Animais humanos encurralados. Pais de família desesperados. Mães e avós desconsoladas. Filhos dos filhos dos exilados. Herdeiros de tantas guerras por escombros soterrados. Animais humanos os condenados da terra. Flagelados pelos mísseis, degredados pela guerra. Não aceitam a derrota, não entregam suas terras. Suas mulheres e crianças são os alvos ideais: tanto morrem mas não se esvaem, se reproduzem demais. Suas peles tem a tez muito escura para ter vez nessa terra do oriente que se pretende ocidente. E ocidente não é lugar para humanos animais, onde a civilidade reina sob a belicosa paz. Humanos não animais não aceitam a barbárie. Se a incivilidade Impera em um país (ainda mais se há petróleo) cabe à civilização invadir e ocupar, massacrar e destruir, aprisionar e fuzilar, bombardear e demolir, espancar, apedrejar humilhar, crucificar, torturar para garantir a imperiosa PAX. Humanos não animais em sua cruzada sagrada, de combate ao terror não matam pelo varejo nem compadecem da dor. Não sucumbem ao desejo de ver como seus iguais àqueles terroristas, os humanos animais. Os humanos de verdade matam por motivo nobre: democracia e civilidade, guerreiam contra a pobreza destruindo com ela o pobre. Com seus coturnos veganos arrombam portas de casas, profanam as mesquitas dessacram os seus decanos. Aprisionam crianças torturam adolescentes. Às mulheres, mães de família, vêm trazer a liberdade abolir a lei da Sharia semear diversidade. Diversidade de bombas que matam com igualdade. Atentados à bomba são atos de animais. Os humanos de fato não praticam terrorismo (tal palavra controversa carregada de cinismo). Os animais humanos se abate no atacado, em massa, industrialmente, como se chacina o gado. Verdadeiros seres humanos matam com modernidade, com o aperto de um botão. Com bombardeio cirúrgico ou arrasa quarteirão. Campas de refugiados, cercos expiatórios, jejuns obrigatórios para pagar o pecado da audácia de existir o crime imperdoável de nascer atrevidamente nesta terra prometida por YHWH ao ocidente. O homem virtuoso ao contrário do barbário, do outro, do diferente, mata criteriosamente com método rigoroso. Os humanos animais, os trata enquanto tais: os mata sem piedade com impessoalidade em escalas industriais. Os condena ao degredo trancados dentro de um gueto, atrás do arame farpado, em campos amontoados trajando pijamas listrados numa câmara de gás.