Morreu, no dia 8 de abril, o artista e designer gráfico suíço Marc Rudin, aos 78 anos. Marc assinou, com o pseudônimo Jihad Mansour, alguns dos cartazes mais impactantes em apoio à causa palestina; trabalho feito enquanto ilustrador oficial e membro da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). O comunicado de seu falecimento foi feito pela própria FPLP.
Combatente internacionalista
Nascido em Berna, na Suíça, mas “palestino de coração”, Rudin radicalizou-se no movimento contra a Guerra do Vietnã no fim dos anos 60 e integrou a organização maoísta francesa Gauche Prolétarienne (Esquerda Proletária), participando das famosas lutas dos operários da Renault.
Foi ativista do protesto popular dos anos 70 na Europa e brigadista do jornal maoísta La Cause du Peuple (A causa do povo), por onde estabeleceu contatos com os Comitês Palestinos na França, que organizavam trabalhadores imigrantes. Já conhecido por suas artes gráficas em defesa da Palestina, foi convidado em 1976 pela Organização pela Libertação da Palestina (OLP) para visitar Beirute, capital do Líbano.
Em 1979, Rudin mudou-se clandestinamente para o Líbano. No mesmo ano, foi incriminado por ações de propaganda armada na Suíça, cujo propósito era responder à tortura de militantes de esquerda na Espanha: em Berna, sua cidade natal, as ações foram realizadas contra a embaixada espanhola e, em Friburgo, contra o banco Imef-Bank, que mantinha relações com a seita reacionária e colaboradora do regime Opus Dei.
Filiando-se à FPLP, integrou a resistência palestina nos campos de refugiados como um “pequeno soldado em uma grande guerra” [1], compondo as trincheiras em Beirute contra a invasão israelense na Guerra do Líbano, em 1982. Como refugiado, migrou para o campo palestino de Yarmouk, na Síria, onde prosseguiu sua militância.
Em 1991, foi detido na fronteira sírio-turca e extraditado para a Dinamarca, onde foi julgado no sensacionalista processo contra o chamado “Grupo de Blekingegade”, pelo qual foi preso político por quatro anos. Em 1997, retornou à Suíça em liberdade condicional, onde viveu, em Zurique, até seus últimos dias.
Ilustrador da luta palestina
A fama de Rudin, todavia, deve-se principalmente a seus pôsteres feitos em colaboração com a FPLP. Vivendo junto às massas palestinas em campos de refugiados no Líbano e na Síria, Rudin produziu mais de 200 cartazes em defesa da causa, além de dezenas de capas do Boletim da FPLP e do periódico internacional Palestina Democrática, tornando-se um dos mais prolíficos e reconhecidos designers pela organização.
Em entrevista sobre uma exposição de seus cartazes [2], Rudin diz que eram produzidos via xilogravura e linogravura por um grupo coletivo de trabalhadores gráficos, com ajuda de custo cedida pela FPLP. Os cartazes, então, eram levados aos campos de refugiados pela Organização da Juventude Palestina “Shabiba”, para serem entregues para decoração das casas ou colados nos muros do território ocupado. Também eram utilizados para a divulgação mundial da luta palestina, impressos em várias línguas e com visível preocupação internacionalista.
Rudin desenvolveu um estilo caracterizado por composições marcantes, geralmente destacadas do fundo, com uso intenso de iconografia e simbolismo recolhido das massas em luta: o vermelho, verde, preto e branco vibrantes preenchem as gravuras de oliveiras, laranjas e lenços (os “keffiyehs”); pedras, estilingues e fuzis. Sobre o uso da iconografia, contou a anedota:
“Em um dos cartazes eu desenhei uma parede com um buraco que fazia a forma da Palestina. Meus camaradas não-palestinos não entenderam a dica de cara, mas quando eu perguntei a um palestino de 50 anos (ele depois foi assassinado no massacre de Sabra e Shatila), que não conseguia ler nem escrever e fazia a guarda de nosso escritório, ele imediatamente disse com orgulho ‘Falestin’” [3].
Legado
As poderosas imagens feitas por Rudin seguem percorrendo o mundo, ilustrando os avanços e retrocessos da luta anti-imperialista do povo palestino. Comentando sobre seu falecimento, o FPLP afirmou que “permanecerá fiel aos seus sacrifícios e levará adiante os princípios pelos quais ele lutou e dedicou sua vida. Seus designs revolucionários permanecerão um testamento vivo da luta de nosso povo e da justiça de sua causa, e seu direito de resistir à ocupação até que a vitória sobre o imperialismo e o sionismo se consolidem”.
Notas:
[1] Retirado de sua entrevista para o Neue Zürcher Zeitung (em alemão).
[2] Pode ser acessada por este link (em inglês).
[3] Idem
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