Acusações e confissões

Nenhum outro país na história teve a permissão de fazê-lo tão impunemente quanto Israel. Para além de Gaza, a entidade sionista atacou o Líbano, a Síria e o consulado iraniano na capital síria, Damasco. As confissões sionistas, em forma de acusações, são suficientes para condenar à lata de lixo da história este réu confesso.

Acusações e confissões

Nenhum outro país na história teve a permissão de fazê-lo tão impunemente quanto Israel. Para além de Gaza, a entidade sionista atacou o Líbano, a Síria e o consulado iraniano na capital síria, Damasco. As confissões sionistas, em forma de acusações, são suficientes para condenar à lata de lixo da história este réu confesso.
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Quatro nações diferentes atacadas em um mês. Nenhum outro país na história teve a permissão de fazê-lo tão impunemente quanto Israel. Para além de sua invasão genocida na Faixa de Gaza, a entidade sionista ataca constantemente o sul do Líbano, a Síria e, no dia primeiro de abril, atacou o consulado iraniano na capital síria, Damasco. Enquanto no caso dos ataques em Gaza e no Líbano a justificativa seria de Israel estar “se defendendo” – mesmo assassinando um número 30 vezes maior de palestinos em relação ao número de israelenses que foram mortos em 7 de outubro -, os ataques na Síria e ao consulado iraniano não angariaram absolutamente nenhuma justificativa por parte dos mais ferrenhos defensores diplomáticos de Israel. De fato, até agora Israel sequer reivindicou – ou negou – a responsabilidade pelo ataque que martirizou o general Mohammad“Ali” Zahedi, figura importante da Guarda Revolucionária Iraniana e da relação iraniana com a Síria e o Hezbollah libanês.

Não surpreendentemente, após muito ameaçar, o Irã finalmente realizou no sábado, dia 13, sua resposta direto a Israel: o primeiro ataque iraniano em território israelense na história. Mais de 300 mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos e drones foram lançados em retaliação ao ataque no consulado. Segundo o Irã, o ataque estaria de acordo com o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, no qual é previsto o “direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas”, e declarou o assunto como encerrado, mas prometendo ações ainda mais drásticas caso Israel insista em responder. Isto é, a resposta ao ataque terrorista no consulado iraniano foi dada, e nenhuma outra ação será tomada ou é necessária. Não que Israel compreenda a lei internacional ou teria intenção de respeitá-la, e já ameaça retaliar ao ataque iraniano, o que causará ainda mais isolamento no regime fomentador de guerra sionista. O próprio ataque terrorista sionista ao consulado iraniano, em si, já é uma quebra grosseira da lei internacional – mais um crime internacional sionista -, considerando a inviolabilidade de instalações diplomáticas, prevista no Artigo 22 da Convenção de Viena.

O Estado sionista de Israel acumula mais um crime em sua ficha, e já faz juras de cometer outros sem nenhuma repercussão de seus patrocinadores “ocidentais” (França, Alemanha, Reino Unido e USA). Estes, por sua vez, se apressaram a condenar a retaliação iraniana, justa e legítima, na reunião emergencial do Conselho de Segurança de ontem (domingo, 14 de abril). Condenações estas que não foram dadas em relação ao ataque terrorista perpetrado por Israel em Damasco, ou mesmo aos flagrantes massacres, pogroms e assassinatos cometidos pelo regime sionista em Gaza e na Cisjordânia. Novamente, e sem surpresas, os regimes imperialistas ocidentais fazem seu papel de defesa ao regime terrorista sionista. A hipocrisia ocidental cresce cada vez mais diante de um genocídio televisionado, filmado ao vivo e em cores por aqueles que o sofrem.

Todo este teatro sionista serve apenas para mascarar seu fracasso retumbante em derrotar a resistência palestina, mesmo assassinando já quase 34 mil palestinos em Gaza. Suas incursões militares criminosas no enclave não renderam os frutos supostamente esperados, uma vez que um movimento de resistência nacional com o caráter do Hamas dificilmente seria derrotado por uma guerra convencional como Israel trava. Se, por um lado, dezenas de milhares de palestinos foram assassinados e dois milhões estão desalojados e deslocados, pouco pode se dizer da eficácia militar sionista contra as forças de resistência armada. As Forças de Ocupação sionistas, em suas alucinações, dizem ter assassinados mais de 10 mil membros do Hamas, o que é fortemente contestado por especialistas e estudiosos, uma vez que Israel tem mostrado sua incapacidade e falta de intenção de diferenciar civis de militantes. Certo é que, não importa a magnitude da carnificina sionista sobre o povo de Gaza, a resistência do povo palestino tem suas raízes fincadas fundo na terra.

Nesse contexto, Israel fomenta uma guerra regional em busca de validação e apoio internacional em meio à sua crescente perda de legitimidade, e o primeiro-ministro sionista Benjamin Netanyahu tenta seus ases na manga para arrastar a região para um conflito maior e, com isso, obrigar uma ação mais concreta dos USA. O governo ianque, entretanto, deixa claro que não tem intenção de ser arrastado para uma guerra regional no Oriente Médio, e busca se manter somente como o fornecedor principal das armas do genocídio. Com a hipocrisia marcante ianque, o enviado estadunidense ao Conselho de Segurança teve a pachorra de dizer que “sempre buscaram a paz na região [do Oriente Médio]”, e apontam para o Irã como responsável pela desestabilização da região.

A ironia das palavras ianques é imensa. Em 1951, o povo iraniano democraticamente elegeu seu primeiro-ministro, Mohammed Mosaddegh. Mosaddegh havia tomado iniciativas relativamente populares para a época, que incluíam um “seguro-desemprego”, “auxílio-doença”, democratização de instituições de ensino e taxação de latifundiários. Mas, sobretudo, Mosaddegh nacionalizou e expropriou a Companhia de Óleo Anglo-Iraniana. Para o imperialismo este passo foi longe demais, e em 1953 os USA, em seu melhor costume, planejaram um golpe de Estado através da Operação Ajax e depuseram Mosaddegh, centralizando todo o poder nas mãos do Xá (rei) Pahlavi, em um governo títere do imperialismo ianque. A monarquia viria a ser deposta pela Revolução Islâmica de 1979, após crescente insatisfação do povo iraniano com a brutalidade, corrupção, opressão e submissão a um governo estrangeiro por parte do governo do Xá. Esta revolução deu o poder à teocracia que atualmente detém o poder no Irã, de forma que sua atual presença no cenário regional e global é diretamente responsabilidade dos USA.

Nenhuma novidade para aqueles mais atentos que lembram que o próprio imperialismo ianque que financiou Osama Bin Laden e sua seita fundamentalista religiosa da Al Qaeda no Afeganistão. Que a destruição total do Iraque pelos USA levou à criação do Estado Islâmico, ressurgindo das cinzas da própria Al Qaeda – cria do imperialismo. Que a ascensão do Estado Islâmico no Iraque e Síria se devem diretamente às ações ianques em ambos os países. A ironia hipócrita de se colocarem como detentores da moral e da paz é marca registrada ianque, e Israel, como bom aprendiz, não deixou passar.

Com sua já clássica verborreia teatral e sua interminável pilha de papéis recheadas de soundbites, o enviado de Israel à ONU, Gilad Erdan, traçou seus paralelos entre o Irã e o regime nazista. Comparou diretamente o Aiatolá Khamenei com Adolf Hitler. Urgiu para que os líderes mundiais tomem ações contra o Irã tal qual os Aliados contra a Alemanha nazista. E, claro, também acusou o Irã de ser o principal desestabilizador da região. A falta de vergonha na cara do diplomata de proferir tais disparates enquanto Israel comete atrocidades jamais vistas em Gaza faria qualquer pessoa séria tremer de desgosto.

“Toda acusação sionista é uma confissão”, diz um ditado popularizado desde outubro do ano passado. Israel e seus asseclas apontam dedos, criam massacres fictícios e história mirabolantes para sua Hasbará convencer ao mundo de sua justeza, enquanto as próprias forças sionistas cometem os atos que acusam os outros de terem cometido. No meio de todo esse turbilhão internacional entre Irã e Israel, colonos sionistas cometem pogroms na Cisjordânia (onde o Hamas não possui presença significativa), assassinam jovens palestinos, queimam vilarejos e sequestram pessoas. Enquanto acusam o Irã e o Hamas de cometerem atos de genocídio, o exército mais imoral do mundo assassinou três jovens também na Cisjordânia, e abriu fogo contra milhares de palestinos refugiados que tentavam retornar às suas casas em Gaza. Enquanto os mísseis e drones iranianos sequer causaram danos relevantes a civis, sendo disparados exclusivamente contra alvos militares, os bombardeios sionistas já assassinaram ao menos sessenta e oito palestinos no Campo de Concentração chamado de Faixa de Gaza nas últimas 24 horas, especialmente no campo de refugiados de Nuseirat, numa região demarcada pelo exército sionista como “zona segura” para refugiados evacuarem.

Toda acusação sionista é uma confissão. Israel é a maior força desestabilizadora do Oriente Médio, e seu patrão, padrinho e patrono, os USA, a maior força desestabilizadora do globo. A legítima retaliação iraniana ao ataque terrorista sionista em território sírio deve ser defendida, e deve deixar claro que é chegada a hora de o Estado terrorista de Israel sofrer repercussões pelas suas transgressões criminosas. É chegada a hora da impunidade sionista encontrar seu fim. O diplomata israelense na ONU, Gilad Erdan disse que “a máscara do Irã caiu” neste primeiro ataque iraniano diretamente a Israel. Mas a máscara que pende debilmente do rosto sionista colocou à mostra sua horrível carcaça genocida ao mundo inteiro. As confissões sionistas, em forma de suas acusações, são suficientes para condenar à lata de lixo da história este réu confesso.


Este texto expressa a opinião do autor.

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