Colômbia assume papel em sequestros de ativistas há 29 anos atrás, mas segue com mesmas práticas

Estado colombiano assumiu responsabilidade no sequestro dos ativistas Jhon Ubaté e Gloria Bogotá, em 1995, mas realidade de repressão sistemática a lideranças populares, em especial camponesas e indígenas, segue no país, empreendidas pelas Forças Armadas patrocinadas pelo USA.

Colômbia assume papel em sequestros de ativistas há 29 anos atrás, mas segue com mesmas práticas

Estado colombiano assumiu responsabilidade no sequestro dos ativistas Jhon Ubaté e Gloria Bogotá, em 1995, mas realidade de repressão sistemática a lideranças populares, em especial camponesas e indígenas, segue no país, empreendidas pelas Forças Armadas patrocinadas pelo USA.
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Depois de 29 anos, o Estado colombiano reconheceu, no dia 30 de janeiro, a responsabilidade no desaparecimento dos ativistas Jhon Ubaté e Gloria Bogotá, sequestrados em 1995. O reconhecimento formal foi feito em uma sessão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Apesar do reconhecimento, nada mudou no Estado e na realidade colombianas desde 1995, e o país ainda registra números absurdos de desaparecimentos forçados, assassinatos e execuções nos quais o Estado colombiano, particularmente as Forças Armadas reacionárias patrocinadas diretamente pelo Estados Unidos (USA), tem envolvimento ou responsabilidade direta.

A decisão da CIDH ainda será divulgada, mas a corte exigiu de antemão que a Colômbia seja responsabilizada pela “violência sistemática e generalizada”. Uma representante da Agência Nacional de Defesa Jurídica do Estado da Colômbia prometeu ressarcir os familiares pelos danos causados. 

As vítimas do sequestro eram destacadas lideranças de organizações populares. Ubaté chegou a ser membro do Exército Popular de Libertação (EPL) e depois foi integrante do Comitê de Direitos Humanos da Comuna 20. Bogotá era líder da mesma comuna. Ambos foram sequestrados no dia 19 de maio de 1995 por um grupo da Unidade Anti Extorsão e Sequestro da Polícia (Unase) da Colômbia. 

Outras condenações

Além do caso de Bogotá e Ubaté, a CIDH ainda julgará a Colômbia em casos ligados a corrupção, violação de terras indígenas e mais um de ameaças a advogados. 

Essa não é a primeira vez que o Estado colombiano é condenado na CIDH. A entidade já havia sido declarada responsável por desaparecimentos forçados e prisões arbitrárias em Medellín durante a Operação Orión, lançada pelo ex-presidente Álvaro Uribe contra as guerrilhas que lutavam no País contra o latifúndio. 

A condenação é, certamente, uma vitória para os familiares e organizações que lutam há décadas pela responsabilização do Estado colombiano pelos crimes contra ativistas no país. Por outro lado, o discurso de reconhecimento do crime tem pouco efeito frente à manutenção, por parte do Estado colombiano e seus governantes, das mesmas estruturas contra as quais Ubaté e Bogotá lutavam contra e da repressão sistemática na forma de execuções e sequestros ainda empreendida contra lideranças populares do país. 

232 assassinatos em 2023 

No ano passado, ao menos 232 ativistas, em sua maioria camponeses e indígenas, foram assassinados no país latinoamericano por grupos paramilitares e as tropas oficiais do Estado reacionário gerido pelo oportunista Gustavo Petro. Em agosto, protestos chegaram a ocorrer em Bogotá contra o número elevado de assassinatos de lideranças. Naquela época, já haviam sido 97 assassinatos. 

Os anos anteriores registraram números tão altos quanto. As taxas estão diretamente relacionadas às operações dos órgãos repressivos da Colômbia, em especial as Forças Armadas, contra aqueles que lutam por melhores condições de vida no país ou contra velhas estruturas, em especial o latifúndio. No ano retrasado, 11 camponeses foram assassinados no dia 28 de março em um massacre brutal realizado pelo Exército da Colômbia junto da Força Aérea e da Força de Reação Imediata. Um mês antes, 20 guerrilheiros foram assassinados em uma operação do Exército reacionário em Arauca. Não houve condenação formal do velho Estado colombiano por conta desses massacres.

Nesse cenário de repressão brutal, o Estados Unidos (USA) tem participação direta: desde o ano de 1999, quatro anos depois do sequestro de Bogotá e Ubaté, o imperialismo norte-americano inflou o Exército colombiano com verbas e coordenou de perto algumas estratégias de operação a partir do “Plano Colômbia”. Com previsão inicial para durar seis anos, o Plano nunca foi encerrado (em 2016, foi substituído pelo infame programa “Paz Colômbia”) e deixou marcas profundas no país. Apesar disso, o USA também nunca foi condenado pelo seu patrocínio direto e sistemático à guerra contra o povo na Colômbia. 

Mas ao mesmo tempo que a situação da Colômbia, do Estado colombiano e das velhas estruturas arcaicas segue incólume, exceto pelo agravamento da crise geral que afeta todo o país e essas mesmas estruturas, a luta do povo contra essa mesma ordem de exploração segue em voga. Os protestos populares contra os crimes de Estado são uma comprovação, lado a lado com as tomadas de terras camponesas e indígenas e, evidentemente, as operações guerrilheiras que, em caminho ziguezagueante e cheio de reviravoltas, seguem a ocorrer contra os latifundiários e militares reacionários.

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