BA: Em greve, técnicos administrativos em educação da Bahia exigem reestruturação da carreira

Profissionais exigem reestruturação da carreira, recomposição salarial e recomposição orçamentária das universidades.

BA: Em greve, técnicos administrativos em educação da Bahia exigem reestruturação da carreira

Profissionais exigem reestruturação da carreira, recomposição salarial e recomposição orçamentária das universidades.
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Desde o dia 11 de março, servidores Técnicos-Administrativos em Educação (TAEs) de Salvador deflagraram greve por tempo indeterminado exigindo reestruturação da carreira, recomposição salarial e a recomposição orçamentária das universidades. Estima-se que atualmente servidores de mais de 30 universidades já aderiram ao movimento grevista.

Com os salários congelados há sete anos, os trabalhadores denunciam o alto índice de evasão da carreira que, segundo o Plano de Carreiras dos Cargos Técnicos-Administrativos em Educação (PCCTAE), em 2022, já supera a taxa de 70%, indicativo de que, diante da desvalorização e falta de atratividade da carreira, o PCCTAE é visto como um “trampolim” para outras carreiras no executivo federal, resultando assim na precarização do serviço público e no acúmulo de funções.

Contradizendo a fala do Presidente Luíz Inácio (PT) sobre o movimento grevista de que “em seu governo os profissionais poderiam ‘fazer uma grevezinha’”, os trabalhadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) denunciaram que a Instrução Normativa 54/2021, mantida desde o governo de Bolsonaro, está sendo utilizada pelo Reitor da UFPB para reprimir a categoria com o corte de ponto.

Durante a greve nacional, os TAE’s de Salvador estão cumprindo com uma agenda de mobilizações exigindo direitos. No dia 11 de março, a categoria realizou um protesto em frente à Reitoria da UFBA, percorrendo até a praça da Piedade, e se unindo aos estudantes para exigir maiores investimentos na educação diante dos recentes cortes e pela reestruturação do PCCTAE. Em outros dias, realizaram ainda panfletagens e reuniões.

Já na última sexta-feira, dia 22 de março, os trabalhadores realizaram um protesto na UFBA campus Ondina e ocuparam a praça das artes, distribuindo panfletos e realizando denúncias aos estudantes sobre a desvalorização da categoria. A manifestação foi realizada em conjunto com os docentes da Universidade que também paralisaram suas atividades exigindo reajuste salarial e pela recomposição orçamentária. Os docentes se encontram em “estado permanente de mobilização”, pressionando assim as negociações acerca da defasagem salarial da categoria.

A categoria denunciou ainda que na manhã do mesmo dia havia sido anunciado o bloqueio de R$ 2,9 milhões no orçamento em gastos discricionários. Os recentes cortes no orçamento das diversas áreas são necessários para o governo atender aos interesses do imperialismo e das classes dominantes locais em cumprir o novo teto de gastos, o arcabouço fiscal, e a meta de déficit fiscal zero.

O correspondente local do AND esteve presente no protesto do dia 22 de março, realizando a cobertura e uma entrevista com uma servidora técnico-administrativa.


Confira abaixo a entrevista na íntegra:

A Nova Democracia (AND): Nós verificamos que uma das pautas principais do ato é o reajuste salarial, como vocês avaliam a valorização dos técnicos administrativos na Rede Federal?

Resposta (R): A questão do reajuste é que de acordo com a nossa demanda e considerando as demais carreiras do executivo Federal nós somos quem menos recebe. De Temer pra cá, foram mais de 30% de perda salarial por conta do aumento da inflação. Então, entendemos que esse é o momento. No governo anterior, queria-se acabar abertamente com as universidades, nesse ao menos acreditamos que há a possibilidade de diálogo. E há muito tempo que os sindicatos já têm tentado sensibilizar a gestão central sobre a importância da carreira, mas eles não reconhecem muitas coisas que a gente faz enquanto servidores, não reconhecem que fazemos pesquisa e extensão. Tem isso também. Há uma defasagem com relação as outras carreiras e também um desconhecimento do alcance do nosso trabalho. 

AND: Nós também tivemos acesso a informação de que a taxa de evasão da carreira está em torno de 70% e devido a isso há denúncias em torno do acúmulo de funções e consequente desmotivação, poderiam falar um pouco mais sobre isso?

R: Existe esse dado que você trouxe e também uma peculiaridade da carreira administrativa de nível médio: muitos servidores usam esse concurso como um “concurso-meio” que não é o principal objetivo. Passam para garantir uma renda enquanto paralelo a isso estão focados em outros concursos de carreira melhor, justamente por ser uma carreira que não é atrativa. É a que tem a pior remuneração do executivo. 

AND: Nesse sentido, verificamos que o anúncio dos novos institutos federais, como vocês avaliam isso no cenário de tamanha desvalorização da profissão? 

R: É um ponto que devemos acompanhar. Porque em tese é bom ter mais IF, mas em contrapartida os que existem estão em condição de precariedade estrutural. Se você vai no de camaçari, é mato alto, é estrutura defasada. Então é isso, tudo é conquista, nada é dado. Ao mesmo tempo que pode ser bom, pode ser um avanço. Devemos acompanhar, pois pode-se “construir por construir” o equipamento e não manter. Então é acompanhar e lutar o tempo todo.

AND: Também é pauta da greve a recomposição orçamentária das universidades e institutos federais, nós já denunciamos em nosso portal inclusive um caso sobre a crise das residências universitárias, poderiam falar um pouco mais sobre esse tema? Como isso afeta as condições de trabalho para a categoria? 

R: Tudo é interligado. Devem ter políticas afirmativas que possibilitem a permanência dos estudantes da UFBA. Então, um orçamento defasado, correspondente ao orçamento, se não me engano, de 2016, onde houve aumento de custos desde lá, isso inviabiliza o objetivo fim da Universidade.

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