Daniel Noboa dá sinal verde para intervenção ianque no Equador

O presidente do Equador, Daniel Noboa, acatou as ordens do USA para uma intervenção direta no país. Militares e funcionários do alto escalão ianque já passaram ou estão no Equador esse ano.

Daniel Noboa dá sinal verde para intervenção ianque no Equador

O presidente do Equador, Daniel Noboa, acatou as ordens do USA para uma intervenção direta no país. Militares e funcionários do alto escalão ianque já passaram ou estão no Equador esse ano.
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“Eu aceitaria de bom grado a cooperação do Estados Unidos. Precisamos de equipamento, precisamos de armas, precisamos de [serviços de] inteligência”. Foi com essa declaração, dada no dia 17 de janeiro ao jornal monopolista norte-americano CNN, que Daniel Noboa acatou de forma servil às pressões do Estados Unidos (USA) para uma intervenção imperialista no país latino-americano. O USA está há semanas elevando a coerção para uma entrada no país, e já enviou diversos funcionários civis e militares de alto escalão para intervir na política equatoriana.

Na semana do dia 11/01, o USA anunciou que enviaria a chefe do Comando Sul, general Laura Richardson, e outros funcionários de alto escalão ao Equador para uma reunião com Noboa. O Comando Sul do USA é um dos órgãos centrais de empreendimento de missões, visitas, reuniões e treinamentos militares de caráter intervencionista da superpotência norte-americana no subcontinente latino-americano. 

Além de Richardson, foram ao Equador o subsecretário do Escritório Internacional de Narcóticos e Aplicação da Lei, Todd Robinson, e um alto funcionário do Departamento de Estado para a América Latina, Kevin Sullivan. No mesmo anúncio, o USA afirmou que enviaria policiais ianques e outros integrantes do Estado imperialista nas “próximas semanas”. 

Os movimentos imperialistas do USA contra o Equador aumentaram desde o início do ano, usando como pretexto (falso) os conflitos que estouraram no país governado por Noboa entre as tropas do Estado e grupos desorganizados de narcotraficantes, financiados pelo próprio USA e classes dominantes do Equador. 

Apesar da “justificativa” oficial, o interesse político amplo por trás da intervenção ficou claro desde os princípios. No comunicado disponibilizado pelo USA, os imperialistas deixaram claro que as investigações e forças repressivas atuariam contra quaisquer “indivíduos ou organizações que participam em atividades criminais e solapam o Estado de Direito” (e todos que forem julgados assim pelos ianques ou reacionários do Equador).

Esse caráter da intervenção foi denunciado de imediato por organizações revolucionárias do país. O Partido Comunista do Equador – Sol Vermelho (PCE-SR, na sigla em espanhol) fundamentou que “é muito óbvio que a violência insana das gangues tem sido estimulada pelos ‘agentes’ do imperialismo para criar um ambiente de caos, uma crise generalizada para que, num determinado momento, surjam com “soluções oportunas”, se mostrem necessárias e até essencial para a subsistência do Estado. A DEA e a CIA não fizeram isso em El Salvador?”, questionaram, referindo-se ao fomento de atos de violência reacionária em El Salvador pelo USA no final do século passado que ajudaram o país centro-americano a tornar-se um bastião de dominação ianque.

Estado mais reacionário

Objetivamente, a crise no Equador fomentada pelo USA vem sendo usada tanto pelo imperialismo quanto pelas classes dominantes locais para aprofundar a repressão sobre o povo e aprovar medidas econômicas que antes foram rejeitadas pelas massas. 

Um estado de exceção foi decretado logo no primeiro dia da crise, e a situação ficou ainda pior depois de uma suposta invasão de narcotraficantes a uma rede de televisão do país no dia 09/01. Depois da invasão, Noboa decretou oficialmente uma situação de “conflito interno” no país, apesar do caráter dos cartéis passar longe de um grupo organizado beligerante com objetivos políticos que ameace o Estado equatoriano.

Organizações equatorianas denunciaram a invasão como digna de suspeitas, dado o uso de armas rudimentares pelos narcotraficantes e a falta de exigências e declarações por parte dos que invadiram. O promotor que investigava o caso, e que também era envolvido na investigação de corrupção dentro da polícia, foi assassinado por homens encapuzados no dia 17 de janeiro.

Claro que nada disso foi levado em conta por Noboa, que para garantir a aplicação máxima das medidas, ainda deu um “indulto prévio” aos militares reacionários que atuam no país, inocentando-os dos crimes cometidos, seja contra os membros dos cartéis, seja contra o resto do povo

Na última semana, ainda sob a justificativa de “robustecer a segurança pública”, Noboa aprovou o corte de subsídios nos combustíveis, um aumento no IVA e outras medidas econômicas. O cancelamento da tentativa de corte dos subsídios foi uma das pautas centrais da grande rebelião popular que incendiou o país nos anos de 2019-20.

Mas os revolucionários do país enxergam exatamente o que está por trás das medidas repressivas e econômicas justificadas no falso pretexto da guerra aos cartéis. O PCE-SR denunciou na nota citada acima que “com a declaração do conflito armado interno, o fascista colocou o nosso povo em quarentena, reactivou o papel das Forças Armadas e da polícia, tendo como objectivo central, reavivar o capitalismo burocrático que esteve em crise nas últimas décadas”. 

USA sustenta e se sustenta do narcotráfico

Toda essa escalada da reacionarização contou com um grande aparato de contrapropaganda sensacionalista de todo o monopólio da imprensa e do próprio Estado para justificar a implementação de medidas arbitrárias enquanto o apoio militar e financeiro do velho Estado e do imperialismo norte-americano aos cartéis era escondido.

Para o já citado PCE-SR, esses vínculos são claros, e ocupam todos os escalões do velho Estado e das grandes empresas imperialistas. “É claro que os componentes superiores das estruturas criminosas são geridos por generais da polícia, oficiais superiores das Forças Armadas; têm fortes laços com o aparelho de Estado através de presidentes, vice-presidentes, deputados, procuradores, proprietários de grandes empresas, sociedades financeiras, bancos; operadores portuários públicos e privados; ou seja, uma contaminação tal que se tornem uma nova variante da burguesia burocrática que, através da estrutura estatal, pode traficar, lavar o seu dinheiro e institucionalizar-se nos sectores público e privado”, afirmou a organização em comunicado.

A extensão dos vínculos é de fato tão extensa e profunda quanto os revolucionários narram. No Equador, o narcotráfico participa diretamente na economia pela lavagem de dinheiro, que beneficia tanto o velho Estado corrupto quanto o USA. Desde o início dos anos 2000, a economia equatoriana é totalmente dolarizada. O narcotráfico atua no Equador sobretudo no ramo da exportação, e tem acesso a milhões de dólares que o velho Estado precisa para tocar suas transações financeiras e abastecer a economia subjugada. Assim, o dinheiro é lavado nos diversos ramos da economia equatoriana com consenso do Estado, que usa os dólares para pagar os empréstimos, importações e dívida externa contraídas com o USA. Atualmente, 3% do PIB do Equador vem da exportação de drogas.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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