Crônica: ‘O futebol mudou’

Mas já não se fazem, no Brasil, Sócrates ou Saldanhas. É difícil até mesmo achar um jogador de futebol no meio dos garotos propaganda, investidores e mercenários de roupa esportiva. Os clubes são sucursais de casas de aposta. E o futebol mudou, a grande custo. 

Crônica: ‘O futebol mudou’

Mas já não se fazem, no Brasil, Sócrates ou Saldanhas. É difícil até mesmo achar um jogador de futebol no meio dos garotos propaganda, investidores e mercenários de roupa esportiva. Os clubes são sucursais de casas de aposta. E o futebol mudou, a grande custo. 
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“O futebol mudou”, eu disse. Poderia ser apenas uma constatação de fatos. Se fosse, seria ambígua. Mudou como? Mudou muito? Mudou pouco? Onde mudou? Felizmente, não tenho que responder nada disso. Me basta pagar alguns euros ao francês (tenho de chamá-lo assim, não possuo dinheiro suficiente na conta para chamá-lo pelo nome) e a frase adquire já um sentido completo, quase místico. 

A quem não sabe ainda, explico. Depois do seguro de 35 milhões de dólares das pernas de Beckham (35 milhões cada!), coube ao francês – esse mesmo que está pensando, o futuro ex-dono do PSG – a tarefa de dar prosseguimento aos espalhafatos dos desportistas, o que fez sem reservas. 

O francês entrou no Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia, registrou seu nome, suas iniciais, sua comemoração e duas frases, que agora deixaram de pertencer à antiga língua franca e tornaram-se sua posse privada – uma delas a desafiadora constatação de que “o futebol mudou”. Assim, depois das pernas de 35 milhões (cada!) de Beckham, é a vez de nos acostumarmos com a ideia de que ou se convenciona que o futebol é o mesmo ou teremos de pagar royalties

A questão central, porém, é que agora a Fifa terá de dar explicações, ela que anda, como o francês comemora os gols, de braços cruzados enquanto quase uma centena de jogadores e outros profissionais do futebol já foram mortos em Gaza pelos genocidas do Estado sionista, incluindo um de seus próprios árbitros, no dia 22 de fevereiro. A Fifa nada fez e nem ao menos comentou a carta assinada por 12 federações de futebol pedindo a exclusão da seleção sionista e dos clubes sionistas de competições..

A Fifa é uma inutilidade, é uma brincadeira de péssimo gosto, é o imperialismo dos gramados e a miséria do futebol. Os brasileiros não precisam de explicação, sabem bem disso, conhecedores que são do “padrão Fifa”. 

O dr. Sócrates, grande homem, teria feito 70 anos no 19 de fevereiro. Infelizmente, morreu no mesmo dia em que o seu Corinthians conseguiu chegar ao pentacampeonato do Brasileirão. Me pergunto o que ele, campeão da Democracia Corinthiana, diria agora dessa podre corporação Fifa. Ele e o também finado João Saldanha, o João Sem Medo. 

Mas já não se fazem, no Brasil, Sócrates ou Saldanhas. É difícil até mesmo achar um jogador de futebol no meio dos garotos propaganda, investidores e mercenários de roupa esportiva. Os clubes são sucursais de casas de aposta. E o futebol mudou, a grande custo. 


Este texto expressa a opinião do autor.

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