GO: Camponeses ocupam latifúndios e geram alvoroço em grupos da extrema-direita

GO: Camponeses ocupam latifúndios e geram alvoroço em grupos da extrema-direita

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Ocupação em Maurilândia (GO) provocou alvoroço em grupos bolsonaristas. Foto: Banco de Dados AND

Ao menos três latifúndios foram ocupados por camponeses pobres em Goiânia dentro de um espaço de três dias. As ocupações foram espontâneas e ocorreram em São João D’Aliança, Maurilândia e Trindade, entre o dia 2 e 4 de outubro.

No dia 2 de outubro, em que se realizava mais uma edição da farsa eleitoral, cerca de 50 famílias camponesas ocuparam uma propriedade rural em São João D’Aliança, no norte do estado. No mesmo dia, o Batalhão Rural foi acionado e os camponeses foram obrigados a desocupar o local.

Também no dia 2 de outubro, aproximadamente 50 camponeses ocuparam a Fazenda Boa Esperança Cabeleira, no município de Maurilândia, no sul de Goiás. A propriedade é administrada pelo Grupo Franco Ribeiro Andrade, latifundiários pecuaristas alinhados com o governo militar de Bolsonaro e generais. No dia seguinte, o neto do dono da fazenda foi ao local gravar um vídeo e intimidar os camponeses, que afirmam representar os herdeiros de uma família que seria proprietária da terra.

O terceiro caso aconteceu em Trindade, na região metropolitana de Goiânia. No dia 4 de setembro, cerca de 20 pessoas tomaram uma área pública destinada à construção de casas. Ainda no mesmo dia ela foi desocupada.

Contra a crise, camponeses tomam terra

As ocupações ocorrem em meio a um agravamento da situação de miséria, carestia e aumento do índice de desemprego do povo, em geral, e de camponeses pobres sem terra ou com pouca terra e povos indígenas, em particular.

Logo após as tomadas, a imprensa reacionária lançou ataques aos camponeses. Um dos portais pró-latifúndios que repercutiram a notícia da luta dos camponeses chegou a afirmar que “os sem-terra agiram no domingo em razão das eleições”, supondo que a principal motivação dos camponeses fosse a realização da farsa eleitoral.

Em entrevista à imprensa pró-latifúndio Compre Rural, Arthur Augusto de Andrade Vanette, advogado representante do Grupo Franco Ribeiro Andrade e neto do latifundiário que teve uma de suas fazendas ocupadas em Maurilândia, afirmou que os camponeses “aproveitaram a data da eleição para entrar na fazenda”, “contando com a eleição do candidato petista e ex-presidente”. O advogado ainda afirma: “Estamos contando com a reeleição de Bolsonaro, pois, caso contrário, podemos esperar coisas muito piores”.

Os defensores do latifúndio também acusaram os camponeses de integrarem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sem qualquer prova e como se tratasse de um grave crime integrar uma organização de luta pela terra. A direção do MST, por sua vez, prontamente buscou desvencilhar a sua organização de qualquer tomada de terra no estado, uma vez mais afirmando seu caminho eleitoreiro de abandono da tática de ocupação como meio de conquistar a terra. Em declarações realizadas meses antes, já no contexto da realização da farsa eleitoral, Alexandre Conceição, membro da direção nacional do MST, defendeu que a derrota do latifúndio e do “agronegócio” passa pela derrota de Bolsonaro na farsa eleitoral, e não da tomada cada vez maior de terras pelos camponeses organizados contra o latifúndio.

LATIFUNDIÁRIOS MENTEM

O latifúndio e sua imprensa lixo não cansam de afirmar que durante o governo militar genocida de Bolsonaro e generais o número de ocupações reduziu drasticamente, falácia sustentada pelo próprio presidente de turno. Os inimigos do povo apontam para os números de ocorrências registradas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), tentando, em vão, apagar a relevância e importância da luta dos camponeses pobres por todo o Brasil.

TOMADAS DE TERRA AUMENTAM POR TODO O BRASIL

Os números propagandeados pelo governo e imprensa do latifúndio são todos eles desmentidos pela realidade. Desde 2017, os dados acerca das ocupações são recolhidos através do Controle de Tensões e Conflitos Agrários (CTCA), um sistema virtual, que coloca a cargo dos latifundiários passar ou não a informação sobre as ocupações.

Dados mais confiáveis dos conflitos agrários de 2021, trazidos à tona pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), expressam que, somente em 2020, o número de famílias em ocupações e retomadas teve um aumento de 558,57%, passando do número estimado de 519 para 3,4 mil famílias. O relatório contabiliza também um aumento de 3,55% das famílias envolvidas nos conflitos.

No artigo Cresce o número de famílias em tomadas de terras por todo o Brasil, o AND afirma que apenas nos quatro primeiros meses de 2022 houve 16 ocupações e retomadas de terra pelo país envolvendo mais de 3,3 mil famílias camponesas, indígenas e quilombolas. Os dados indicam que ao menos 13,7 mil pessoas se lançaram às tomadas e retomadas. Essas aconteceram nos estados da Bahia, Pará, Brasília, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Leia também: Cresce o número de famílias em tomadas de terras por todo país

NADA NEM NINGUÉM DETERÁ A LUTA PELA TERRA

A Liga dos Camponeses Pobres (LCP), em agosto deste ano, em nota intitulada Viva a memória dos camponeses assassinados em Rondônia!, declarou: “[…] desde que o presidente Bolsonaro declarou guerra à LCP, ameaçando impor terror promovendo massacres de camponeses, não mediram esforços e gastaram verdadeiras fortunas de dinheiro público para levar adiante gigantescas e ilegais operações de guerra contra os camponeses pobres da região, onde a chamada operação Nova Mutum está entre a mais conhecida. Tudo para manter os indecentes privilégios do latifúndio, tudo na vã tentativa de paralisar o avanço da luta camponesa pela terra.”.

A nota finaliza: “E uma vez mais repetimos, ninguém, nenhum terrorismo de Estado conseguirá parar a luta pela terra! Enquanto a terra estiver concentrada nas mãos de um punhado de latifundiários parasitas da Nação, a luta pela terra a favor dos camponeses vai continuar independente da vontade de quem quer que seja. Não adianta senhores! Nada nem ninguém nos deterão! O sangue não afoga a revolução, senão que a rega! O que faz esta reação apodrecida é só aumentar nosso ódio e disposição para lutar. Estamos fazendo as contas, e vamos cobrar. Vocês verão como pagarão caro! Estes camponeses assassinados eram trabalhadores honrados, companheiros da LCP, lideranças reconhecidas pelas massas. Não tarda o dia em que o campesinato se levantará aos milhões, varrerá com o latifúndio e cobrará os séculos de exploração e violência contra nós cometido.”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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