MS: Vitoriosa mobilização Guarani-Kaiowá conquista a liberdade de oito presos políticos em Dourados

Os Guarani-Kaiowá trancaram parte da rodovia MS-379 por mais de oitos horas. Foto: Banco de dados AND
Os Guarani-Kaiowá trancaram parte da rodovia MS-379 por mais de oitos horas. Foto: Banco de dados AND

MS: Vitoriosa mobilização Guarani-Kaiowá conquista a liberdade de oito presos políticos em Dourados

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No dia 22 de abril, em Dourados, a 200 km de Campo Grande, indígenas Guarani-Kaiowá trancaram parte do Anel Viário Norte da rodovia MS-379 em protesto pela liberdade de nove indígenas presos. Os indígenas detentos estavam na Penitenciária Estadual de Dourados (PED) desde o dia 08/04 após operação ilegal e sem mandado, conduzida pela tropa de choque e pelo batalhão da Polícia Militar (PM) de Mato Grosso do Sul (MS). Nesse período, houve ainda ação de pistoleiros que incendiaram o barraco de um dos indígenas detidos.

A operação faz parte do processo de criminalização da justa luta pela terra e tais prisões políticas têm o intuito de reprimir a Retomada Nova Yvu Vera. Esse território indígena enfrenta o interesse dos magnatas da Corpal Incorporadora e Construtora, que busca levar a cabo seu plano de construir condomínios de luxo mesmo sobre o sangue e nas terras sagradas Guarani-Kaiowá. 

Leia também: MS: Retomada Guarani-Kaiowá é reprimida pela PM e 10 indígenas são presos em Dourados

Cenas do trancamento. Vídeo: Banco de Dados AND

Contra a criminalização da luta, a resistência indígena segue em pé

Dando mostras de sua combatividade, os indígenas fizeram o trancamento do Anel Viário Norte e afirmaram que não deixariam o local até que todos os presos políticos fossem libertados. O trancamento começou às 8h da manhã e foi mantido por toda a manhã e quase toda tarde, quando, próximo das 16h30, tiveram que enfrentar a repressão violenta da tropa de choque.

Mesmo sabendo que era uma manifestação legítima, em que havia crianças e idosos presentes, as forças repressivas efetuaram disparos com bala de borracha e gás lacrimogêneo. Alguns indígenas relataram que os soldados da tropa de choque miraram nos seus olhos ao disparar e outros relataram ter havido disparos com armas de fogo. Um homem foi ferido com uma bala de borracha próximo a seu olho esquerdo. 

Guerreiro Guarani-Kaiowá mostra o ferimento resultante do disparo de bala de borracha da tropa de choque da PM. Foto: Banco de Dados AND

Com a ação policial, a rodovia foi liberada, mas foi ainda mais liberada a fúria dos guerreiros Guarani-Kaiowá, que garantiram não se abater e que a resposta seria dada aos desmandos desse velho Estado. Mesmo os que estavam feridos se mantiveram firmes com o compromisso de libertar seus companheiros presos injustamente e sem provas.

Às 23h30 do mesmo dia, a retomada foi invadida por uma picape vermelha com duas pessoas na caçamba. Ela estava indo em alta velocidade na direção dos barracos. Os indígenas acreditaram ser um ataque de pistoleiros e rapidamente alertaram as famílias. Felizmente, ninguém foi atropelado.

A combatividade dos Guarani-Kaiowá conquistou a liberdade de seus presos políticos

Guerreira Guarani-Kaiowá denunciam as prisões políticas de seus companheiros. Banco de Dados AND

No dia 28/04, menos de uma semana após a forte mobilização e resistência no Anel Viário, o Tribunal Regional Federal da 3ª região (TRF-3) concedeu o habeas corpus aos acusados e revogou a prisão preventiva dos mesmos. Não obstante, no dia seguinte, apenas sete deles foram imediatamente liberados. Magno de Souza só foi autorizado a sair no dia 2º de maio, após colocar uma tornozeleira eletrônica, e Cledeildo de Souza foi mantido preso sob a alegação de outro crime.

A liberdade dos presos políticos é uma vitória da luta Guarani-Kaiowá, que, mesmo em meio às dificuldades impostas pela luta, enfrentaram firmes a criminalização. Contudo, embora tenham saído da prisão, todos foram proibidos de frequentar a Retomada Nova Yvu Vera e deverão comparecer regularmente na delegacia. 

Sete dos nove Guarani-Kaiowá após sua liberação no dia 29 de abril. Foto: G1

A situação da luta pela terra segue se agravando e comprovando-se como centro da luta de classes no país. A verdade é que o judiciário local, serviçal do latifúndio, não poderia manter os indígenas presos dada a força da mobilização que estava tomando fôlego e prometia maior radicalização, somando-se a isso a ausência de provas e as denúncias feitas pelos diversos grupos democráticos apoiadores da causa indígena, não houve como sustentar as prisões arbitrárias. A perspectiva dos povos indígenas segue sendo retomar suas terras, pois esse é um direito democrático que tem sido secularmente negado e através da autodemarcação ele será cumprido.

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