Editorial semanal – Exército e governo devem explicações sobre 8 de janeiro

As novas imagens divulgadas com exclusividade sobre a segunda bolsonarada, de 8 de janeiro, produziram um resultado curioso. Simultaneamente, duas forças distintas se ressabiaram pela sua divulgação: o Alto Comando das Forças Armadas e o governo.

Editorial semanal – Exército e governo devem explicações sobre 8 de janeiro

As novas imagens divulgadas com exclusividade sobre a segunda bolsonarada, de 8 de janeiro, produziram um resultado curioso. Simultaneamente, duas forças distintas se ressabiaram pela sua divulgação: o Alto Comando das Forças Armadas e o governo.
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As novas imagens divulgadas com exclusividade sobre a segunda bolsonarada, de 8 de janeiro, produziram um resultado curioso. Simultaneamente, duas forças distintas se ressabiaram pela sua divulgação: o Alto Comando das Forças Armadas, temente de que as investigações subsequentes revelem ainda mais evidências, já abundantes, de sua responsabilidade naquele assalto; e o próprio governo, que bloqueou de todas as formas a instauração da CPMI do 8 de janeiro, produzindo, na opinião pública, suspeitas de quem tem algo a esconder.

As novas imagens são escandalosas. O general Gonçalves Dias, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) – órgão pretensamente destinado a evitar, justamente, um ataque às sedes dos poderes – é flagrado no prédio assessorando os galinhas verdes a encontrar saídas de emergência quando do cerco aos invasores. O general e um major do Exército (José Eduardo Natale de Paula Pereira) então lotados no GSI são flagrados conversando com os golpistas.

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O major Natale, em particular, não se conteve em seu ímpeto de cortesia e chegou a servir água, cumprimentou e conversando de boca a ouvido com a súcia anticomunista. Enquanto os golpistas de alto coturno exalam morosidade para com a horda fascista, esta última destrói tudo o que vê pela frente.

Soma-se a isso suspeitíssimos acontecimentos, já de conhecimento geral, tais como a dispensa de 36 soldados do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) 20 horas antes do ocorrido, deixando ali um contingente pequeno portando armas de guerra como fuzis, tudo sob ordens do próprio general G. Dias, a despeito dos alertas feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Assim como, o gravíssimo episódio em que o Comandante Militar do Planalto recusou-se a desmontar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e chegou a ameaçar o interventor então nomeado por Luiz Inácio e o comandante-geral da PM do DF: “Eu acho que eu tenho um pouco mais de tropas que o senhor, não é, coronel?”, ameaçou ele, que chegou a gritar com dedo em riste com autoridades do governo.

Inegavelmente, as hostes de galinhas verdes bolsonaristas foram usadas pelo Alto Comando das Forças Armadas para promover a baderna e dar recado ao novo governo de quem de fato manda; os generais manobraram tanto com permissão e ajuda na montagem e manutenção dos acampamentos, quanto com as declarações ambíguas e permissivas ao questionamento do resultado das eleições. Fatos que se constituíram em combustível político para a extrema-direita, cujo obstinado chefe, após perder a disputa interna no Alto Comando por impedir a posse do eleito, nutria esperanças de que, com o caos, imporia ao mesmo Alto Comando um cabo de guerra por desfechar de vez a intervenção militar total. Apenas os tolos e os patetas podem crer ter se tratado de insubordinações pontuais, ou mesmo, alteráveis com simples modificações nos postos. E o presidente Luiz Inácio, então, agiu como um tolo ou uma raposa, como um pateta ou como um velhaco? O fato é que tal ação do Alto Comando é o resultado necessário de sua intervenção militar, posta em marcha em 2015 e avançando por aproximações sucessivas e aparentes recuos, a depender da gravidade da crise geral do velho Estado, do capitalismo burocrático e do imperialismo, assim como pelo perigo de sublevação popular.

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Por outro lado, qual a razão de o governo, que fora fustigado nesse episódio, ter se recusado veementemente a investigar o ocorrido? Em primeiro lugar, é estranho que o governo não tenha feito nenhum preparativo sério e amiúde para se defender daquele ataque, uma vez que recebeu alertas sistemáticos da Abin – alertas inclusive direcionados ao Flávio Dino, hoje, o mais “radical” no palavreado contra os golpistas, pois em atitude o que poderia ter feito para evitar o ocorrido, não o fez. Por quê? Teria prevaricado frente à invasão para tentar “queimar” o bolsonarismo e os generais na opinião pública? Se assim foi, está subestimando perigosamente a gravidade da situação política nacional e internacional, fiando-se em que um golpe de Estado não é possível nas condições de hoje. Se assim persistir, o governo cairá do cavalo mais cedo do que pensa. E por quê não incentivou as investigações? Para apaziguar com os generais e, logo, com sua tutela sobre o governo? A Nação ainda carece de explicações, tem direito a elas e as exige.

A época histórica na qual vivemos não é a da democracia e da paz mundial, mas da tendência à violência e à reação em toda linha, como reflexo da crise geral de decomposição do imperialismo, seu estado terminal que só guerras, miséria, doenças e padecimentos para a humanidade conduz. Como fera ferida, a reação já se debate em violentas pugnas internas por salvar seu sistema de exploração através de novo reparto mundial, que aponta para nova e terceira guerra, atentando contra as liberdades democráticas, quer eliminando-as gradualmente no regime “democrático”, quer negando-as pela via do fascismo. Os generais golpistas e o bolsonarismo são duas expressões desse embate em nosso País, com os quais – em última instância – conciliam os “democratas” de ocasião, porque comungam os mesmos interesses de classe. A defesa dos direitos democráticos recai sobre os ombros das classes revolucionárias, sobretudo dos operários, camponeses e pequena burguesia urbana. Mais que nunca, têm validez as palavras do grande Dimitrov: “Nós somos partidários da democracia soviética, a democracia dos trabalhadores, a democracia mais consequente do mundo. Porém defendemos e seguiremos defendendo nos países capitalistas, palmo a palmo, as liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o fascismo e a reação burguesa, pois assim o exigem os interesses da luta de classes do proletariado”.

Somente o levantamento revolucionários das massas populares pode deter o fascismo; só a revolução democrática que ponha fim a este putrefato sistema de exploração e opressão de grandes burgueses e latifundiários, serviçais do imperialismo, principalmente norte-americano (ianque) pode conquistar e assegurar a Nova Democracia e o Brasil Novo.

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Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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