Editorial semanal – As perspectivas estreitas do governo oportunista

Editorial semanal – As perspectivas estreitas do governo oportunista

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A última pesquisa Datafolha revelou que 29% dos brasileiros consideram o governo de turno de Luiz Inácio “ruim ou péssimo”, seguido por 30% que o tomam por “regular” e 38% que o consideram “ótimo ou bom”.

Em situações normais de temperatura e pressão, é esperado, para o início de mandato, que a aprovação seja maior; de tal sorte que o atual governo tem, junto ao de Bolsonaro em 2018 (na margem de erro), a pior reprovação para os três primeiros meses desde a chamada “redemocratização” (1988). Além disso, os 29% que tomam o governo por “ruim ou péssimo” é o mesmo percentual registrado no pior momento de Luiz Inácio na presidência, datado em dezembro de 2005, quando estourara o caso do “mensalão”.

A pesquisa trouxe ainda a informação de que 51% dos entrevistados consideram que o governo fez menos do que se esperava nos três primeiros meses, e 50% acreditam que o governo cumprirá parte, mas não a maioria das promessas (outros 21% acreditam, ainda, que ele não cumprirá nenhuma delas, totalizando 71%).

Nas áreas em que o governo tem ido pior, destaca-se o tópico “economia”, sendo citado por 15% dos entrevistados, seguido por saúde e segurança pública (12%), corrupção e combate ao desemprego (10%).

É preciso ponderar, todavia, que na população mais pobre, os índices positivos do governo são superiores à média: 45% consideram-no “bom ou ótimo”. Mas é justamente essa parcela mais pobre do povo que considera que ele fez menos do que se esperava (50%) e dois terços creem que Lula cumprirá parte, mas não a maioria das promessas ou que não cumprirá mesmo nenhuma.

Em primeiro lugar, é o próprio regime político que está desacreditado, e logo, todos que assumem seu gerenciamento de turno. Daí que, no tempo, só faz baixar a média de aprovação dos governos. Luiz Inácio não demonstra condições de reverter esse quadro, que lhe estreita os espaços de manobra.

Em segundo, as massas básicas, os mais pobres, embora vejam-no como “bom ou ótimo” acima da média geral – e isto se deve ao fato de ele fazer o mínimo que não fora feito pelo celerado Bolsonaro –, também não sentem suas expectativas atendidas, e em função disso, não nutrem o governo com entusiasmo. As massas mais profundas de nosso País já não aceitam ser governadas como antes. Essa é a tendência que mais incrementa o perigo para Luiz Inácio.

Ele bem sabe que deve atuar como bom equilibrista: julgando-se “hábil conciliador”, necessita tanto atender minimamente às expectativas das massas populares para ganhar-lhe confiança – sem o que, não poderia se sustentar – e, ao mesmo tempo, precisa estabelecer uma política que corresponda aos interesses da oligarquia financeira internacional, da grande burguesia e do latifúndio. Se atendesse minimamente as demandas prementes das massas trabalhadoras do campo e da cidade já o lançaria na fogueira em que o “mercado” carboniza e destabiliza qualquer governo, agravaria as contradições no seio de seu governo, perderia o já crítico apoio parlamentar, agravaria a crise institucional e a crise militar, cujos alguns dos expoentes – o Alto Comando das Forças Armadas e a extrema-direita bolsonarista – estão à espreita, para pegar-lhe no pulo. Se atendesse a contento as exigências e compromissos acertados com o grande capital local e internacional e latifundiários, Luiz Inácio cair-se-ia no desmascaramento completo perante as massas, seria a perda total da confiança já frágil que essas ainda guardam com a política oficial, agravar-se-ia a crise social e explosões de revoltas populares, maiores contradições nas bases dos movimentos por ele cooptados e também no seio de seu próprio governo. Ademais de que, como no primeiro caso, também, conduzir-se-ia ao agravamento – sem precedentes – da crise política, institucional e militar. Se falávamos acima que as massas já não aceitam ser governadas como antes, aqui está o outro lado: os reacionários e oportunistas já não conseguem governar como outrora.

A situação em perspectiva é explosiva para este governo e toda a velha ordem. Quanto mais tempo o governo chafurda na crise econômica, mais estreita se tornará sua margem de manobra perante as massas e perante os círculos mais poderosos das classes dominantes; quanto mais rápido busque solucionar tal crise econômica pelo receituário do imperialismo, maior será seu desmascaramento. Ao entrar na situação em perspectiva, para o povo e a nação tudo dependerá da posição e das ações dos democratas e revolucionários.

Lenin, como grande político proletário e maestro no domínio do movimento prático, ao tratar em abril de 1917 sobre o governo encabeçado pelo socialista-revolucionário Kerensky – um governo “democrata”, com fraseologia socialista, que substituiu a autocracia mais tirânica e miserável da Europa –, afirmou: “Há outro método [de manter o povo na opressão]: é o método do engano, da adulação, das frases, das milhões de promessas, das esmolas miseráveis, das concessões nas coisas insignificantes para conservar o essencial. Os chefes da pequena burguesia ensinam o povo a confiar na burguesia. Os proletários devem ensiná-lo a desconfiar”. Esta última é a tarefa, não apenas de propaganda, mas prática, dos democratas verdadeiros e revolucionários consequentes.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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