à repressão policial que buscava bloquear as ruas para onde rumavam o protesto, entoando palavras de ordem contra a polícia. Cerca de 46 manifestantes foram presos.

As organizações revolucionárias Jeunes Révolutionnaires/JR (Jovens Revolucionários) e Ligue de la Jeunesse Révolutionnaire/LJR (Liga da Juventude Revolucionária) têm se organizado por todo território nacional e tomado parte na luta dos operários e estudantes.

Na cidade de Lille, cerca de 900 pessoas protestaram na Praça da República e no bairro Wazemmes, no sul da cidade. Após a repressão policial, que buscava fazer os manifestantes recuar para o ponto de início da manifestação, cerca de 250 jovens enfrentaram a polícia, utilizando de diversas táticas para confundir os agentes e combatendo a repressão com latas de lixo e pedras.

Diversas escolas da cidade se encontram ocupadas pelos estudantes. Ativistas do jornal Cause du Peuple (Causa do Povo) têm realizado brigadas entre a juventude.

Em Nantes, 10 mil manifestantes carregavam tochas em uma manifestação e bradavam: Carreiras perdidas, pensões de merda!. Lojas de grandes monopólios foram confiscadas pelo povo. Os manifestantes responderam aos gases lacrimogêneos atirando sinalizadores contra a polícia.

Diversas vias também foram bloqueadas no dia 21/03 pela manhã em Rennes, Nantes, Laval, Vannes, Brest, Lyon e outras cidades. Os manifestantes distribuíram panfletos no bloqueio.

No Sudoeste, a linha ferroviária entre Pau e Bordéus foi bloqueada por mais de 150 manifestantes que ocuparam as vias nos subúrbios de Pau para impedir a partida de um trem. Em Lyon, cerca de 150 manifestantes também bloquearam os trilhos da estação Perrache. A ponte Saint-Nazaire (Loire-Atlantique) também foi bloqueada por manifestantes em 22/03.

Além disso, manifestantes e trabalhadores do transporte público bloquearam as garagens dos ônibus em La Rochelle e em Rennes. Em Rennes, ativistas do jornal Cause du Peuple também fizeram uma brigada com o jornal nos bloqueios.

Petroleiros enfrentam a polícia em bloqueios de refinarias

Mobilização de petroleiros em frente ao depósito de petróleo da refinaria de Fos-sur-Mer, em 21 de março de 2023. Foto: Christophe Simon / AFP

No dia 23/03, todos os 11 locais de armazenagem de gás da Storengy se encontravam bloqueados pelos trabalhadores. Em 21/03, na refinaria de Petróleo de Fos-sur-Mer, próxima a cidade de Marselha, petroleiros combateram a repressão policial, que tentou prender dezenas de operários em greve contra a reforma. O terminal petrolífero de Donges também foi ocupado durante uma semana pelos operários, enquanto em Le Havre todas as pontes de acesso à zona industrial e ao porto foram bloqueadas na manhã do dia 21/03. Na região de Lyon, os operários da refinaria do monopólio TotalEnergies em Feyzin (Rhône) bloquearam o local.

Patroleiros resistem à repressão policial em Fos-sur-Mer, em 21 de março de 2023. Foto: Daniel Cole / AFP

Partidos a favor da reforma são atacados pelas massas

Diversas sedes de partidos que se posicionaram a favor da reforma da previdência estão sendo alvos das massas em rebelião. A sede do partido Les Républicains (LR) foi atacada em Amiens na noite do dia 20/03 por cerca de 500 manifestantes. “Eles pegaram latas de lixo e explodiram nossa sede”, disse Jean-Marc Albert, vice-secretário departamental do partido de direita, ao monopólio de imprensa Agence France-Presse. Na mesma cidade, o deputado Eric Pauget (LR) também foi apedrejado por massas em fúria no dia 18/03.

Eletricistas cortam energia para bancos e empresas de transporte

Já os operários da eletricidade e do gás de Paris e Val-de-Marne cortaram a energia das sedes dos bancos BNP Paribas e Société Générale e da empresa Transporte autônomo de Paris, que administra o transporte público da capital. Eles também realizaram piquetes na usina nuclear de Gravelines e na usina nuclear de Bugey. 

Garis continuam a greve

A greve dos garis parisienses iniciada em 06/03 contra a reforma da previdência foi, no dia 22/03, renovada até 27/03. Os garis também bloqueiam atualmente as usinas de incineração de Ivry-sur-Seine e Issy-les-Moulineaux. Em Issy-les-Moulineaux, ativistas do jornal Cause du Peuple apoiaram o bloqueio dos garis.

Em apoio aos petroleiros de Fos-sur-Mer, no dia 21/03 os garis de Marselha bloquearam os dois centros de transferência de resíduos da cidade para o incinerador de Fos-sur-Mer.

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