Editorial semanal – Latifúndio avança com silêncio cúmplice

Esta semana, 2 denúncias vieram à tona: o assassinato de dois camponeses pobres em Humaitá, Amazonas, e uma operação conjunta de pistoleiros e PM para expulsar trabalhadores de um acampamento em Cujubim, Rondônia. Ambos os eventos evidenciam o recrudescimento da luta pela terra.

Editorial semanal – Latifúndio avança com silêncio cúmplice

Esta semana, 2 denúncias vieram à tona: o assassinato de dois camponeses pobres em Humaitá, Amazonas, e uma operação conjunta de pistoleiros e PM para expulsar trabalhadores de um acampamento em Cujubim, Rondônia. Ambos os eventos evidenciam o recrudescimento da luta pela terra.
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Vieram a público, nesta semana, duas denúncias: a primeira, a execução brutal de um casal de camponeses pobres em um distrito rural de Humaitá (Amazonas, próximo à divisa com o extremo norte de RO); a segunda, a operação coordenada de pistoleiros e PM para expulsar e prender trabalhadores em acampamento recém-construído em Cujubim (nordeste de Rondônia). Ambas mostram o recrudescimento da luta pela terra.

Quanto ao primeiro caso, o casal foi identificado por latifundiários locais, em grupos de WhatsApp, como militantes da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de RO que estariam no sul do AM para apoiar tomadas de terras. Ambos morreram em casa, da forma mais brutal. Cleide, a esposa, foi executada com cinco tiros no peito. Já quanto ao segundo, a denúncia, também da LCP, é de que os latifundiários organizaram uma tropa com mais de 60 paramilitares para assaltar o acampamento, seguidos por patrulhas policiais que executaram a detenção de 25 camponeses. As suas motos e demais pertences foram destruídos com fogo e os barracos arrasados.

O que chama a atenção não é a ocorrência de crimes brutais do latifúndio. Este, como na fábula do escorpião e do sapo, está seguindo a sua natureza e não se pode esperar outra coisa. No entanto, o silêncio cúmplice da falsa esquerda converge com o dos monopólios de imprensa: estes visam ocultar o crime e, quando repercutem, é para acusar as organizações camponesas e os defensores de sua luta.

O governo de turno foi eleito porque prometeu consertar os “retrocessos bolsonaristas” e outros “mundos e fundos”. Ato contínuo, deu o Ministério da Agricultura a Carlos Fávaro, cujas relações pessoais com notórios bolsonaristas não é segredo para ninguém, e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (supostamente responsável pela “reforma agrária”) para Paulo Teixeira, o homem que prometeu não ser “leniente” com as “invasões” de latifúndios. Enquanto isso, o governo cada vez mais põe centralidade ao “agronegócio” na economia nacional, com um Plano Safra de R$ 364,2 bilhões, um recorde 26% maior do que Bolsonaro dera no ano anterior. Por fim, agora, sem um grito sequer de protesto do governo, ainda que demagógico, está sendo realizado o maior roubo de terras dos povos originários da história através de mais ato de ignomínia contra estes com o “Marco temporal”. O que mais falta para os latifundiários levarem?

Não é sem razão, portanto, que o silêncio cúmplice seja a resposta. O partido e o líder que preside esse governo de turno obtiveram sua popularidade prometendo, por longos anos, aos milhões de camponeses, fazer a reforma agrária, inclusive tendo sido assassinados dezenas de lutadores do campo por estes terem organizado ali o PT; agora, ironicamente, seu governo depende dos latifundiários como a criança depende dos pais. Os latifundiários, esses heróis do agronegócio, são os donos da festa e, portanto, escolhem a música, a dança e a comida. A posição de Luiz Inácio não é a de um chefe de governo inexperiente, que se vê nessa posição e busca sair dela; ele está na posição de um político experimentado, que sabe exatamente como funcionam as coisas e as acata, porque as considera corretas no fundamental, pois suas diferenças são apenas nuances.

Nesta semana, após tais denúncias, a LCP fez um chamado para que os camponeses armem grupos de autodefesa para resistir aos ataques dos bandos armados do latifúndio. O governo não fará nada para deter os crimes do latifúndio. Por sua vez, e apesar da criminalização e difamação de sua luta por esse governo, os camponeses saberão combater sem tréguas aqueles parasitas da Nação e suas hordas de assassinos a soldo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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