MS: Após mais de duas semanas sem água, Guarani-Kaiowá de Sassoró trancam rodovia em protesto

Os indígenas bloquearam a rodovia MS-295, um dos principais caminhos para o Sul do Brasil e importante rota de escoamento de grãos do latifúndio.

MS: Após mais de duas semanas sem água, Guarani-Kaiowá de Sassoró trancam rodovia em protesto

Os indígenas bloquearam a rodovia MS-295, um dos principais caminhos para o Sul do Brasil e importante rota de escoamento de grãos do latifúndio.
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No dia 5 de março, os Guarani-Kaiowá da Terra Indígena (TI) Sassoró, da cidade de Tacuru, Mato Grosso do Sul, trancaram a rodovia MS-295 em protesto pela falta de água que já atingia o local há 16 dias consecutivos. A comunidade, com mais de 2,2 mil habitantes, bloqueou a via que dá acesso a Iguatemi e é um dos principais caminhos para o Sul do Brasil e importante rota de escoamento de grãos do latifúndio. Com o combativo trancamento, um técnico do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de MS foi ao local afirmando que será realizado um levantamento para investigar a questão. Os manifestantes deram um prazo de 15 dias para que o problema seja resolvido. Caso contrário, estão dispostos a realizarem novas ações de protesto.

Enquanto falta água para os Guarani-Kaiowá, sobram promessas do governador pró-latifúndio Eduardo Riedel (PSDB), que esteve na cidade de Tacuru no dia 04/03. O anúncio de R$ 17,9 milhões em infraestrutura e educação para o município não contemplou um real sequer para os povos indígenas dali. Descaradamente, Riedel se sentava ao lado do prefeito Rogério Torquetti (Patriota) e da Câmara Municipal de Tacuru para anunciar a “universalização do serviço” de saneamento básico. O prefeito afirmou que as verbas foram para “projetos prioritários”, mas nada foi feito com o caminhão-pipa que recentemente parou de circular por problemas mecânicos e ajudava no abastecimento da aldeia – distante 35km da sede do município.

Um dos cartazes se endereçava ao secretário de saúde indígena do Ministério da Saúde de Luiz Inácio. Foto: A Gazeta News

O problema, expressão do caráter burocrático-latifundiário do velho Estado brasileiro, é difundido no estado. Há pouco menos de dois meses, em Dourados – cidade a 200 km de Tacuru – os habitantes das aldeias Jaguapiru e Bororó também bloquearam uma rodovia devido à falta de água. Enquanto outras aldeias no estado relatam a mesma situação, o governo do estado anunciou, no final de fevereiro, em seu sítio oficial, que “aguarda posição da União para encaminhar solução ao desabastecimento de água nas aldeias”. É a clássica posição das classes dominantes, que jogam suas responsabilidades uns para os outros. Não que o governo de Luiz Inácio não tenha responsabilidade sobre isso. Pelo contrário, o seu “viés privatista” na área de saúde indígena, conforme denunciou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), certamente tem parte nisso. Inclusive, os indígenas sabem disso e alguns cartazes citavam Weibe Tapeba, o secretário de saúde indígena do Ministério da Saúde.

Poucos dias antes do bloqueio da rodovia, outros dados se somavam ao problema da falta de água. Segundo o monopólio local Midiamax, a partir de dados do Censo 2022, 27 mil indígenas no MS sequer têm banheiro – por vezes, usando apenas um buraco no chão ou apenas com o sanitário – e outros 12,5 mil compartilhavam banheiros de uso comum para várias casas. Entre as “situações críticas” averiguadas pelo jornal, inclusive, está a cidade de Tacuru, que, ao lado de Japorã e Paranhos, tem mais de 20% da população indígena do município com falta de banheiros. Essa situação do saneamento básico dos indígenas, porém, é só mais um agravante do problema mais amplo de falta de acesso à terra. Afinal, os indígenas de Sassoró não usufruem completamente dos hectares demarcados para eles e ainda recebem moradores de outros territórios, como os indígenas que são expulsos de seus tekoha, a exemplo de Pyelito Kue, na cidade vizinha, em que há com um conflito escancarado desde o ano passado.

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