México: Latifundiários e pistoleiros promovem ataque contra camponeses em Tehuantepec

México: Latifundiários e pistoleiros promovem ataque contra camponeses em Tehuantepec

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No dia 29 de janeiro, dois latifundiários e um grupo de pistoleiros atacaram a comunidade camponesa Rincón Tagolaba, na cidade de Tehuantepec, em Oaxaca. A tentativa de intimidação promovida pelos paramilitares envolveu a destruição de estruturas de trabalho e disparos com arma de fogo contra as casas dos camponeses. Apesar das denúncias imediatas dos moradores, a Guarda Nacional só apareceu na comunidade após a saída dos pistoleiros. A comunidade recebeu apoio de diversas organizações mexicanas e internacionais e prometeu mais organização e mobilização combativa como resposta.

O ataque foi iniciado quando Sergio Gutiérrez Garcia e Anastacio Gutiérrez Garcia, irmãos latifundiários e cabecilhas de bandos paramilitares da região, invadiram a comunidade de Rincón Tagolaba acompanhados por um grupo de pistoleiros armados. Durante o assalto, o bando derrubou postes e cercas das áreas de trabalho e destruiu mangueiras para transporte de água potável e redes de acesso à comunidade. Ainda como parte do ataque reacionário, o grupelho cercou e alvejou com tiros as casas dos camponeses, principalmente as dos representantes comunitários. No todo, a ação durou em torno de cinco horas. 

No momento em que o ataque começou, os camponeses notificaram a Secretaria do Governo do Estado de Oaxaca, a Procuradoria Geral do Estado de Oaxaca, a Defensoría dos Direitos do Povo de Oaxaca e o Mecanismo Nacional para Proteção de Pessoas Defensoras e Jornalistas. Apesar do aviso imediato e da duração extensa do ataque dos pistoleiros, não houve nenhuma resposta, durante o assalto, por parte das instituições do velho Estado mexicano. 

O primeiro sinal do velho Estado mexicano na região se deu com a chegada de militares da Guarda Nacional – força comumente usada na repressão aos camponeses do país – em Rincon Tagolaba. Segundo as testemunhas, a viatura militar chegou na região minutos após o fim do ataque e da saída dos pistoleiros, que ainda tiveram tempo de coletar as cápsulas dos projéteis disparados contra as casas dos moradores. 

VELHO ESTADO MEXICANO FOI CONIVENTE COM SUCESSIVOS ATAQUES DE PISTOLEIROS À CAMPONESES

O ataque do dia 29/01 não foi o primeiro realizado pelos irmãos García contra a comunidade de Rincon Tagolaba, nem contra os camponeses da região de Tehuantepec ou do estado de Oaxaca. Segundo a Corrente do Povo – Sol Vermelho (CP-SV), movimento popular com forte atuação em Oaxaca, os irmãos são chefes do bando paramilitar conhecido como Cartel do Despejo, grupo que atua na região sob mando do latifúndio, empresas imperialistas e diferentes níveis do velho Estado mexicano com o propósito de expulsar comunidades camponesas e pequenos proprietários para dar lugar à construção de megaprojetos na região. Em setembro de 2022, o próprio presidente oportunista do México, André Manuel López Obrador, acusou os irmãos García de realizarem ataques contra camponeses em Tehuantepec. Apesar disso, Sergio García é, ainda, presidente do Comissariado de Bens Comunais da região de Santa Cruz Tagolaba. 

No dia 31 de julho de 2022, Sergio Garcia invadiu a comunidade de Rincón Tagolaba acompanhado de um bando de pistoleiros. Na ocasião, o latifundiário tinha o objetivo de impor Luís López Zárate, criminoso conhecido na região, como seu substituto no cargo do comissariado. A tentativa foi rechaçada pelos camponeses, que conheciam o histórico de Zárate. Garcia então ameaçou os moradores afirmando que voltaria à região. O fato foi denunciado à Procuradoria Geral do Estado de Oaxaca, que não tomou providências contra García.

Três meses depois, em Santa Cruz Tagolaba (região em que os irmãos García possuem quatro processos penais movidos contra eles), dois ativistas da CP-SV, Jesús Martínez e Érick Sánchez, foram alvejados a tiros de arma de fogo por pistoleiros. Jesús Martínez foi assassinado no ato, enquanto Èrick Sánchez foi hospitalizado. Na ocasião, a CP-SV acusou os irmãos García de terem maquinado a morte dos dois ativistas como parte de uma “estratégia de contrainsurgência do velho Estado para impor políticas e governos antipovo, bem como megaprojetos imperialistas de despejo e morte”.

No dia 17/01, 12 dias antes do recente ataque, elementos desconhecidos foram avistados derrubando árvores na área da comunidade de Rincón Tagolaba. Os indivíduos foram abordados pelos camponeses e admitiram estarem ali a serviço de Sérgio Gutiérrez Garcia, que teria ordenado a liberação de 100 hectares da terra na região. O bando foi expulso da comunidade pelos camponeses e a madeira extraída foi mantida pela comunidade. 

Madeira extraída por pistoleiros e retomada por camponeses. Foto: El Mural
Madeira extraída por pistoleiros e retomada por camponeses. Foto: El Mural

CAMPONESES PROMETEM MAIS ORGANIZAÇÃO E RECEBEM SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

Todos estes ataques fazem parte do contexto incendiário da luta pela terra em Oaxaca, palco de intensas mobilizações camponesas contra os megaprojetos do imperialismo e pela Revolução Agrária.

Nesse cenário, os camponeses de Tehuantepec afirmaram em um comunicado que “frente a essas agressões de grupos mercenários e paramilitares, e a cumplicidade do Estado, a resposta dos povos é a organização e a mobilização combativa”.

Como parte dessa mobilização, os camponeses angariaram, até o dia 1° de fevereiro, o apoio de mais de 40 organizações de diferentes lugares do México. Se soma a esse apoio os pronunciamentos e as mobilizações em diferentes países. Na Alemanha, revolucionários anunciaram a preparação de uma manifestação em Hamburgo contra o terror contra os camponeses no México e no Brasil. Segundo o comunicado, o protesto deve ocorrer no dia 8 de fevereiro.

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