Milhões nas ruas da França: Resistência contra crise e ‘Reforma’ da Previdência 

Milhões nas ruas da França: Resistência contra crise e ‘Reforma’ da Previdência 

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No dia 16 de março, milhares de trabalhadores e estudantes saquearam lojas, ergueram barricadas e entraram em confronto com tropas policiais após o presidente reacionário da França, Emmanuel Macron, usar uma manobra política para forçar a aprovação da “reforma” da previdência. A batalha campal que tomou forma em diversas cidades é a continuação de uma jornada de meses contra a dita reforma. Nesses últimos meses, mais de dois milhões de franceses sairam às ruas para exigir direitos e repudiar as medidas do governo Macron.

Ao longo do dia, diversas ruas de Paris foram bloqueadas pelos manifestantes com faixas e sinalizadores. Em mais de um ponto da cidade, a polícia atacou os manifestantes com bombas de gás, sprays de pimenta, agressões, chutes e espancamentos. Vídeos mostram manifestantes mantendo-se firmes em um cordão de bloqueio enquanto são atingidos diretamente no rosto por sprays de pimenta. 

A repressão brutal desencadeou feroz resistência dos trabalhadores e estudantes: à noite, a capital francesa estava tomada por massas revoltosas que levantaram barricadas e incendiaram carros. Na Praça de Concorde, principal ponto da manifestação ao longo do dia, policiais e viaturas foram alvos de fogos de artifício, pedras e de bombas de gás lacrimogêneo, arremessadas de volta contra as tropas policiais pelos trabalhadores e estudantes. Em torno de 300 pessoas foram detidas na noite de protestos.

‘Reforma’ da previdência de Macron é ataque aos direitos do povo

A agudização dos protestos expressa nas batalhas do dia 16/03 ocorreu após Macron sugerir à primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, que invocasse o artigo 49.3 da legislação francês para aprovar a reforma. O referido artigo permite que a primeira-ministra aprove a reforma sem a necessidade de aprovação pelo parlamento. 

A dita “reforma” da previdência de Macron é um projeto de pelo menos três anos do Estado imperialista francês. Confrontado pelas massas a cada vez que é levado ao parlamento, o projeto busca aumentar em dois anos a idade mínima para se aposentar, elevando-a de 62 para 64 anos, e em um ano o tempo mínimo de contribuição, que passaria de 42 para 43 anos. Destaca-se que, atualmente, na França, os trabalhadores com idade mínima para se aposentar só têm direito à pensão total de aposentadoria caso tenham contribuído o tempo mínimo. Em caso do tempo mínimo não ter sido atingido, a contribuição total só é concedida aos 67 anos de idade. Enquanto isso, a expectativa de vida saudável (dado que define a idade a partir da qual a população, em média, apresenta doenças e comorbidades) no país é de 65,3 anos para as mulheres e de 63,9 anos para os homens. 

A nova tentativa de aprovar a reforma, avivada desde o ano passado, ocorre em meio à grave crise econômica da França. Atualmente, o país sofre com uma inflação sobre os alimentos de 13,3% e um aumento na energia de 16,3%. Em dezembro de 2022, o desemprego no país estava na taxa de 7,20%. Em todo o ano de 2022, o PIB do país cresceu apenas 2,6%, enquanto o previsto era de 4,2%. Nesse cenário calamitoso, Macron recorre às manobras permitidas pela legislação reacionária francesa a fim de salvaguardar os lucros e interesses da burguesia imperialista francesa em detrimento dos direitos da classe operária e demais trabalhadores. 

A grave crise da França não ocorre isoladamente, mas é parte da crise sem precedentes do imperialismo. Em toda a Europa, 46% das massas afirmam que os padrões de vida na região caíram ao longo de 2022, e 39% esperam que a queda continuará ao longo de 2023. Com a constante alta dos preços, 45% das massas europeias afirmam que estão tendo “alguma” ou “muita” dificuldade com o orçamento pessoal. Quase toda a população do continente (93%) está preocupada com o custo de vida, enquanto 82% temem o aumento da pobreza. 

Sem suportar que o peso da crise caia sob seus ombros, trabalhadores de toda a Europa tem se levantado em vigorosas rebeliões. Na França, as manifestações contra a “reforma” da previdência ocorrem de maneira sucessiva há pelo menos dois meses e já levaram mais de dois milhões de pessoas às ruas em diferentes dias. 

Rebeliões estremecem a França por dois meses

Milhões foram às ruas no dia 7 de fevereiro. Foto: Reuters/Sarah Meyssonnier
Todas as refinarias do país foram bloqueadas durante o 7 de março. Foto: AFP
Marcha na cidade de Marselha, na noite do dia 16 de março. Daniel Cole/AP
Manifestantes se defendem da polícia durante confronto da noite do dia 19 de março. Foto: Reuters/Stephanie Mahe

No dia 19 de janeiro, mais de dois milhões de pessoas foram às ruas contra a “reforma” da previdência de Macron. A mobilização atingiu ao menos dez cidades e reuniu operários, rodoviários, metroviários, professores, estudantes e trabalhadores de refinarias. Durante a manifestação, os trabalhadores e estudantes revidaram à repressão policial com fogos de artifício, garrafas e pedras. 

Ainda em janeiro, no dia 31/01, uma nova mobilização reuniu 2,8 milhões de pessoas pelo país. Novamente, trabalhadores do transporte rodoviário e metroviário, professores e estudantes paralisaram suas atividades e foram às ruas. Desta vez, trabalhadores da televisão e operários do setor de energia elétrica também se mobilizaram.

O mês de fevereiro foi estremecido por ao menos três mobilizações: no dia 7 de fevereiro, em torno de 2 milhões de pessoas protestaram em diversas cidades da França. Já no dia 11/02, 2,5 milhões de trabalhadores voltaram às ruas em rechaço à “reforma”. Em adição aos trabalhadores do transporte, professores e estudantes, controladores do tráfego aéreo paralisaram suas atividades no segundo maior aeroporto de Paris. Uma nova mobilização ocorreu ainda no dia 16/02, quando 1,3 milhão de trabalhadores e estudantes foram às ruas. 

A rebelião do povo francês prosseguiu ao longo do mês de março. No dia 06/03, coletores de lixo da França declararam greve. No dia seguinte, 260 protestos reuniram 1,4 milhão de trabalhadores pelo país. Todas as oito refinarias da França foram bloqueadas por trabalhadores grevistas das empresas imperialistas TotalEnergies e ExxonMobil. A rebelião prosseguiu no dia 11/03. Um milhão de trabalhadores foram às ruas do país em protestos que bloquearam vias e ergueram barricadas em chamas pelas principais cidades francesas. Mais 200 protestos voltaram a tomar forma no país no dia 15/03, quando coletores de lixo, ferroviários, professores, operários das refinarias e estivadores protestaram contra a “reforma”. Assim como nas outras mobilizações, as tropas de repressão tentaram dispersar os manifestantes com descargas e bombas de gás lacrimogêneo, tornando-se alvos de diversos objetos arremessados pelos manifestantes.

A cada greve e a cada protesto, o povo francês avança em sua rebelião e oferece provas de que não aceitará a “reforma” da previdência ou quaisquer outros projetos e medidas que busquem repassar o preço da crise dos imperialistas para os ombros das massas populares, retirando direitos e garantias históricas. Do outro lado, Macron segue firmemente comprometido com a burguesia imperialista francesa, afirmando que os “riscos econômicos” são altos demais caso a reforma não seja aprovada (uma versão diferenciada da velha história sobre a “reação do mercado”). O ministro do Orçamento de Macron, por sua vez, foi mais direto em suas ameaças contra os direitos do povo: “Se nós não fizermos [a “reforma”] hoje, são medidas muito mais brutais que teremos que tomar no futuro”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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